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Aula 02 – ENSINO À DISTÂNCIA

A modalidade Educação a Distância (EaD)

O segundo tema da primeira unidade de nossa disciplina pretende apresentar a legislação brasileira que regulamenta o ensino a distância no Brasil, as diferentes concepções teóricas sobre a EAD e as gerações de EAD que a história da educação já experimentou.

Histórico/ Legislação

Objetivando ampliar a oferta de cursos superiores e democratizar o acesso ao ensino nos lugares mais recônditos do Brasil, o MEC, em diferentes momentos, interessou-se pela criação de uma política de EAD. Com esse objetivo, considerava-se grande o potencial  relativo ao parque editorial, às redes e emissoras de rádio e TV, e aos sistemas de comunicação postal, telefônica, via satélite e digital. Desde o início, houve preocupação em se levar mensagens pedagógicas aos contingentes desfavorecidos da sociedade brasileira, entendendo-se que a EAD poderia oferecer as condições necessárias para disseminar o ensino num país de dimensões continentais, com notórias desigualdades sociais e carente da ampliação das ofertas educacionais. Para isso, entretanto, não bastavam preceitos constitucionais, sendo necessário comprometimento social com a democratização do ensino e a tomada de decisões políticas. (CORREIA, 2008).

Desde a Lei n.o 5.692/71 já se propunha a utilização de rádio, TV, correspondência para atingir um maior número de alunos. Niskier (1999, apud Correia, 2007), contudo, aponta para sua descontinuidade a partir de 1990, mas seus esforços foram retomados pela LDB no 9.394/96. Os antigos cursos de alfabetização de jovens e adultos – com utilização de materiais de áudio e vídeo – foram assumidos pela Fundação Educar. Projetos aprovados pelo Grupo de Trabalho do Inep, e não implementados, têm sido recuperados pela Rede Futura, pelo Senai e pelo Sesi, com os recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador. (CORREIA, 2007)

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) n.o 9.394, de 20/12/1996, no seu art. 80, atribui ao poder público o papel de “incentivar o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino à distância, em todos os níveis e modalidades, e de educação continuada”. Com isto, o sistema de ensino brasileiro ganha maior flexibilidade para a criação de novas metodologias de cursos, e as questões relativas à EAD passam a ter maior visibilidade.

O Decreto-Lei n.o 2.494, de 10/2/1998, aborda a Educação a Distância como uma possibilidade de flexibilização de requisitos para admissão, horários e duração de cursos. O decreto conceitua EAD como:

Art.o 1 Educação a Distância é uma forma de ensino que possibilita a autoaprendizagem, com a mediação de recursos didáticos sistematicamente organizados, apresentados em diferentes suportes de informação, utilizados isoladamente ou combinados, e veiculados pelos diversos meios de comunicação. (Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/tvescola/leis/D2494.pdf)

O mesmo decreto também identifica os níveis de ensino que poderão se estruturar na modalidade de EAD e aqueles que ainda deverão receber regulamentação própria. O Decreto-Lei n.o 2.494 ainda apresenta alternativas diferenciadas de flexibilidade de requisitos para admissão no sistema educacional. (CORREIA, 2007). Correia (2007) ainda pontua sobre as matrículas e validação dos cursos de EAD, sendo que os alunos serão avaliados mediante a realização de exames presenciais, efetivados por instituições credenciadas e especializadas.

A introdução de disciplinas não presenciais no currículo do ensino superior, regulamentada pela Portaria no 2.253/2001, possibilitou repensar a EAD não como uma modalidade apartada da presencial, mas como uma “estratégia na construção de uma educação de qualidade” (COREIA, J.,2008).

Mais recentemente, a partir dos anos 2000, merece destaque o Decreto no 5.622, de 19 de dezembro de 2005 que regulamenta o art. 80 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional envolvendo, dentre outros assuntos, a obrigatoriedade de momentos presenciais para: avaliações, estágio, defesa de trabalhos de conclusão de curso e atividades relacionadas a laboratórios de ensino. Vale a pena dissertar sobre o Art. 2.º deste decreto que determina os níveis e modalidades educacionais em que a EAD poderá ser ofertada: I – educação básica, II – educação de jovens e adultos; III – educação especial, respeitadas as especificidades legais pertinentes; IV – educação profissional: técnicos e tecnólogos; V – educação superior, abrangendo os seguintes cursos e programas: a) sequenciais; b) de graduação; c) de especialização; d) de mestrado; e) de doutorado. No primeiro parágrafo de seu art. 3o o referido decreto pontua que os cursos e programas a distância deverão ser projetados com a mesma duração definida para os respectivos cursos na modalidade presencial. O decreto em discussão revogou o decreto anteriormente apresentado (Decreto-Lei n.o 2.494, de 10/2/1998).

