As novas competências
com o objetivo discutir o papel do professor nesta nova modalidade. Seus atributos, perfis e competências, trazendo ao diálogo o fazer mediatizado pelas Tecnologias da Informação e comunicação TICs.
Em face desta radical e estrutural alteração exigida pela metodologia EAD, o papel do professor transmuta-se. Dele é exigido saber mediar essa polifonia e para tanto ele deve, em linhas gerais, apresentar os seguintes atributos (ALMEIDA, C. V.A.,2008)
- Pressupor a participação-intervenção dos alunos, sabendo que participar é muito mais que responder “sim” ou “não”, é muito mais que escolher uma opção dada; participar é atuar na construção do conhecimento e da comunicação;
- Garantir a bidirecionalidade da emissão e recepção, sabendo que a comunicação e a aprendizagem são produzidas pela ação conjunta do professor e dos alunos;
- Disponibilizar múltiplas redes articulatórias, sabendo que não se propõe uma mensagem fechada, ao contrário, se oferece informações em redes de conexões, permitindo ao receptor ampla liberdade de associações, de significações;
- Engendrar a cooperação, sabendo que a comunicação e o conhecimento se constroem entre alunos e professor como co-criação e não no trabalho solitário;
- Suscitar a expressão e a confrontação das subjetividades, sabendo que a fala livre e plural supõe lidar com as diferenças na construção da tolerância e da democracia.
Estas habilidades permitem ao professor aproveitar ao máximo o potencial das novas tecnologias em sala de aula. Assim, de acordo com Silva (2003, p. 83 apud ALMEIDA, 2008), o professor será um formulador de problemas, provocador de situações, arquiteto de percursos, mobilizador das inteligências múltiplas e coletivas na experiência do conhecimento e ampliação das possibilidades de aprendizagem.
Como o eixo pedagógico dessa modalidade de ensino se baseia na interatividade a lógica do processo ensino-aprendizagem se faz de forma não linear e o conhecimento vai sendo construído de forma não hierárquica. Conforme Passos (2003, p.344, apud ALMEIDA, 2008), a visão do currículo trabalhada pelo professor EaD tem fundamento na concepção hipertextual. O hipertexto é caracterizado por “ligações e nós constantemente refeitos na dinâmica das relações de troca de saberes, marcado por percursos não-lineares e por conhecimentos não hierárquicos, em negociação constante com os sujeitos”.
Neste sentido, conforme Levy (1998), o professor torna-se a referência para orientar seus alunos, seja individualmente, seja incentivando a construção coletiva. “Sua competência deve deslocar-se no sentido de incentivar a aprendizagem e o pensamento”.
A plataforma MOODLE é um bom exemplo de atuação docente baseado na interatividade, pois promove o gerenciamento de grupos de estudos virtuais (através da Internet) disponibilizando para alunos e professores funcionalidades de interação e apoio ao ensino à distância, tais como: fóruns de discussão, chats, repositório de aulas e de documentos, armazenamento e acompanhamento de notas, dentre outras funções típicas de uma sala de aula convencional.
Mas do que trata esse gerenciamento? Para adentrar e atuar no universo EAD, o professor precisa perceber que há uma emergência quanto ao redimensionamento do seu perfil. No ensino presencial o professor dá feedback visual e auditivo aos alunos. Esta categoria de feedback não está presente na modalidade EAD. Como lidar com isso? Ele não tem noção se o aluno está atento, com sono, com dificuldade de concentração, por exemplo. Esta subjetividade não lhe é revelada no ensino à distância. Nele surgem outros símbolos, outros códigos de linguagem e convivência. O feedback é eminentemente textual e deve ser dinâmico e isto geralmente implica um maior esforço a ser empreendido pelo professor para promover um feedback aos alunos sobre as suas dúvidas, em tempo hábil e com a qualidade desejada.
Nota: O feedback é eminentemente textual e deve ser dinâmico e isto geralmente implica um maior esforço a ser empreendido pelo professor para promover um feedback aos alunos sobre as suas dúvidas, em tempo hábil e com a qualidade desejada.
Algumas competências (das 51) listada por Smith (2005) em “Fifty-One Competencies for Online Instruction“, seriam:
- Agir como facilitador da aprendizagem ao invés de apenas transmitir conhecimentos.
- Evitar sobrecarregar os novos estudantes no início do curso.
- Se disponibilizar a contatar estudantes que não estão participando.
- Adotar uma postura permanente de aprendizagem.
- Criar uma atmosfera cordial e convidativa que propicie o desenvolvimento de um senso de comunidade entre os participantes.
