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AULA 04 – ENSINO À DISTÂNCIA

O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM EM EAD

A segunda unidade da nossa disciplina tratará de aprofundar a lógica do processo ensino-aprendizagem em Educação a Distância, levantando as competências necessárias do professor, as atitudes do educando e a mediação pela tutoria. Nesta unidade a palavra – chave é autonomia.

A lógica do ensinar e aprender

O primeiro tema desta segunda unidade pretende fazer um rápido recorte das concepções teóricas sobre a lógica do ensinar e do aprender, a importância da linguagem na EAD e o papel da interatividade no processo ensino-aprendizagem.

Breve resgate das concepções teóricas

Existem várias maneiras de explicar como o ser humano aprende, mas antes de iniciarmos nosso entendimento sobre a lógica do ensino-aprendizagem é preciso ler a citação da professora Maria Judith Sucupira (SENAC, 2007, UN.3, p.10). “Um dos pontos fundamentais para quem está se iniciando na pesquisa sobre aprendizagem é a clarificação entre esses dois aspectos, ou seja, entender perfeitamente o que é inato ao sujeito, em oposição a tudo o que é adquirido por este, e que se denomina aprendizagem”. Nos dizeres da professora, não é fácil conceituar aprendizagem pois existem inúmeras teorias concomitantes e antagônicas. Contudo devemos ter sempre em perspectiva que “a aprendizagem provoca sempre uma mudança no comportamento, entendido este na sua forma mais ampla, relativa a algo novo em comparação com tudo o que é originalmente parte integrante do sujeito”.

Pozo (1998, apud SUCUPIRA, 2007), alude que o conceito de aprendizagem surge com os behavioristas. Esta linha teórica de estudo afirma que o conhecimento é proveniente dos sentidos e do comportamento humano e é estudado como um conjunto de elementos unidos por regras sintáticas e por princípios de correspondência.

Pode-se destacar dois grandes grupos teóricos relativos à aprendizagem: o das teorias comportamentais e o das teorias cognitivas:

    • Concepção Comportamentalista: também conhecida como, empirista ou behaviorista, tem como principais expoentes Watson e Pavlov, este último, fisiólogo russo, desenvolveu a teoria do condicionamento reflexo (ao apresentar um estímulo o cão apresentava a resposta esperada (salivar apenas com o toque da campainha, antes de ser oferecido o alimento ao animal). A partir desta experiência de reflexo condicionado, esta linha teórica acreditava que a única fonte de conhecimento humano é a experiência adquirida pelo meio físico mediada pelos sentidos, desconsiderando os processos mentais na elaboração dos conceitos e ideias. Assim, para os behavioristas, o motor da aprendizagem está fora do indivíduo, mediado pelo ambiente. O aprendiz é, então, entendido como uma tábula rasa, que recebe estímulos externos, estabelece uma associação e é condicionado a fixar o estímulo recebido de forma passiva e incontestável (Pozo,1998, apud SUCUPIRA,2007). Assim, não são considerados os valores dos estudantes nem suas diferenças individuais. O aluno médio é a referência da aprendizagem, por isso os conteúdos das disciplinas e das atividades são padronizadas com base no desempenho do aluno médio. A tarefa do professor se resume à transmissão do conhecimento esperando que seus alunos respondam, através do reforço condicionado, o desempenho esperado. O aluno realiza as atividades propostas repetindo as informações do professor, em uma atitude de passividade. (SUCUPIRA,2007)
    • Concepção Apriorista: Ao contrário da comportamentalista, a concepção apriorista considera que o indivíduo já traz consigo, ao nascer, indícios do conhecimento e da aprendizagem. O saber está no sujeito e o meio vai fazer desabrochar o conhecimento no educando. Assim as capacidades básicas do ser humano tais como personalidade, comportamento, formas de pensar, etc., são inatas ao homem. O meio não o determina e a aprendizagem é uma ação internalizada do estudante. O professor tem o papel de facilitador do desabrochar da curiosidade do estudante, ele acredita que o aluno tem sua vivência e sua história. (SUCUPIRA,2007)
    • Concepção Cognitivista: Esta linha teórica sobre a teoria da aprendizagem não considera o conhecimento sendo totalmente inato nem determinado pelo meio. Para Piaget (1990, p.7-8, apud SUCUPIRA,2007, p.29):

      O conhecimento não procede, em suas origens, nem de um sujeito consciente de si mesmo, nem de objetos já constituídos (do ponto de vista do sujeito) que se lhe imporiam: resultaria de interações que se produzem a meio caminho entre o sujeito e o objeto, e que dependem, portanto, dos dois ao mesmo tempo, mas em virtude de uma indiferenciação completa e não de trocas entre formas distintas.