Nota: Não deixe de consultar/ler o Decreto no 2.494 em sua integra, acesse: http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/tvescola/leis/D2494.pdf

Veja também os principais instrumentos regulatórios em vigor no País. Eles estão disponíveis no sítio eletrônico do Ministério da Educação (MEC) que rege as ações educacionais formais oferecidas na modalidade a distância. Vamos até lá!

Leis: Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996.

Decretos: Decreto no 5.622, de 19 de dezembro de 2005 / Decreto no 5.773, de 9 de maio de 2006 / Decreto no 5.800, de 8 junho de 2006

Portarias: Portaria MEC no 301, de 7 de abril de 1998 / Portaria MEC no 335, de 6 de fevereiro de 2002 / Portaria MEC no 695, de 2004 / Portaria MEC no 4.059, de 10 dezembro de 2004 / Portaria MEC no 4.361, de 29 de dezembro de 2004 / Portaria no 4.363, de 29 de 1 dezembro de 2004

Resoluções: Resolução CNE/CES no 01, de 3 de abril de 2001

Pareceres: Parecer CNE/CEB no 41/2002

Referenciais: Referenciais de Qualidade do MEC Em linhas gerais, podemos resumir a regulamentação para a EAD no Brasil, conforme se segue:

Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional): estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.

Decreto no 5.622, de 19 de dezembro de 2005: regulamenta o art. 80 da Lei no 9.394, ou seja, as questões específicas afetam à Educação a Distância.

ATENÇÃO: Principais legislações sobre EAD:
Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996.
Decreto no 5.622, de 19 de dezembro de 2005.
Visite a página do MEC ou acesse: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm; http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/dec_5622.pdf

As principais concepções teóricas

Há uma clara divisão de pensamento entre a abordagem conceitual de alguns autores sobre a definição de Educação a Distância. Um primeiro grupo, cujas formulações foram desenvolvidas entre 1972-1987, trata de conceituar a EAD fazendo um contraponto com a educação presencial. Assim, percebe-se que seus conceitos estão preocupados em pontuar a separação entre docentes e discentes e a importância do individualismo da aprendizagem. Senão vejamos:

  1. Moore (1972): “Método de instrução em que os procedimentos docentes acontecem à parte dos procedimentos discentes, de tal modo que a comunicação entre professor e aluno possa se realizar através de textos impressos, meios eletrônicos, mecânicos, ou outras técnicas”.
  2. Sarramona (1987): “Sistema didático em que os procedimentos docentes acontecem à parte dos procedimentos discentes… A comunicação fica retardada no tempo, no espaço ou em ambas”.
  3. Zamora (1981): “Formas de estudo não controladas pelo professor… Cabe ao aluno a responsabilidade pela realização de seus estudos. ”
  4. Martinez (1985): “Estratégia para operacionalizar a educação permanente e aberta. O aluno é o protagonista de sua própria aprendizagem.”
  5. Garcia Aretio (1987): Sistema Tecnológico bidirecional que substitui a interação pessoal. A aprendizagem é autônoma.
  6. Otto Peters (1987): EAD é um método de distribuir conhecimento, habilidade, atitude, mediante aplicação da divisão do trabalho e de princípios organizacionais. É uma forma industrial de ensinar e aprender.

Já as posições de Belloni (1989) e de Holmberg (1985) destacam a importância do diálogo e da reflexão para que a EAD se consubstancie num método de ensino completo.

As conceituações de EaD se ampliaram à medida que foram incorporando os referenciais das teorias construtivistas, da abordagem reflexiva, dialógica e da educação de adultos, o que nos permite vislumbrar uma tendência de a tecnologia educacional evoluir para uma concepção mais ampla de comunicação educacional (BELLONI, 2001, p. 34).

Contudo, a definição que parece ser a que melhor se aproxima do conceito moderno do que seja Educação a Distância é a da professora Edith Litwin (2001). Para ela, EAD é uma modalidade de ensino com características específicas que “substitui a proposta de assistência regular à aula por uma nova proposta, na qual os docentes ensinam e os alunos aprendem mediante situações não convencionais, ou seja, em espaços e tempos que não compartilham” (p.13).

