Tableaux Semânticos na Lógica Proposicional
Um tableaux semântico na Lógica Proposicional é uma sequência de fórmulas construída de acordo com certas regras e geralmente apresenta a forma de uma árvore. Os elementos básicos que compõem esta árvore são definidos a seguir.
Definição (elementos básicos de um tableaux semântico)
Os elementos básicos de um tableaux semântico na Lógica Proposicional são definidos pela composição dos elementos:
O alfabeto da Lógica Proposicional;
O conjunto das fórmulas da Lógica Proposicional
Um conjunto de regras de dedução.
O tableau semântico contém apenas regras de dedução, que definem o mecanismo de inferência, permitindo a dedução de conhecimento. As regras são definidas a seguir.
Definição (regras de inferência do tableaux semântico)
Sejam A e B duas fórmulas da Lógica Proposicional. As regras de inferência do tableau semântico na Lógica Proposicional são R1, …, R9 indicadas a seguir.
O método de prova nos tableaux é feita utilizando o método da negação ou absurdo. Assim, para provar uma fórmula A, é considerada inicialmente a sua negação ¬A. Em seguida, o tableaux semântico associado a ¬A é construído. Devido a este fato, tal sistema também é denominado como um sistema de refutação. O tableau semântico é construído a partir de ¬A utilizando as regras de dedução, cuja aplicação decompõe a fórmula ¬A em subfórmulas.
E o que estas regras dizem? O entendimento de cada uma destas inferências derivadas de proposições lógicas são a base para o domínio do método. Então vamos analisar cada uma das regras.
O significado da regra R1.
Na montagem da árvore semântica o método a regra R1 diz que devemos fazer a seguinte operação:
Quando encontramos a proposição A∧B (A e B), devemos escrever logo abaixo o A e depois, em outra linha o B. Esta forma de escrita traduz o significado semântico, ou seja, dada a fórmula A∧B, deduzimos A e B. Detalhando, se A∧B = V então se deduz o valor lógico de A e B.
O significado da regra R2.
Na montagem da árvore semântica o método a regra R2 diz que devemos fazer a seguinte operação:
Ao se encontrar a operação A∨B (A ou B), deve-se derivar para uma operação que coloca A e B na linha abaixo da operação lógica de disjunção, com setas partindo do operador ∨. Isso é a representação de disjunção na árvore que levará a solução do problema, esta simbologia mostra que se A∨B = V então é possível achar o valor de A ou B. É importante salientar que é possível que A e B sejam verdadeiros, visto que, a disjunção que se está tratando aqui não é a disjunção exclusiva.
O significado da regra R3.
Na montagem da árvore semântica o método a regra R3 diz que devemos fazer a seguinte operação:
A proposição A→B (A implica B) deve ser traduzida para a árvore semântica da seguinte forma, a partir do sinal de implicação → se desenha duas setas apontando para linha abaixo da preposição lógica de implicação, escreve-se abaixo destas setas ¬A(não A) e B. Novamente temos o sinal que representa a disjunção na árvore semântica, e o motivo disso é que na proposição A→B = V pode-se deduzir ¬A ou B, pois tendo A→B = V, ou ¬A = V ou B = V.
O significado da regra R4.
Na montagem da árvore semântica o método a regra R4 diz que devemos fazer a seguinte operação:
Já se sabe que as setas em uma árvore semântica simboliza a disjunção e a regra 4 diz que uma vez deduzida a fórmula A↔B (a bicondiciona B), então pode-se deduzir a fórmula A e B (A∧B) ou não A e não B (¬A∧¬B). A título de exercício de revisão prove que (A↔B) ≡ (A∧B)∨(¬A∧¬B).
O significado da regra R5.
Na montagem da árvore semântica o método a regra R5 diz que devemos fazer a seguinte operação:
A mais simples e a mais evidente de todas. Esta regra diz que ¬¬A (não não A) deve ser resolvido colocando-se, na linha abaixo da proposição a derivação A. Já vimos anteriormente que semanticamente, a dupla negação de uma proposição, equivale a proposição.
O significado da regra R6.
Na montagem da árvore semântica o método a regra R6 diz que devemos fazer a seguinte operação:
Essa regra pode gerar surpresa visto que a regra R1 onde (A∧B) A e B geram duas linhas abaixo da proposição com as derivações A e abaixo o B, então por que não teríamos o mesmo aqui? Repare que a solução de ¬(A∧B) não A e B é demonstrada abaixo:
¬(A∧B) = (¬A∨ ¬B) e ¬ (A∨B) = (¬A∧¬B) (conhecidas com leis de De Morgan).
