Behaviorismo
O behaviorismo (do inglês behavior = comportamento) é o conjunto de abordagens, nascidas nos séculos XIX e XX, que propõe o comportamento publicamente observável como objeto de estudo da psicologia. Alguns consideram John B. Watson (1878-1958) o fundador do Behaviorismo Metodológico por conta de seu manifesto, de 1913, no qual afirma: “A psicologia, como um behaviorista a vê, é um ramo puramente objetivo da Ciência Natural. Seu objetivo teórico é a previsão e o controle do comportamento. A introspecção não é parte essencial de seu métodos […] o behaviorista, em seus esforços para conseguir um esquema unitário das respostas animais, não reconhece uma linha divisória entre homem e besta.” (1913, p. 1, colchetes adicionados). Watson defendia o abandono da terminologia mentalista da “psicologia da consciência” de seu tempo. A rejeição da introspecção como método essencial e a rejeição da “psicologia da consciência” de seu tempo não significou uma rejeição ao estudo comportamental de pensamentos, sentimentos e emoções, como demonstra, por exemplo, o interesse de Watson sobre o tratamento de medo por meio do condicionamento clássico.
Como precedentes do comportamentalismo podem ser destacados os fisiólogos russos Vladimir M. Bechterev (1857-1927), Ivan P. Pavlov (1849-1936), o psicológo Edward L. Thorndike (1874-1949), da psicologia animal comparada.
Bechterev, grande estudioso de neurologia e psicofisiologia, foi o primeiro a propor uma Psicologia cuja pesquisa se baseia no comportamento, em sua Psicologia Objetiva.
Pavlov, por sua vez, foi o primeiro a propor o modelo de condicionamento do comportamento conhecido como reflexo condicionado, e tornou-se conceituado com suas experiências de condicionamento com cães. Sua obra inspirou a publicação, em 1913, do artigo Psychology as the Behaviorist views it, de John B. Watson. Este artigo apresenta uma contraposição à tendência até então mentalista (isto é, internalista, focada nos processos psicologicos internos, como memória ou emoção) da Psicologia do início do século XX, além de ser o primeiro texto a usar o termo “behaviorismo”. Também é o primeiro artigo da vertente denominada “behaviorismo clássico”.
Thorndike foi o criador da lei do efeito. Em sua primeira formulação, em sua tese de doutorado em 1898 (Inteligência Animal), atos são fortalecidos ou enfraquecidos por conta de seu resultado e, respectivamente, seu prazer e desconforto resultante. Em uma formulação posterior (1911, o livro “A lei do efeito”), Thorndike substitiu “prazer” por um termo não hedonistas: “satisfação”. Thorndike também foi um ávido defensor do método experimental ao propôr o abandono do método anedótico no contexto da psicologia animal comparada (Abib, 2016, Behaviorismos, reflexões históricas e conceituais, volume 1, capítulo 5).
Tipos de behaviorismo
Behaviorismo clássico
O “behaviorismo clássico” (também conhecido como “behaviorismo watsoniano”, menos comumente “Psicologia S-R” e “Psicologia da Contração Muscular”) apresenta a Psicologia como um ramo puramente objetivo e experimental das ciências naturais. A finalidade da Psicologia seria, então, prever e controlar o comportamento de todo e qualquer indivíduo.
A proposta de Watson era abandonar, ao menos provisoriamente, o estudo dos processos mentais, como pensamento ou sentimentos, mudando o foco da Psicologia, até então mentalista, para o comportamento observável. Para Watson, a pesquisa dos processos mentais era pouco produtiva, de modo que seria conveniente concentrar-se no que é observável, o comportamento. No caso, comportamento seria qualquer mudança observada, em um organismo, que fossem consequência de algum estímulo ambiental anterior, especialmente alterações nos sistemas glandular e motor. Por esta ênfase no movimento muscular, alguns autores referem-se ao “behaviorismo clássico” como “Psicologia da Contração Muscular”
O behaviorismo clássico partia do princípio de que o comportamento era modelado pelo paradigma pavloviano de estímulo e resposta conhecido como condicionamento clássico. Em outras palavras, para o behaviorista clássico, um comportamento é sempre uma resposta a um estímulo específico. Esta proposta viria a ser superada por comportamentalistas posteriores, porém. Ocorre de se referirem ao comportamentismo clássico como Psicologia S-R (sendo S-R a sigla de Stimulus-Response (estímulo-resposta), em inglês).