A autora chama atenção de que as novas tecnologias vieram para resolver o principal problema da educação a distância: falta de interatividade. Entretanto mais tecnologia não garante a qualidade da proposta. Portanto, destaca que os materiais instrucionais não seriam autossuficientes e que, portanto, a EAD precisa ter uma proposta didática muito mais bem elaborada e comprometida com o processo ensino-aprendizagem que na educação convencional. Autonomia do ensino não significa autodidatismo. Por fim, destaca que os desafios da EAD estão em criar propostas que fomentem a solidariedade e a participação e não o isolamento do aluno.

A respeito do sentido da autonomia revelado pela autora merece ser compartilhada a citação da prof.a Nícia Cristina Rocha Riccio em sua tese: Ambientes Virtuais de Aprendizagem na UFBA: a autonomia como possibilidade (2010). Conforme a professora revela:

…esta última (autonomia) compreendida como o assumir-se a si próprio como sujeito de sua história, sempre na dependência do meio social e, portanto, dependente também da autonomia coletiva, já que a ausência desta limitaria a autonomia individual. A relação da autonomia, assim compreendida, com a cibercultura é estabelecida pelo potencial de autoria e colaboração fomentado pela presença das tecnologias de informação e comunicação de base telemática, compreendidas como estruturantes do agir e do pensar na sociedade contemporânea. (RICCIO, 2010)

Assim, ousaríamos construir a nossa própria definição: EAD é uma modalidade de ensino cujo objetivo é fornecer uma educação aberta e permanente através da superação das distâncias entre docentes e alunos via situações não convencionais, ou seja, em espaços e tempos que não compartilham utilizando-se de novas tecnologias que integrem, interajam e promovam a interatividade entre alunos e entre estes e os professores. O diálogo e a reflexão são, portanto, de suma importância para que a EAD se consubstancie como modalidade de ensino-aprendizagem eficaz.

Aprofundando nas características da EAD, Edith Litwin (2001) em seu artigo “Das Tradições à Virtualidade” examina o papel da mediatização por meio das TIC (Tecnologias da Informação e Comunicação) entre professores e alunos numa relação biunívoca de forma a possibilitar a construção do conhecimento. A proposta pedagógica declarada por esta educadora supera a tradicional didática bancária, linear, onde professor, dono do saber, transmite aos alunos o conhecimento. Relembrando nosso saudoso Paulo Freire, que já se opunha à educação bancária como melhor didática do processo ensino-aprendizagem, a EAD veio reforçar a própria tese de Freire ao destacar a importância do diálogo, da mediação interacionista para a construção do conhecimento.

O traço distintivo da modalidade consiste na mediatização das relações entre os docentes e os alunos. Isso significa, de modo essencial, substituir a proposta de assistência regular à aula por uma nova proposta, na qual os docentes ensinam e os alunos aprendem mediante situações não convencionais, ou seja, em espaços e tempos que não compartilham. (LITWIN, 2001, p.13)

Avançando em seus conceitos, a EAD é pautada por uma peculiar diferença com relação abordagem tradicional: a flexibilidade. Esta característica, própria da Educação a Distância, permite o uso do tempo e do espaço de forma aberta liberando o aluno da rigidez dos modelos tradicionais de ensino. Contudo, esta flexibilização – fruto mesmo da característica socioeconômica de nosso contexto – implica em uma organização e disciplinamento muito maiores para não perder a consistência da proposta pedagógica.  Litwin (2001, p.14) é exemplar em suas conclusões. “Isso quer dizer que as propostas de implementação não respondem a um modelo rígido, mas exigem uma organização que permita ajustar de forma permanente as estratégias desenvolvidas…”.

Sob este aspecto recorre-se à necessidade de se ter, como um traço marcante desta modalidade de ensino, ágeis mecanismos organizacionais e administrativos, tais como: eficácia da inscrição; distribuição eficiente dos materiais de estudo; informação precisa, atenção e orientação aos alunos, tanto no período inicial do estudo como no seu transcurso, que minimizem as barreiras burocráticas do ensino convencional. (LITWIN, 2001, p.14)

Flexibilidade não significa, igualmente, liberdade sem responsabilidade por parte do aluno, nem mesmo conduz a uma proposta de autodidatismo. O perfil do educando para esta nova modalidade de ensino está na sua capacidade de se autodisciplinar. Requer uma disposição para estudo e interação peculiares, reservando seu melhor horário para se aprofundar nas discussões, leituras e refl exões, compartilhando com os demais colegas. O autodidatismo já foi uma proposta contida nas primeiras gerações de EAD, onde o material impresso distribuído pelos correios ou a relação unívoca via rádio e televisão tinham por princípio o modelo autodidata.