Devido essa equivalência entre ¬(A∧B) e (¬A∨ ¬B) a solução da regra 6 é a ilustrada pois se (¬A∨ ¬B) = V pode-se deduzir ¬A ou ¬B.
O significado da regra R7.
Na montagem da árvore semântica o método a regra R7 diz que devemos fazer a seguinte operação:
Novamente temos a equivalência ¬(A∨B) = (¬A∧¬B) não A ou B equivalente a não A e não B sendo assim temos que a regra 7 faz com se escreva abaixo da proposição ¬A e na linha abaixo ¬B. Semanticamente temos que ¬ (A∨B) = V então se deduz os valores de ¬A e ¬B.
O significado da regra R8.
Na montagem da árvore semântica o método a regra R8 diz que devemos fazer a seguinte operação:
Mais uma vez termos que usar os nossos conhecimentos de equivalência entre proposições lógicas. Sabe-se que ¬(A→B) não A implica B é equivalente a (A∧¬B) A e não B. Então aplicamos a regra 1 em (A∧¬B) e tem-se na linha abaixo da proposição lógica, a derivação A e abaixo dessa derivação, o ¬B.
O significado da regra R9.
Na montagem da árvore semântica o método a regra R9 diz que devemos fazer a seguinte operação:
A regra 9 diz que uma vez deduzido ¬(A↔B) não A bicondiciona B, pode-se deduzir (¬A∧B) não A e B ou (A∧B) A e não B. Sabe-se que ¬(A↔B) ≡ (¬A∧B)∨(A∨¬B) e a regra 9 faz exatamente isso colocando a proposições (¬A∧B) e (A∨¬B) na linha a abaixo da proposição (¬A∧B) com setas indicando a disjunção. Reforçando, se (¬A∧B) = V se deduz (¬A∧B) ou (A∨¬B).
Em geral, a aplicação de uma regra a um tableau é feita considerando qualquer uma das fórmulas. Entretanto, uma boa heurística na construção do tableau é aplicar inicialmente regras que não bifurcam a árvore. Aplique preferencialmente as regras R1, R5, R7 e R8.
A construção de um tableau semântico é definida recursivamente a seguir.
Definição (construção de um tableaux)
Um tableaux semântico, na Lógica Preposicional, é construído como se segue. Seja {A1, …, An} um conjunto de fórmulas.
- A árvore a seguir, com apenas um ramo, é um tableaux associado a {A1, …, An}.
- Seja T um tableaux associado a {A1, …, An}. Se T* é a árvore resultante da aplicação de uma das regras R1, …, R9 à árvore T, então T* é também um tableau associado a {A1, …, An}.
Aplicando as regras do tableaux semântico.
A partir de uma ou mais preposições começamos a aplicar as regras estudadas para se montar o tableaux semântico. Na montagem da árvore, surge logo duas dúvidas:
- Dada uma fórmula H, qual é a regra adequada para ser aplicada em H?
- Dada uma fórmula H, como aplicar a regra adequada?
Vamos ver a primeira questão. Dada uma fórmula H consulta-se a lista de regras para identificar qual derivação será utilizada e a sugestão de boa prática para a montagem da árvore que é a de começar por derivações que não bifurquem a árvore, visto que a ordem que se aplica as derivações não altera o resultado.
Para demonstrar o procedimento, a demonstração abaixo será feita de maneira detalhada. Acompanhe atentamente.
Demonstração 01
H1 = (¬¬P)^(Q˅(R→(S↔P)))
Pode-se observar que H1 é do tipo (A∧B), fazendo A=(¬¬P) e B=(Q˅(R→(S↔P))), então aplica-se a regra R1 e escrevemos a árvore da seguinte maneira:
1 |
H1 = (¬¬P)^(Q˅(R→(S↔P))) |
H1 |
2 |
(¬¬P) |
R1,1 |
3 |
(Q˅(R→(S↔P))) |
R1,1 |
O quadro acima tem a seguinte estrutura, a primeira coluna são as linhas das operações, são numeradas para que o acompanhamento do desenvolvimento seja facilitado. Na coluna do meio, é colocado o desenvolvimento propriamente dito da árvore e na terceira coluna sinalizamos com a regra aplicada e em qual linha.
Demonstração 02
H2 = (¬¬P)^(Q˅(R→(S↔P)))
1 |
((¬¬P)^Q)˅(R→(S↔P)) |
H2 |
2 |
((¬¬P)^Q) (R→(S↔P)) |
R2,1 |
Nessa demonstração percebe-se que H2 é d tipo A∨B onde A=((¬¬P)^Q) e B= (R→(S↔P)). Dessa forma cabe aplicar a regra R2. Repare a última coluna que mostra as derivações aplicadas.