É importante notar, porém, que Watson em momento algum nega a existência de processos mentais. Para Watson, o problema no uso destes conceitos não é tanto o conceito em si, mas a inviabilidade de, à época, poder analisar os processos mentais de maneira objetiva. De fato, Watson não propôs que os processos mentais não existam, mas sim que seu estudo fosse abandonado, mesmo que provisoriamente, em favor do estudo do comportamento observável. Uma vez que, para Watson, os processos mentais devem ser ignorados por uma questão de método (e não porque não existissem), o comportamentismo clássico também ficou conhecido pela alcunha de “behaviorismo metodológico”.
Watson era um defensor da importância do meio na construção e desenvolvimento do indivíduo. Ele acreditava que todo comportamento era consequência da influência do meio, a ponto de afirmar que, dado algumas crianças recém-nascidas arbitrárias e um ambiente totalmente controlado, seria possível determinar qual a profissão e o caráter de cada uma delas. Embora não tenha executado algum experimento do tipo, por razões óbvias, Watson executou o clássico e controvertido experimento do Pequeno Albert, demonstrando o condicionamento dos sentimentos humanos através do condicionamento responsivo.
Behaviorismo Metodológico
O Behaviorismo Metodológico, atribuído a John B. Watson, surgiu em oposição à introspecção e ao mentalismo. Watson argumentava que qualquer observador pode medir objetivamente o comportamento publicamente observável justamente porque, diferentemente dos processos cognitivos, que são privados, o comportamento é público. Duas pessoas podem observar o mesmo comportamento – por exemplo, um rato virando à direita num labirinto – e concordar com o que observam. Em seu manifesto de 1913, afirmou: “A psicologia, como um behaviorista à vê, é um ramo puramente objetivo da Ciência Natural. Seu objetivo teórico é a previsão e o controle do comportamento. A introspecção não é parte essencial de seu métodos […] o behaviorista, em seus esforços para conseguir um esquema unitário das respostas animais, não reconhece uma linha divisória entre homem e besta.” (1913, p. 1, colchetes adicionados).
Neobehaviorismo Mediacional
O behaviorismo clássico postulava que todo comportamento poderia ser modelado por conexões S-R (Estímulo-Resposta); entretanto, vários comportamentos não puderam ser modelados desta maneira. Em resposta a isso, vários psicólogos propuseram modelos behavioristas diferentes em complemento ao behaviorismo Watsoniano. Destes podemos destacar Edward C. Tolman, primeiro psicólogo do comportamentalismo tradicionalmente chamado Neobehaviorismo Mediacional.
Behaviorismo Radical
Behaviorismo Radical, postulado por B. F. Skinner e adotado por vários outros psicólogos, como Ferster, Sidman, Schoenfeld, Catania, Hineline, Jack Michael, etc., surgiu na área da Psicologia como uma proposta filosófica e como um projeto de pesquisa em oposição ao behaviorismo metodológico de orientação positivista. O Behaviorismo Radical é o campo filosófico da análise do comportamento.
As questões trabalhadas no Behaviorismo Radical avaliam a repercussão e a validade das pesquisas científicas experimentais no estudo do comportamento. Skinner teve como referência as idéias dos filósofos da ciência, incluindo Percy Bridgeman, Ernst Mach e Jules Henri Poincaré. Esses criaram novos modelos de pensamento explanatório que não dependiam de nenhuma subestrutura metafísica. No decorrer de sua obra, Skinner teorizou que a lógica do modelo de seleção natural de Darwin também poderia ser aplicada ao comportamento dos indivíduos como um novo modelo causal diferente do mecanicismo.
Para Skinner, o behaviorismo radical seria um caso especial da filosofia da ciência: “não é a ciência do comportamento humano, é a filosofia dessa ciência” [A análise do comportamento]. Ele busca compreender questões humanas, como “comportamento”, “liberdade” e “cultura”, dentro do modelo de seleção por consequências, e rejeitando o uso de variáveis não-físicas (sem dimensão no tempo-espaço).