Reflexão: O autodidatismo já foi uma proposta contida nas primeiras gerações de EAD, onde o material impresso distribuído pelos correios ou a relação unívoca via rádio e televisão tinham por princípio o modelo autodidata.

Várias correntes de pensamento vieram a se transformar com o advento das TIC e principalmente da internet. A construção do conhecimento não se faz de forma individual, mas por meio da coletividade, da partilha entre os saberes. E é desta forma que os modernos pensadores desta nova modalidade de ensino visualizam a proposta da EAD. Nos dizeres da professora Litwin, a respeito do autodidatismo.

A criação de materiais de ensino para cada um dos programas ou projetos alimentou a ideia de que esse ato implica a elaboração de materiais autossuficientes para gerar uma proposta de aprendizagem. Se os materiais substituem as aulas convencionais e estas nunca são sufi cientes para assegurar o êxito da aprendizagem, é difícil que um material o assegure. (LITWIN, 2001 p.14)

Adicionalmente, é bastante polêmico o papel das tecnologias no processo ensino-aprendizagem. A existência por si só de um aparato maquínico – seja ele o rádio, a televisão e modernamente a internet – não assegura o sucesso do processo ensino-aprendizagem, mas a proposta pedagógica que está por trás da utilização das tecnologias. De fato, de nada adianta existir moderna disponibilidade a acessos multimidiáticos se não há instigação por parte do professor na busca pela informação e posterior construção coletiva do conhecimento. Ou seja, se não há uma proposta pedagógica que inclua este princípio básico: o do construtivismo. A tecnologia em rede é uma ferramenta fabulosa de ensino que precisa ser utilizada extraindo todas as suas potencialidades. Mas é necessário que a proposta pedagógica abranja práticas que incentivem a construção de artigos e textos coletivos, discussões em grupo, debates e reflexões. As plataformas disponíveis, MOODLE, teleduc, dokeos e outros incorporam ferramentas de mediações assíncronas (fóruns e wikis, por exemplo) que podem e devem ser exploradas com vistas à construção do conhecimento coletivo.

As modernas tecnologias resolvem o problema crucial da Educação a Distância, que é a interatividade. Desenvolveram-se variadíssimas alternativas que permitem aos usuários fazer consultas com especialistas, bem como intercambiar opiniões, problemas ou propostas com outros usuários; ao mesmo tempo, eles aprendem a utilizar programas que atualizam a informação de maneira constante. (LITWIN, 2001, p.17).

Reflexão: Ao ter lido: “A existência por si só de um aparato maquínico – seja ele o rádio, a televisão e modernamente a internet – não assegura o sucesso do processo ensino-aprendizagem, mas a proposta pedagógica que está por trás da utilização das tecnologias” que ponderações você fez? Você concorda com esta afirmação?

Por outro lado, ressalta a professora Litwin (2001 p.17), “as peculiaridades do suporte tecnológico também permitem gerar atividades cognitivas diferentes das que se proporiam se não se contasse com elas”. Neste aspecto são variadas as possibilidades de comunicação argumentativa, relacionamento de hipóteses e solução de problemas mais complexos.

Destacando-se o conceito de comunicação argumentativa, ou competência comunicativa, a mediação tecnológica por via de um planejamento pedagógico de base construtivista, é um meio bastante eficiente de promover a discussão entre grupos.

Competência comunicativa é um conceito desenvolvido pelo filósofo Habermas que atribui à dialogia um papel preponderante para o desenvolvimento do ser humano na pós-modernidade. Para o filósofo, tal competência significaria a possibilidade de os falantes alcançarem um acordo consensual através de argumentos sinceros e válidos. A linguagem, portanto, é central na teoria da Ação Comunicativa de Habermas. Isto significa que, em qualquer processo ensino-aprendizagem, a força da comunicação, do diálogo, da solidariedade no ouvir e da democracia ao falar são elementos que rompem com uma característica tão arraigada em nós: a aprendizagem individual, fragmentária, autoritária, ou seja, o que Paulo Freire chamara de “educação bancária”.