Nesta concepção, a interação entre professor e aluno deve ser descentralizada da figura de poder do professor.
O papel do docente é estimular no aluno a busca por encontrar respostas por si mesmos.

    • A Concepção Sócio-histórico-cultural: caracteriza-se pela relação sociocultural entre indivíduos, compactuando com a teoria cognitivista de que o conhecimento não está nem pré-formado no sujeito, nem é determinado pelo meio exterior. Lev Vygotsky é o seu principal expoente sugerindo que o conhecimento é construído na relação sujeito, objeto e o outro (pais, professores, colegas, um livro e tantos outros instrumentos). Assim, tal como a formação do indivíduo acontece a partir da sua relação social, o conhecimento também se constrói desta forma.

      […] a aprendizagem não é algo externo e posterior ao desenvolvimento, nem idêntica a ele, mas uma condição desse processo. De acordo com esse autor, “o aprendizado adequadamente organizado resulta em desenvolvimento mental e põe em movimento vários processos de desenvolvimento que, de outra forma, seriam impossíveis de acontecer.” (Vygotsky, 1994, p. 101).

De acordo com essa concepção, a escola favorece a apropriação pelo sujeito dos saberes culturais assim como pelo desenvolvimento do pensamento conceitual de forma crítica. É uma teoria que abre espaço para as investigações do professor e do aluno por meio de pesquisa e seleção de temas que desenvolvam a capacidade crítica e reflexiva.

Um dos pontos básicos de sustentação da explicação da aprendizagem vygotskyana é o papel da linguagem, dado este nitidamente cultural. A linguagem tem um papel preponderante no processo de desenvolvimento da aprendizagem, principalmente pela relação intrínseca existente com o pensamento. A ação do outro sobre cada sujeito que aprende é fundamental, não só como incentivadora, mas também como uma ponte indispensável entre este e a realidade que o circunda. A função determinante do contexto cultural e a atividade do outro no processo total de aprendizagem explicam a ocorrência desse fenômeno. Observe-se que para Vygotsky a aprendizagem produz desenvolvimento e não o contrário, ou seja, a aprendizagem não decorre de um estado de desenvolvimento que faria brotar esse fenômeno. (SUCUPIRA,2007, Senac UN3, p.33).

A linguagem como principal ferramenta

Para edificar a educação, a principal ferramenta é a linguagem. Na EAD muito mais ainda pois é a linguagem escrita um dos meios mais importantes entre o estudante e o professor. Por isso, o suporte dos materiais e provas são apresentados na forma escrita. E mais ainda a interatividade, modus que caracteriza a EAD é feita através de feedbacks aos fóruns de discussão, seja por parte do professor ou dos tutores.

Faremos, portanto, um recorte do trabalho desenvolvido pela professora Odbália Ferraz, intitulado Tecendo Saberes Na Rede: O MOODLE Como Espaço Significativo de Leitura e Escrita.

As tecnologias digitais, através dos AVAs, têm produzido espaços de construção coletiva do conhecimento que vêm se constituindo como campos do possível nos quais nos tornamos o que somos, realizando rupturas, bem como resistindo às práticas que homogeneízam e engessam as possibilidades de movimento e criação. Nesse contexto, a mentalidade humana passa por transformações, no que concerne à forma do sujeito organizar e expressar seu pensamento, refl etindo sua visão de mundo na contemporaneidade. Assim ocorre com a linguagem, que vai passando também por significativas mudanças: do códex à tela, a relação do sujeito leitor/autor com os suportes de leitura e escrita tem se transformado e se ampliado, tendo em vista as novas possibilidades técnicas e os novos valores socioculturais. Essas mudanças propõem ao professor repensar sua prática pedagógica, em relação à leitura e escrita, na qual ele ainda se coloca como o detentor do saber que pode “ensinar tudo” aos seus alunos…

Narrar as experiências de leitura e escrita que se processaram no MOODLE constitui importante possibilidade de partilha com outros educadores, de modo a contribuir para a construção de uma nova acepção do ato de ensinar-aprender, bem como para a compreensão da lógica desses processos de leitura e escrita que se desenvolvem nos ambientes virtuais de aprendizagem.