Um filósofo behaviorista radical defende que as diferentes explicações sobre o comportamento humano deveriam ser resolvidas na base de evidências refutáveis, e não de abstratas especulações. O behaviorismo radical foi concebido em experimentos realizados sob o rigor da produção de conhecimento científico. Desenvolvido dentro de um laboratório, sob condições controladas, é um método passível de reaplicação.
Entendido como pensamento filosófico, o Behaviorismo radical não deve ser confundido com a análise do comportamento. Isso porque a análise do comportamento é, além de um campo filosófico (Behaviorismo Radical), um campo de Pesquisa Básica (Análise Experimental do Comportamento) e um campo de aplicação de conhecimentos e técnicas (Análise Aplicada do Comportamento). A análise do comportamento é uma ciência do comportamento, e tratando de aplicação de uma ciência do comportamento, sua prática não se dá em ambiente sob condições controladas, e sim, no ambiente comum a todos os homens e mulheres: o planeta que habitamos.
Comportamento
Um primeiro aspecto fundamental do Behaviorismo radical é a compreensão do conceito “comportamento humano”.
O termo “comportamento” descreve uma relação, um intercâmbio entre o organismo e o ambiente. Mais precisamente, descreve uma relação entre atividades do organismo, que são chamadas de respostas, e eventos ambientais, que são chamados genericamente de estímulos. Define-se “comportamento” como a relação entre estímulo e resposta.
Essa relação só poderá ser bem compreendida se acrescentarmos o fato que não se deve limitar metodologicamente o significado de estímulos e respostas que estabelecem a relação (comportamento). Além disso, para o behaviorismo radical emoção e sentimentos são comportamentos e que podem ser parcialmente observáveis através da análise dos comportamentos verbal e não-verbal do sujeito. Pensamento, conhecimento e memória também são comportamentos, porém são comportamentos tácitos, ou seja, não observáveis diretamente mas que podem ser analisados quando expressados e também estão sujeitos aos esquemas de condicionamento assim como os comportamentos observáveis.
Ambiente
O termo “ambiente”, no Behaviorismo radical, deve ser entendido como “a situação” na qual o responder acontece, bem como à situação posterior ao responder, ou seja, a resposta altera o ambiente. Para o behaviorismo ambiente inclui não só o local com o qual o sujeito interage como também todos os objetos e seres vivos incluídos nessa interação e o próprio organismo, nesse caso denominado como ambiente interno.
Respostas
A princípio, um organismo vivente está sempre respondendo, mesmo que tais respostas não sejam acessíveis publicamente. Ou seja, pode-se falar de respostas manifestas, observáveis por mais sujeitos, e respostas encobertas, que podem ser observadas apenas pelo organismo que as emitiu.
Estímulos
Os eventos do ambiente podem ser, no Behaviorismo radical, estímulos físicos e estímulos sociais. Os primeiros são descritos pelas ciências naturais, os últimos se caracterizam pelo fato de serem produzidos por outro organismo. Se forem produzidos por seres humanos, são produtos culturais. Do mesmo modo, pode-se falar de eventos ambientais “públicos” e “privados”. Os primeiros são acessíveis de forma independente por mais observadores, os últimos, apenas pelo organismo por eles afetado.
Modelagem
Modelagem: modificação de alguma propriedade do responder através do reforçamento diferencial, em uma série de passos, de um desempenho inicial até um desempenho final.* Cf. fading, modelação.
Teoria cognitiva
A Teoria Cognitiva foi criada pelo suíço Jean Piaget para explicar o desenvolvimento cognitivo humano. Essa característica da sua obra a tornou uma das maiores contribuições para a psicologia do desenvolvimento, pois muitos psicólogos incluindo Piaget tiveram a certeza que a construção do ser humano é um processo que vai acontecendo ao longo da vida das crianças.
Destacamos que a pesquisa feita por Piaget foi realizada por meio de observação de seus filhos, ele anotava o crescimento dia a dia. De acordo com esta teoria, o desenvolvimento cognitivo humano é dividido em 4 estágios.