Provocar esta ruptura na prática, na ação, não é, portanto, uma tarefa fácil. Desenvolver uma dinâmica que envolva a problematização dos temas, que vise à construção de novos conceitos e que motive a crítica dos valores e normas estabelecidas requer um planejamento extremamente cuidadoso. Enfim, nos dizeres da professora Edith Litwin a respeito da mediação tecnológica:

Em suma, adaptar-se aos desenvolvimentos tecnológicos resulta na capacidade para identificar e por em prática novas atividades cognitivas, pois as tecnologias vão gerando permanentemente possibilidades diferentes; daí sua condição particular de ferramenta. A colaboração que prestam permite aos estudantes transcender a ideia de eficiência na medida em que implica menos tempo e menos esforço, mas, além disso, possibilita novas relações com o conhecimento no âmbito das mediações com os contextos culturais (LITWIN, 2001, p.18)

Um projeto pedagógico a distância requer assim a superação de vários desafios: o desafio da flexibilidade, da autonomia do alunado, do uso da tecnologia como mediatizadora de uma relação biunívoca, interativa, do pensar, ao planejar com base numa proposta construtivista. Contudo, como alerta Litwin, não se deve perder o sentido político desta nova proposta, ou seja, identificar a proposta de ensino e a concepção de aprendizagem subjacente. O grande desafio da EAD consiste em ser uma modalidade que permite a democratização do ensino através da uma proposta pedagógica consistente, reflexiva, que promova a interação e a construção do saber.

As gerações de EAD

A EAD não é praticada há pouco tempo. No mundo, desde meados do séc. XIX (1840) o ensino por correspondência surgiu como solução para desenvolver as habilidades necessárias ao processo de industrialização que se iniciava. Instituições particulares nos Estados Unidos e na Europa ofereciam cursos por correspondência destinados ao ensino de temas e problemas vinculados a ofícios ligados eminentemente ao mundo industrial, portanto de cunho bastante instrumental e pouco acadêmico. Só depois de algumas décadas de desenvolvimento é que a EAD conseguiu se estabelecer como modalidade de ensino.

Em 1892 a Universidade de Chicago instituiu um curso por correspondência, incorporando os estudos da modalidade na universidade. Em princípios do século XX, outras instituições – por exemplo, a Calvert, em Baltimore – desenvolveram cursos para a escola primária. Em 1930, identificamos 39 universidades norte-americanas que oferecem cursos a distância. (LITWIN, 2001, p.15)

Mas foi só a partir da década de 60 que surgiram as primeiras universidades a distância. Como exemplo, destaca-se a Universidade de Wisconsin, marco da EAD nos Estados Unidos. Já a Universidade Aberta da Grã-Bretanha, conhecida como Open University, trouxe uma proposta revolucionária, segundo Litwin, por utilizar uma arquitetura complexa, unificando materiais impressos, televisão e cursos intensivos em períodos de recesso de outras universidades convencionais. Seus alunos competiam em pé de igualdade com os graduados de universidades presenciais, o que fez da Open University um modelo de ensino a distância.

Na América Latina, destaca-se a Universidade Aberta da Venezuela ou a Universidade Estatal a Distância da Costa Rica como instituições que adotaram, na década de 60 o modelo inglês da Open University.

Ressaltam-se ainda estabelecimentos criados que não seguiram o modelo dos países desenvolvidos tais como a Universidade Autônoma do México, o Sistema de Educação a Distância da Universidade de Brasília, o Sistema de Educação a Distância da Universidade de Honduras, e os Programas de Educação a Distância da Universidade de Buenos Aires. Mas que se firmaram incorporando todos os sistemas de capacitação, a mestrados, a pós-graduações, demonstrando as excelentes possibilidades da modalidade para a educação permanente. (LITWIN,2001, p.18)

Mas não é só para atender aos estudos acadêmicos que a Educação a Distância veio se desenvolvendo. Associações profissionais, sindicatos, entidades comerciais e até universidades corporativas criaram um nicho de mercado voltado para a educação de interesse profissional. Pode-se dividir em cinco as principais modalidades de EAD que ainda convivem simultaneamente:

  1. Ensino por correspondência: livros e tarefas comentadas.
  2. EAD clássico: através de material impresso, rádio, televisão, assistência domiciliar e/ou em centros de estudo.
  3. EAD grupal: rádio/TV e encontros presenciais regulares.
  4. EAD autônomo: os estudantes planejam, organizam e programam seus estudos por si próprios.
  5. EAD via WEB: o objetivo é o de desenvolver trabalhos colaborativos.