- Definir critérios de participação e pontuação.
- Estimular a reciprocidade e a cooperação entre os estudantes.
- Enfatizar a importância dos prazos.
- Incentivar os estudantes a trazerem exemplos de sua realidade para o curso.
- Avaliar a si próprio.
- Dar feedback imediato.
- Manter o domínio da tecnologia empregada.
Naturalmente percebe-se que ao professor compete tecer a linha da rede que unirá todos os participantes de forma proativa e eficaz, mediando, sensibilizando, emocionando através de suas palavras textuais, principalmente.
O professor EaD e os novos espaços de aprendizagem
A transmissão de conhecimento deu lugar à interatividade no contexto da educação, seja ela presencial ou virtual. Porém, é fundamental que o docente on-line compreenda que o contexto da EAD é repleto de novos significados e de novos signos que vão desde a seleção de artigos fomentando a hipertextualidade, à gravação de vídeos-aula, à interação constante no Ambiente Virtual de Aprendizagem – AVA algumas em tempo real.
E como agir frente a todas estas demandas e linguagens com as quais o docente não imaginava ter que lidar?
Primeiramente o professor deverá ter consciência do seu novo locus. Dentre os vários autores que refletem sobre esse assunto cabe citar José Manoel Moran. Em um artigo intitulado: “Novas questões que a educação online traz para a didática” o autor afirma que:
O professor on-line precisa aprender a trabalhar com tecnologias sofisticadas e tecnologias simples; com Internet de banda larga e com conexão lenta; com videoconferência multiponto e teleconferência; com softwares de gerenciamento de cursos comerciais e com softwares livres. Ele não pode acomodar-se, porque a todo o momento surgem soluções novas e que podem facilitar o trabalho pedagógico com os alunos. Soluções que não podem ser aplicadas da mesma forma para cursos diferentes. (MORAN,2003,p.43)
Verifica-se, portanto, que a educação virtual se desencarrega do seu papel político-social e o ambiente virtual deve ser encarado como desafiador e encantador.
De acordo com Riccio (2010); De acordo com Riccio (2010); … Miguel Zabalza (2004) argumenta que “um dos aspectos mais críticos dos professores (em todos os níveis do sistema de educação) tem sido justamente o de ter uma identidade profissional indefinida” (p.107). Segundo o autor, o exercício da docência, no ensino superior, não é visto como uma atividade profissional, prevalecendo uma visão que compreende a docência como uma atividade estritamente prática para a qual não são necessários conhecimentos específicos, exceto aqueles referentes aos conteúdos abordados.
A grande oferta de cursos on-line trouxe um agravamento da situação. Mesmo o docente sentindo-se à vontade com o conteúdo a ser abordado (objeto de estudo e experiência dos seus longos anos de atividade profissional), na maioria das vezes ele desconhece as peculiaridades e especificidades da atuação na docência on-line, principalmente se estamos pensando numa perspectiva que considere a rede como elemento de fortalecimento dos processos de produção de culturas e de conhecimentos e não como mera distribuidora de informações.
Com o objetivo de refletir sobre essa questão, retomamos a experiência docente que, se analisada no processo, pode vir a se constituir em importante elemento de sua própria formação. A experiência do docente como parte do seu processo formativo é, assim como propõe Jorge Larrosa (2001, 2005), refletir mais sobre a própria docência on-line e as possibilidades do estabelecimento de redes de comunicação, formação e aprendizagem que articulem de forma intensa os diversos níveis da educação.
E a professora continua: A montagem de redes comunicacionais, a partir da docência on-line, demanda um conjunto de saberes que não estão disponíveis sem um aprofundamento teórico do tema, uma vez que não nos basta, simplesmente, transpor as estratégias pedagógicas de uma educação pautada na transmissão – prática ainda hegemônica na educação presencial – para a docência on-line. Nesse sentido, Socorro Pereira (2008) mapeou um conjunto de saberes fundamentais para a atuação on-line do docente: mediação pedagógica, interatividade, colaboração, virtualização e saberes tecnológicos, destacando ainda que “a construção desses saberes requer a imersão dos docentes no contexto da cibercultura, aprendendo com o movimento não linear do hipertexto, saltando de um nó a outro, intervindo, modificando produzindo e colaborando” (p.195). O que se busca, em verdade, é compreender os novos desafios da educação e da docência on-line justamente inseridas na chamada cibercultura, com o objetivo de estabelecer redes comunicacionais de formação e aprendizagem que possibilitem uma educação dialógica e crítica.