Sensório-motor (24 meses)
No estágio sensório-motor, que dura do nascimento até aproximadamente os dois anos de idade, a criança busca adquirir controle motor e aprender sobre os objetos que a rodeiam. Esse estágio é chamado sensório-motor, pois o bebê adquire o conhecimento por meio de suas próprias ações que são controladas por informações sensoriais imediatas. Nesse período o desenvolvimento físico é o suporte para o aparecimento de novas habilidades, como sentar, andar, o que propiciara um domínio maior do ambiente.
Ao fim do período, por volta dos dois anos, a criança apresenta uma atitude mais ativa e participativa, é capaz de entender algumas palavras, mas produz uma fala imitativa. Nesse período, a inteligência prática é assentada na percepção e na motricidade. Essa inteligência é utilizada a partir de seus esquemas sensoriais e motores, provindos dos reflexos genéticos, para solucionar problemas imediatos como pegar, jogar ou chutar bola.
O estágio subdivide-se em até 6 subestágios nos quais o bebê apresenta, desde reflexos, até o início de uma capacidade representacional ou uso de símbolos.
As principais características observáveis durante essa fase, que vai aproximadamente até os dois anos de idade da criança são:
- a exploração manual e visual do ambiente;
- a experiência obtida com ações, a imitação;
- a inteligência prática (através de ações);
- ações como agarrar, sugar, atirar, bater e chutar;
- a coordenação das ações irá proporcionar o surgimento do pensamento;
- a centralização no próprio corpo;
- a noção de permanência do objeto;
Pode-se dizer que no Período Sensório-motor a criança conquista, através da percepção e dos movimentos, o universo imediato que a cerca. Ela descobre que, se puxar a toalha da mesa, o pote de bolacha ficará mais próximo dela (conduta do suporte).
Pré-operatório (2 a 7 anos)
O segundo estágio de desenvolvimento considerado por Piaget é o estágio pré-operatório, que coincide com a fase pré-escolar e vai dos dois anos de idade até os sete anos, em média.
Nesse período, as características mais importantes são:
- inteligência simbólica;
- o pensamento egocêntrico, intuitivo e mágico;
- a centração (apenas um aspecto de determinada situação é considerado);
- a confusão entre aparência e realidade;
- ausência da noção de reversibilidade;
- o raciocínio transdutivo (aplicação de uma mesma explicação a situações parecidas);
- a característica do animismo (vida a seres inanimados).
De acordo com Pedrosa & Navarro, os cinco aspectos mais importantes do pensamento neste estágio são:
Egocentrismo: são incapazes de compreender as coisas de outro ponto de vista que não seja o seu. Tem a tendência de tomar o seu ponto de vista como o único, sem compreender o dos demais por estar centrados em suas ações. O egocentrismo se caracteriza basicamente por uma visão de realidade que parte do próprio eu.
Dificuldades de transformação: são incapazes de compreender os processos que implicam mudança. Seu pensamento é estático, estão sempre no momento presente, não considerando os anteriores, nem antecipando o futuro.
Irreversibilidade: são incapazes de compreender um processo inverso ao observado. Seu pensamento é irreversível.
Centralização: incapacidade para se centrar em mais de um aspecto da situação. São incapazes de globalizar.
Não conservação: não são capazes de compreender que a quantidade pode permanecer embora mude seu aspecto ou aparência. No exemplo da figura em massa de modelar, não entenderiam que a quantidade seria a mesma com qualquer formato que assumisse.
Neste estágio os padrões de pensamento sensório-motor evoluem para um incremento da capacidade de usar símbolos e imagens dos objetos do ambiente.
Essa fase é marcada pelo aparecimento da linguagem oral, que lhe dará possibilidade de ir além de utilizar a inteligência prática decorrente dos esquemas sensoriais e motores, formados na fase anterior.
A criança desenvolve a linguagem, as imagens mentais e jogos simbólicos, assim como muitas habilidades preconceituais. Apesar disso, o pensamento e a linguagem estão reduzidos, no geral, ao momento presente e a acontecimentos concretos.