Resumo:

  1. Ensino por Correspondência
  2. EaD clássico: material impresso, rádio
  3. EaD grupal: TV
  4. EaD autônomo:
  5. EaD via WEB

Para Gutierrez e Prieto (1994, apud CORREIA, J.,2007) são inúmeras as vantagens da EAD como modalidade de ensino que veio para superar as distâncias e as limitações de recursos, sendo que por causa disso seu principal diferencial com relação ao ensino presencial é a própria democratização da educação. Para os autores, as vantagens mais visíveis da EAD são:

  1. massividade espacial
  2. menor custo por estudante
  3. diversificação da população escolar
  4. individualização da aprendizagem
  5. quantidade (sem perda de qualidade)
  6. autodisciplina de estudo

No Brasil, a EAD surgiu como necessidade de corrigir fracassos do sistema educacional brasileiro, que não conseguia universalizar e democratizar o ensino, menos por uma questão geográfica – dimensões continentais do país – e mais por uma opção política no uso dos fundos públicos.

A primeira experiência registrada no Brasil em EAD foi em 1923 através da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro e Radiodifusão (Roquete Pinto). Registram-se também as experiências em 1941, do Instituto Universal Brasileiro (cursos por correspondência). Na década de 70 do século passado evidenciam-se os projetos Minerva (1970), através do rádio e a atuação do SENAC, através da Teleducação. Mas foi só a partir de 2000 que surgiram as primeiras Universidades credenciadas pelo MEC para oferecerem cursos a distância. (CORREIA, J.,2007)

Para fins didáticos, mas não excludentes entre si, podemos classificar programas e experiências de EAD por gerações, que se as caracterizam pela utilização de determinadas tecnologias de informação e comunicação. São elas, conforme tabela a seguir:

1ª Geração

2ª Geração

3ª Geração

Material impresso

Rádio e TV

Telecomunicação e informática

Atingir alunos sem acesso ao ensino presencial

Atingir alunos sem acesso ao ensino presencial

Propiciar educação continuada

Instrução programada

Massividade passiva

Mediação bidirecional

Via correios

Via rádio, TV e material audiovisual

Via satélites, ciberespaço, e videoconferência

Atender o aluno via deslocamento

Atendimento via contatos telefônicos

Atendimento via contatos eletrônicos

Interação aluno com material didático

Interação aluno com material didático

Interação alunos / colegas / material  didático / professores / tutores

 

Assim, a primeira geração de EAD marca o meio de comunicação através do material impresso. Nesta geração, a universalização da educação dependia do atendimento eficaz dos correios. É uma geração marcada pela educação autodidata. Já na 2a geração de EAD, ainda que permaneça o objetivo da universalização do ensino, a mediação via rádio e posteriormente pelos projetos televisivos trazia algo de novo ao processo, sem, contudo, permitir uma relação biunívoca entre estudante e professor. No máximo as dúvidas poderiam ser sanadas via telefone ou fax. A característica principal era a massificação do ensino sem, contudo, ser possível a interação entre alunos e entre estes e o professor.

É, porém, na terceira geração de EAD que o item interação será possível com o desenvolvimento da microeletrônica que permitiu o uso do computador em redes, de forma síncrona (ao mesmo tempo, on-line) ou assíncrona (via correio eletrônico). O objetivo da EAD se modifica: abraçar a educação continuada e não qualquer nível educacional. Os programas de graduação e mais recentemente de pós-graduação são os mais destacados nesta geração. Através de contatos eletrônicos é possível a mediação professor-aluno, permitindo total integração numa sala de aula virtual com todas as mídias dispostas: Material didático, fóruns de discussão, videoconferência, chats e etc.

Síntese: O tema “A modalidade Educação a Distância (EAD)”, objetivou trazer informações a respeito da evolução da estrutura de concepção da Educação a Distância, suas bases legais e gerações. Ressalta-se, neste tema, que a atual geração de educação EAD pretende ser concebida com base na construção do saber, através de uma educação autônoma e reflexiva. Através da internet e das funcionalidades das ferramentas de interação (especialmente dos fóruns de discussão) será possível quebrar paradigmas tradicionais.

Atividade: Para aprofundar ainda mais o debate, leia o texto para discussão de Luís Cláudio Dallier Saldanha: “CONCEPÇÕES E DESAFIOS NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA “ e reflita sobre as seguintes questões, levantando os pontos em que concorda ou discorda. (Link para o texto)

  • Autonomia do aluno em EAD não significa autodidatismo.
  • O papel das TIC (Tecnologias da Comunicação) no processo de interatividade.
  • Mais tecnologia não significa mais aprendizagem.

Vídeo: Simples mas com uma mensagem boa. Assistam.

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