O que se depreende da fala da profa Riccio (2010, p.100) é que urge ao docente dedicar-se a uma atividade mais dialógica, onde é intensa a prática da interação, aliás, como diz a própria professora “na verdade, essa é uma questão que perpassa a Educação independente da sua modalidade ou das tecnologias que utiliza”.
A relação professor-aluno
Como o professor e o estudante devem se relacionar no espaço virtual, uma vez fica suprimida a relação auditiva e visual, sentidos importantes no relacionamento interpessoal? Sobre este assunto, extraímos um recorte do artigo que a professora Teresinha Fróes Burnham desenvolveu com outros professores da Faculdade de Educação intitulado: O uso de ambientes virtuais de Aprendizagem numa perspectiva de autogestão, disponível no site do MOODLE da UFBA.
O papel do professor em espaços interativos virtuais é outro objeto de muitas reflexões. Silva (2002), por exemplo, argumenta que cabe a este tecer uma rede de aprendizagem através do envolvimento dos alunos, da ação coletiva. Ele não deve mais se posicionar como o detentor do saber, enfocando as atividades a partir da sua récita, do seu falar/ditar. Em contraste, assume ser aquele que disponibiliza a experiência do conhecimento, cria possibilidades de envolvimento, oferece ocasião de engendramentos e estimula os alunos a serem coautores da suas ações, mobilizando articulações entre os diversos campos de conhecimento – tomados como rede inter/transdisciplinar – ao tempo em que estimula a criatividade dos alunos, considerando suas disposições sensoriais, motoras, afetivas, cognitivas, culturais, intuitivas, etc.
Para que o professor consiga romper com a lógica da comunicação centrada apenas na emissão–recepção, trabalhada de forma unidirecional, onde o aluno é visto como receptor passivo da informação, Silva (2002) propõe a criação de múltiplos dispositivos que permitam a intervenção do interlocutor, provocando assim que os partícipes se posicionem como coautores da interação.
Conforme corroborado por Konrath et al. (2009,p.3)
A perspectiva da mediação pedagógica pressupõe que o professor assuma um novo papel no processo de ensino-aprendizagem no qual ele medeie as interações do aluno com o objeto de estudo/conhecimento. Além disso, o uso das tecnologias é pensado como forma de tornar o processo de ensino-aprendizagem mais eficiente e eficaz no sentido de que a aprendizagem realmente aconteça e seja significativa.
Ainda conforme as autoras, o professor, a partir da mediação pedagógica, é aquele que organiza, planeja e aglutina questões que apareceram ao longo de sua prática pedagógica sistematizando-a de forma a garantir o domínio de novos conhecimentos pelo grupo de alunos. E isto signifi ca incentivá-los a construir o seu próprio conhecimento, desenvolvendo no sujeito da aprendizagem a autoconfiança.
Mas o professor não está sozinho neste empreendimento, ele pode contar na EAD com os tutores que apoiam o trabalho docente, através da interação cotidiana com os estudantes. De acordo com Konrath et al. (2009, p.4) eles, os tutores, “são o elo entre a relação professor, curso e aluno”.
As professoras dissertam também sobre o papel do aluno, sendo ele o sujeito que, através de suas interações com o objeto de estudo/conhecimento e com seus colegas, tutor e professor, aprende. Na medida em que ele também é produtor do conhecimento, ele se apropria e cria cultura no espaço virtual, na sala de aula. Nesta abordagem, digamos construtivista, os conteúdos são importantes apenas como pano de fundo para entender como é o mundo e suas relações e o processo de avaliação leva em conta o que é produzido de forma individual e coletiva, ao longo do trabalho realizado e não mais a partir de um resultado final.
E como muito bem colocado pelas professoras, “o aluno precisa aprender o que é ser aluno virtual e que isso implica em comprometer-se, organizar-se, ter iniciativa, autonomia e disciplina”. (KONRATH et al.,2009, p.6).
Nota: Em síntese, a relação professor/tutor-aluno deve denotar trabalho em conjunto para a construção do conhecimento. O professor acolhendo intelectualmente e, sobretudo, emocionalmente o aluno que está distante fisicamente e o aluno, sentindo-se pertencer ao grupo desenvolverá a auto-estima e auto-confiança necessárias para tornar o processo de aprendizagem virtuoso.
Síntese: O tema “O papel do professor” dialogou com autores que enfatizaram a necessidade de o professor ajustar-se, seja pela via das competências exigidas, seja por seu comportamento, à nova lógica de aprender e ensinar com as TIC. Cabe ao professor envolver o aluno numa rede de conhecimentos.