Desenvolve atividade de comunicação de tipo informativo e também de controle da conduta dos outros, isto é, pede, pergunta, dá ordens, etc., para provocar as condutas que deseja em outros. A criança já antecipa o que vai fazer, desenvolve o pensamento, no final do período começa a querer saber a razão causal e finalista de tudo, é a famosa fase dos (porquês).
Seu raciocínio é intuitivo, está ligado às suas próprias percepções e às aparências das situações.
Inteligência simbólica ou intuitiva.
Pré-raciocínio lógico.
- Inicia imagem mental → memória de reconhecimento dá lugar a memória de evocação (nomes de coisas e pessoas que ela conhece)
- Linguagem → criança grava a imagem das coisas com nome → simbolismo linguagem → gestos, linguagem, brincar de faz-de-conta ou jogo simbólico
Acontecimentos do pré-operatório:
- interiorizar a palavra
- socialização da ação – brinca sozinha mas a dois sem interação
- desenvolve a intuição – interiorização da ação, antes perceptiva-motora, passa ao plano intuitivo das imagens e experiências mentais.
Outras características:
- Intuição – conhecimento que se obtém pela percepção imediata buscada na aparência do objeto.
- Imitação diferida – imitação na ausência do objeto imitado. Indica a formação de imagem mental
- Ludicidade – o não comprometimento com a verdade.
- Pensamento egocêntrico – sua percepção como centro. Só entende a relação numa direção (em relação a ela).
- Assimilação deformante da realidade – a criança não pensa o pensamento lógico e sim, brinca com a realidade.
O pensamento egocêntrico ou intuitivo têm várias características:
- justaposição – colocar coisas lado a lado sem conexão lógica
- transdutivo – vai do particular para o particular
- sincretismo – misturar conceitos de referenciais diferentes
- ausência de reversibilidade
Animismo, antropomorfismo, artificialismo (natureza toda feita pelo homem) e finalismo (pra que serve?)
Ao final do estágio sensório-motor → coordenação de esquemas Ao final do pré-operatório → coordenação de ações
Operatório concreto (7 a 11/12 anos)
No estágio operatório concreto, que dura dos 7 aos 11 anos de idade em média, a criança começa a utilizar conceitos como os números e relações. Esse estágio passa a manifestar-se de modo mais evidente o que coincide (ou deve coincidir) com o início da escolarização formal é caracterizado por uma lógica interna consistente e sistemática e pela habilidade de solucionar problemas concretos. Neste momento, o declínio no egocentrismo passa a ser mais visível. O declínio do egocentrismo se estende à linguagem, que se torna mais socializada, e a criança será capaz de levar em conta o ponto de vista do outro, assim objetos e pessoas passam a ser mais bem explorados nas interações das crianças.
- Por volta dos 7 anos, o equilíbrio entre a assimilação e a acomodação torna-se mais estável;
- Surge a capacidade de compreender o processo inverso ao observado, ou seja, a reversibilidade;
- Surge a capacidade de fazer análises lógicas;
- Declina o egocentrismo, ou seja, dá-se um aumento da empatia com os sentimentos e as atitudes dos outros;
- Mesmo antes deste estágio a criança já é capaz de ordenar uma série de objetos por tamanhos e de comparar dois objetos indicando qual é o maior, mas ainda não é capaz de compreender a propriedade transitiva (A é maior que B, B é maior que C, logo A é maior que C). No início deste estágio a criança já é capaz de compreender a propriedade transitiva, desde que aplicada a objetos concretos que ela tenha visto;
- Começa sucessivamente a compreender a conservação das quantidades, do peso e do volume, etc.
- Neste estágio, também algumas características das crianças começam a ser aprimoradas, como por exemplo: se concentram mais nas atividades, colaboram mais com os colegas, apresentam responsabilidade e respeito mutuo e participações em grupo.
Operatório formal (12 anos em diante)
No estágio operatório formal – desenvolvido a partir dos 12 anos de idade em média – o adolescente começa a raciocinar lógica e sistematicamente. Esse estágio é definido pela habilidade de engajar-se no raciocínio proposicional. As deduções lógicas podem ser feitas sem o apoio de objetos concretos. Aprende a criar conceitos e ideias.