O aprendizado da leitura e escrita no MOODLE, por exemplo, tem abalado a ideia de estabilidade, invariabilidade e rigidez que ainda se mantém nas práticas de produção de texto e leitura em salas de aula presenciais, onde ainda se faz educação como se a realidade pudesse ser fragmentada de forma descontínua em uma série de particularidades. Contrariando esse paradigma forjado pela modernidade, ao trabalharmos no Moodle, procuramos considerar a situação singular de cada ser, num mundo presente que também é singular (CHARTIER, 2001), uma vez que esse contexto de profundas mudanças no qual vivemos exige que as relações de aprendizagem sejam reconfiguradas, pondo em xeque um currículo fragmentado, linear, disciplinar, que segue na contramão da vida e dos desejos dos sujeitos “ensinantes” e aprendentes. Assim, entendemos que o currículo, na atualidade, precisa dar conta de paradigmas que tenham em vista a construção coletiva dos sujeitos, partindo tanto da sua diversidade como da sua pluralidade.

Sem a intenção de prescrever receitas de sucesso, podemos dizer que essa interface se apresentou como viabilizadora de produção de sentidos, onde um fio puxava o outro, costurando novos modos de ler/escrever/tecer. Essas tessituras de sentido, presentificadas nos diálogos, tanto nos “chats” como nos fóruns, revelavam dos sujeitos participantes as necessidades de “dizer”, ainda silenciadas no espaço escolar convencional, os saberes, desejos e valores que não cabem no espaço dos cadernos e deveres escolares. Portanto, traziam as marcas das suas histórias de vida em seus aspectos pessoais e socioculturais, para partilhar com o outro. É nesse sentido que “[…] toda relação humana implica um aprendizado. Pelas competências e conhecimentos que envolve, um percurso de vida pode alimentar um circuito de troca, alimentar uma sociabilidade de saber” (LÉVY, 2003, p. 27), que gera formas dinâmicas de produção intelectual e de circulação do conhecimento.

Combinando as escritas síncrona e assíncrona, arriscamos afirmar que o MOODLE colocou um desafio aos sujeitos participantes dos cursos de extensão, pois, sem possuir qualquer experiência anterior em ambientes online, de repente se sentiram envolvidos numa outra relação com o espaço, com o tempo e com um outro suporte de leitura/escrita. Nesse sentido, notamos que houve, por parte dos sujeitos, problemas em organizar seu tempo de modo a ajustá-lo à dinâmica assíncrona/síncrona do ensino on-line, até porque o ritmo dos sujeitos ainda está intrinsecamente ligado às exigências síncronas dos ambientes presenciais de aprendizagem.

Nessa perspectiva, tem se convertido em instrumento pedagógico de grande eficácia para auxiliar os sujeitos aprendentes na construção de sentidos, na significação do mundo à sua volta, através de práticas de escrita compartilhadas, coletivas e sociais.

Do Interacionismo às comunidades de aprendizagem

Refletir sobre o conhecimento demanda o desejo de descobrir o objeto do conhecimento. Para Alves:

As associações passam a ocorrer com base no desejo dos sujeitos, que buscarão informações e conhecimentos que, momentaneamente, tenham significados, construindo assim uma nova cartografia do processo de construção do conhecimento, permeada pelo prazer e pelo desejo do saber, na qual nenhum saber é negligenciado (ALVES, 1998, p.43).

Pense num indivíduo que nunca interagiu com um computador e internet. Entendendo o seu funcionamento, surge o desejo de criar, avançar, descobrir os ícones, as palavras e os textos. Segundo Santos (2006) é nesse momento que a mediação se torna necessária, possibilitando o processo de construção do conhecimento. A lista a seguir, desenvolvida por Pessanha e Struchiner (2005), apud Santos (2006) é bastante esclarecedora com relação a construção de práticas pedagógicas que possam viabilizar o processo de construção coletiva do conhecimento na rede internet.