Demonstrada estas duas derivações, montaremos uma árvore completa com explicações detalhadas a cada passo.
Demonstração 03
H=¬¬(((P→Q)^¬(P↔Q))^¬¬P)
Dada a proposição temos que montar a tabela com a árvore.
1 |
¬¬(((P→Q)^¬(P↔Q))^¬¬P) |
H |
Montada a primeira etapa, analisa-se a proposição para adequar a regra que será aplicada. Fica claro que a derivação é a da regra 5.
1 |
¬¬(((P→Q)^¬(P↔Q))^¬¬P) |
H |
2 |
((P→Q)^¬(P↔Q))^¬¬P |
R5,1 |
Atenção na linha dois para adequar a derivação. Aplica-se a regra 1.
1 |
¬¬(((P→Q)^¬(P↔Q))^¬¬P) |
H |
2 |
((P→Q)^¬(P↔Q))^¬¬P |
R5,1 |
3 |
((P→Q)^¬(P↔Q)) |
R1,2 |
4 |
¬¬P |
R1,2 |
Repare que foi aplicado R1 na linha 2 entendo A^B onde A=((P→Q)^¬(P↔Q)) e B=¬¬P. Nessa etapa pode-se aplicar R1 na linha 3 ou R5 na linha 4. Mas a ordem na aplicação das derivações não afeta a resolução do problema. Será aplicado R1 na linha 3 e depois R5 na linha 4 gerando o resultado demonstrado abaixo.
1 |
¬¬(((P→Q)^¬(P↔Q))^¬¬P) |
H |
2 |
((P→Q)^¬(P↔Q))^¬¬P |
R5,1 |
3 |
((P→Q)^¬(P↔Q)) |
R1,2 |
4 |
¬¬P |
R1,2 |
5 |
(P→Q) |
R1,3 |
6 |
¬(P↔Q) |
R1,3 |
7 |
P |
R5,4 |
Agora pode-se aplicar R3 na linha 5 ou R9 na linha 6. Observa-se que não é possível aplicar nenhuma regra na linha 7.
1 |
¬¬(((P→Q)^¬(P↔Q))^¬¬P) |
H |
2 |
((P→Q)^¬(P↔Q))^¬¬P |
R5,1 |
3 |
((P→Q)^¬(P↔Q)) |
R1,2 |
4 |
¬¬P |
R1,2 |
5 |
(P→Q) |
R1,3 |
6 |
¬(P↔Q) |
R1,3 |
7 |
P |
R5,4 |
8 |
¬P Q |
R3,5 |
Percebe-se que não é possível aplicar nenhuma regra nas 7 e 8. Sobra apenas a linha 6 para aplicar a regra 9 na linha 6
1 |
¬¬(((P→Q)^¬(P↔Q))^¬¬P) |
H |
2 |
((P→Q)^¬(P↔Q))^¬¬P |
R5,1 |
3 |
((P→Q)^¬(P↔Q)) |
R1,2 |
4 |
¬¬P |
R1,2 |
5 |
(P→Q) |
R1,3 |
6 |
¬(P↔Q) |
R1,3 |
7 |
P |
R5,4 |
8 |
¬P Q
|
R3,5 |
9 |
(¬P^Q) (P^¬Q) (¬P^Q) (P^¬Q) |
R9,6 |
Repare que o resultado da regra 9 aplicada sobre a linha seis e escrita sob os dois ramos da bifurcação gerada na árvore pela regra 3 aplicada na linha 5. As proposições da linha 9 podem ser derivadas e assim teremos a tabela abaixo.
1 |
¬¬(((P→Q)^¬(P↔Q))^¬¬P) |
H |
2 |
((P→Q)^¬(P↔Q))^¬¬P |
R5,1 |
3 |
((P→Q)^¬(P↔Q)) |
R1,2 |
4 |
¬¬P |
R1,2 |
5 |
(P→Q) |
R1,3 |
6 |
¬(P↔Q) |
R1,3 |
7 |
P |
R5,4 |
8 |
¬P Q
|
R3,5 |
9 |
(¬P^Q) (P^¬Q) (¬P^Q) (P^¬Q) |
R9,6 |
10 |
¬P P ¬P P |
R1,9 |
11 |
Q ¬Q Q ¬Q |
R1,9 |
Finalmente
Definição (tableaux fechado)
Um tableau é fechado quando todos os seus ramos são fechados. Caso contrário, ele é aberto. Exemplos:
- Tableaux semântico fechado.
- Tableaux semântico aberto.