Diferente do período anterior, agora o adolescente tem o pensamento formal abstrato. Ele não necessita mais de manipulação ou referência concreta. No lado social a vida em grupo é um aspecto significativo junto com o planejamento de ações coletivas. Reflete sobre a sociedade e quer transformá-la, mais tarde vem o equilíbrio entre pensamento e realidade.
O pensamento hipotético-dedutivo é o mais importante aspecto apresentado nessa fase de desenvolvimento, pois o ser humano passa a criar hipóteses para tentar explicar e sanar problemas, o foco desvia-se do “é” para o “poderia ser”.
As bases do pensamento científico aparecem nessa etapa do desenvolvimento.
Equilíbrio e acomodação
O modelo de equilibração de Piaget distingue entre equilíbrio e acomodação, onde o primeiro é reservado para os patamares evolutivos de adaptação e o segundo para o processo responsável pela passagem de um patamar de menor equilíbrio para um de maior equilíbrio.
A acomodação é um conceito desenvolvido por Jean Piaget que descreve mecanismos da adaptação do indivíduo, com o objectivo de estruturar e impulsionar seu desenvolvimento cognitivo.
Este conceito tem relação direta com a teoria do Socioconstrutivismo, da qual Piaget era adepto. Segundo Piaget, a acomodação é um dos dois modos pelo qual os esquemas mentais existentes se modificam, devido às experiências e relações com o meio. Seria, de acordo com essa ideia, o movimento que o organismo realiza para se submeter às exigências exteriores, adequando-se a estas últimas. O outro mecanismo da adaptação é a assimilação. A regulação entre ambos os processos é chamada equilibração. Ainda de acordo com a teoria, em algumas atividades mentais predomina a assimilação (jogo simbólico) e em outras predomina a acomodação (reprodução).
Para Piaget, o desenvolvimento do indivíduo, em termos cognitivos sempre passa por equilíbrios e desequilíbrios, com mínima interferência externa, tanto orgânica como ambiental. Por exemplo, a inteligência seria uma assimilação, pois esta incorporaria dados da experiência no indivíduo. Assim, uma vez que ele assimilou intelectualmente uma nova experiência, vai formar um novo esquema ou modificar o esquema antes vigente. Então, na medida em que o ser humano compreende o novo conhecimento, dele se apropriando, se acomoda, passando a considerar aquilo como normal, o que traz o retorno à situação de equilíbrio. Esse período que a pessoa assimila e se acomoda ao novo é chamado de adaptação. Pode-se dizer, que dessa forma, se dá o processo de evolução do desenvolvimento humano.
Aprendizagem mediada
Para Vygotsky, o professor é figura essencial do saber por representar um elo intermediário entre o aluno e o conhecimento disponível no ambiente.
No início da infância, explorar o ambiente é uma das maneiras mais poderosas que a criança tem (ou deveria ter) à disposição para aprender. Ela se diverte ao ouvir os sons das teclas de um piano, pressiona interruptores e observa o efeito, aperta e morde para examinar a textura de um ursinho de pelúcia e assim por diante. Essa lista de atividades, entretanto, pode dar a impressão de que, para adquirir saberes, basta o contato direto com o objeto de conhecimento. Na realidade, boa parte das relações entre o indivíduo e seu entorno não ocorre diretamente. Para levar a água à boca, por exemplo, a criança utiliza um copo. Para alcançar um brinquedo em cima da mesa, apoia-se num banquinho. Ao ameaçar colocar o dedo na tomada, muda de ideia com o alerta da mãe – ou pela lembrança de um choque. Em todos esses casos, um elo intermediário se interpõe entre o ser humano e o mundo.
Em sua obra, o bielorrusso Lev Vygotsky (1896-1934) dedicou espaço a estudar esses filtros entre o organismo e o meio. Com a noção de mediação, ou aprendizagem mediada, o pesquisador mostrou a importância deles para o desenvolvimento dos chamados processos mentais superiores – planejar ações, conceber consequências para uma decisão, imaginar objetos etc.