Interatividade

A Interatividade envolve um relacionamento entre os sujeitos de experiências diversas, entre ferramentas e atividades culturalmente organizadas. Que depende da relação entre grupos, desejos, motivações, culturas, interesses individuais e sociais, havendo uma interrelação mediatizada pela comunicação entre grupos.

Cooperação

A Cooperação é uma relação compartilhada estabelecida entre os sujeitos na interação, no desenvolvimento da aprendizagem e na realização de projetos de interesse comum. Esta relação se caracteriza pela desigualdade do conhecimento entre os grupos, pelo sistema de combinações e compromissos estabelecidos na solução de problemas significativos. A cooperação se constitui numa relação de troca compartilhada, dada pelos diferentes perfis existentes e nas formas de atuação e experiências do contexto de trabalho.

Autonomia

A Autonomia é a capacidade do sujeito em autodeterminar-se, escolher, apropriar-se e reconstruir o conhecimento produzido culturalmente em função de suas necessidades e interesses. Caracteriza-se pela responsabilidade, autodeterminação, decisão, auto-avaliação e compromissos a partir da reflexão de suas próprias experiências e vivências.

É condição sine qua non a compreensão do sujeito com relação à complexidade das categorias expostas. A integração entre elas é complexa e atribuem responsabilidade da aprendizagem aos próprios estudantes, sujeitos que são do processo. Para Levy (1998, p.67), o “ciberespaço poderia abrigar agenciamentos de enunciação produtores de sintomas políticos vivos que permitiriam aos coletivos humanos inventar e exprimir de modo contínuo, enunciado e complexos, abrir o leque das singularidades e das divergências, sem por isso inscrever-se em formas fixadas de antemão. A democracia em tempo real visa à constituição do “nós” mais rico, cujo modelo musical poderia ser o coral polifônico improvisado. Para os indivíduos, o exercício é especialmente delicado, pois cada um é chamado ao mesmo tempo a: 1) escutar os outros coralistas; 2) cantar de modo diferenciado; 3) encontrar uma coexistência harmônica entre sua voz e a dos outros, ou seja, melhorar o efeito conjunto”.

Pierre Lévy

Esta citação vem ao propósito de demonstrar que a forma de ensinar e aprender transpassa o limite físico dos sujeitos, tecendo teias de conhecimento, em rede. Esta forma coletiva de nos relacionarmos surge criando comunidades de aprendizagem. Kensky (2003, p.101) vem bem ao propósito da importância da interação.

A interação proporcionada pelas “ telas” amplia as possibilidades de comunicação com outros espaços de saber. As informações fluem de todos os lados e podem ser acessadas e trabalhadas por todos: professores, alunos e os que, pelos mais diferenciados motivos, se encontram excluídos das escolas e dos campi: jovens, velhos, doentes, estrangeiros, moradores distantes, trabalhadores em tempo integral, curiosos, tímidos, donas de casa…pessoas.

É ainda Kensky (2003) que nos alerta sobre a criação das comunidades virtuais através do ciberespaço. Esta união de cidadão e pessoas cujos interesses giram em torno de temas específicos podem constituir uma comunidade com regras, valores e costumes, com sensação de pertencimento ao grupo, criando uma unidade cultural. Mas como diferenciar uma comunidade virtual de uma comunidade virtual de aprendizagem? Elas podem ser formadas de cursos ou disciplinas, mas não seguem a temporalidade regimentada pela instituição educacional destes. Vão além, a depender do interesse de seus membros em colaborar e aprender. E isto, ou seja, grupos que voluntariamente se interessam por trocar conhecimentos e experiências e aprender juntas, podem ser, segundo a autora, “o embrião em torno do qual as mudanças na educação ocorrerão. ” ( p.108).

Síntese: O tema “A lógica do ensinar e aprender” destacou o papel da linguagem no processo de aprendizagem, indo ao encontro da teoria Vygotsky. Contudo, para que a linguagem se torne a argamassa que construirá o conhecimento na web é preciso que se desenvolvam as comunidades virtuais de aprendizagens.

Fim da Aula 04

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