Tais mecanismos psicológicos distinguem o homem dos outros animais e são essenciais na aquisição de conhecimentos. Vygotsky demonstrou essa característica referindo-se a diversos experimentos realizados com animais. Num deles, um macaco conseguia pegar uma banana no alto de uma jaula se visse um caixote no mesmo ambiente. No entanto, se não houvesse o caixote, o símio nem sequer cogitaria buscar outro objeto que o aproximasse de seu objetivo. O ser humano, por outro lado, agiria de forma diferente. “Enquanto o macaco precisa ver o instrumento, o ser humano consegue imaginá-lo ou conceber outro com a mesma função”, afirma Marta Kohl de Oliveira, professora da Universidade de São Paulo (USP).
Elementos mediadores: os instrumentos e os signos
O exemplo também é útil para distinguir os dois tipos de elementos mediadores propostos por Vygotsky. O primeiro são os instrumentos. Ao se interpor entre o homem e o mundo, eles ampliam as possibilidades de transformação da natureza: o machado permite um corte mais afiado e preciso, uma vasilha facilita o armazenamento de água etc. Alguns animais, sobretudo primatas, podem até utilizá-los eventualmente, mas é o homem que concebe um uso mais sofisticado: guarda instrumentos para o futuro, inventa novos e deixa instruções para que outros os fabriquem.
O segundo elemento mediador, o signo, é exclusivamente humano. Na definição do dicionário Houaiss, signo é “qualquer objeto, forma ou fenômeno que representa algo diferente de si mesmo”. A linguagem, por exemplo, é toda composta de signos: a palavra cadeira remete ao objeto concreto cadeira. Perceba que você certamente pode imaginar uma agora mesmo sem a necessidade de vê-la. Para o homem, a capacidade de construir representações mentais que substituam os objetos do mundo real é um traço evolutivo importante: “Ela possibilita libertar-se do espaço e do tempo presentes, fazer relações mentais na ausência das próprias coisas, fazer planos e ter intenções”, escreve Marta no livro Vygotsky: Aprendizado e Desenvolvimento, um Processo Sócio-Histórico.
A mesma característica também é fundamental para a aquisição de conhecimentos, pois permite aprender por meio da experiência do outro (leia o trecho de livro na terceira página). Uma criança, por exemplo, não precisa pôr a mão na chama de uma vela para saber que ela queima. Esse conhecimento pode ser adquirido, por exemplo, com o conselho da mãe. Quando o pequeno associa a representação mental da vela à possibilidade de queimadura, ocorre uma internalização do conhecimento – e ele já não precisa das advertências maternas para evitar acidentes.
Para Vygotsky, a interação (principalmente a realizada entre indivíduos face a face) tem uma função central no processo de internalização. No livro A Formação Social da Mente: O Desenvolvimento dos Processos Psicológicos Superiores, afirma que “o caminho do objeto até a criança e desta até o objeto passa por outra pessoa”. Por isso, o conceito de aprendizagem mediada confere um papel privilegiado ao professor.
É evidente que não se adquire conhecimentos apenas com os educadores: na perspectiva da teoria sociocultural desenvolvida por Vygotsky, a aprendizagem é uma atividade conjunta, em que relações colaborativas entre alunos podem e devem ter espaço (leia a questão de concurso na próxima página). “Mas o professor é o grande orquestrador de todo o processo. Além de ser o sujeito mais experiente, sua interação tem planejamento e intencionalidade educativos”, explica Maria Teresa de Assunção Freitas, docente da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
É preciso atenção, entretanto, para evitar uma deturpação no que diz respeito à aplicação prática da ideia de mediação. Por acreditarem que o aprendizado se dá apenas na relação entre indivíduos, alguns educadores apressam-se em organizar aulas em que todas as atividades são realizadas em grupo. Trata-se de um entendimento incorreto do conceito: não é porque a aquisição de conhecimentos ocorre, sobretudo, nas interações que estar sempre em contato com o outro é uma prerrogativa essencial às aulas. “Os momentos de internalização são essenciais para consolidar o aprendizado. Eles são individuais e reflexivos por definição e precisam ser considerados na rotina das aulas”, finaliza Maria Teresa.
https://novaescola.org.br/conteudo/274/vygotsky-e-o-conceito-de-aprendizagem-mediada# (12/10/2020)
Tema para Pesquisa
Procurar duas técnicas de educação para cada uma das correntes estudadas aqui.