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Aula 03 – Prática de Ensino a Computação I

Didática e Seus Elementos

Iniciaremos esta seção buscando responder o que é Didática, lembrando que qualquer conceito de Didática reflete a visão do processo educativo de seu tempo histórico, não surge de maneira gratuita, mas condicionado por fatores políticos, econômicos, socioculturais, tecnológicos. Aqui também refletiremos sobre os componentes do processo didático e as suas particularidades quando voltado para o ensino das pessoas adultas.

O termo didática deriva da expressão grega Τεχνή διδακτική (techné didaktiké), que se traduz por arte ou técnica de ensinar e indica a característica de realização lenta através do tempo, própria do processo de instruir.

“A formação da teoria didática para investigar as ligações entre ensino e aprendizagem e suas leis ocorre no século XVII, quando João Amós Comênio (1592-1670), um pastor protestante, escreve a primeira obra clássica sobre Didática, a Didacta Magna.” (Libâneo, p. 58)

Atualmente, a Didática pode ser compreendida como uma ciência, cujo objetivo fundamental é ocupar-se das estratégias de ensino, das questões práticas relativas à metodologia e das estratégias de aprendizagem. Sua busca de cientificidade se apoia em bases filosóficas, principalmente no que diz respeito à visão de educação e de mundo que cada educador constrói na sua caminhada e na sua práxis. Sintetizando, poderíamos dizer que ela funciona como o elemento transformador da teoria em prática.

Importante perceber que a prática docente não pode ser vista como algo neutro, livre de influências e contingências, pois a dinâmica social que permeia a vida do ser humano está presente na práxis de qualquer trabalhador.

Lembramos que, como formador de opinião, o educador jamais pode se furtar de se compreender como um intelectual que exerce uma profunda influência não só no campo pedagógico, mas em todo o mundo cognitivo, afetivo e social das pessoas que se relacionam com ele.

Os Componentes do Processo Didático

O objeto da didática é o processo de ensino, que, considerado no seu conjunto, inclui: os conteúdos, os métodos e formas organizativas do ensino, as atividades do professor e dos alunos e as diretrizes que regulam e orientam esse processo.

A finalidade do processo de ensino é proporcionar aos alunos os meios para que assimilem ativamente os conhecimentos, pois a natureza do trabalho docente é a mediação da relação cognoscitiva entre o aluno e as matérias de ensino. Ou seja, o ensino não é só transmissão de informações, mas também o meio de organizar a atividade de estudo dos alunos.

O ensino somente é bem-sucedido quando os objetivos do professor coincidem com os objetivos de estudo do aluno e é praticado tendo em vista o desenvolvimento das suas forças intelectuais. Ensinar e aprender, pois, são duas facetas do mesmo processo, e que se realizam em torno das matérias de ensino, sob a direção do professor.

Tradicionalmente, são considerados componentes da ação didática: a matéria, o professor, os alunos. Pode-se combinar estes componentes, acentuando-se mais um ou outro, mas a ideia corrente é a de que o professor transmite a matéria ao aluno.

Entretanto, o ensino, por mais simples que possa parecer à primeira vista, é uma atividade complexa: envolve tanto condições externas como condições internas das situações didáticas. Conhecer essas condições e lidar acertadamente com elas é uma das tarefas básicas do professor para a condução do trabalho docente.

Internamente, a ação didática refere-se à relação entre o aluno e a matéria, com o objetivo de apropriar-se dela com a mediação do professor. Entre a matéria, o professor e o aluno ocorrem relações recíprocas. O professor tem propósitos definidos no sentido de assegurar o encontro direto do aluno com a matéria, mas essa atuação depende das condições internas dos alunos, alterando o modo de lidar com a matéria.

Cada situação didática, porém, vincula-se a determinantes econômico-sociais, socioculturais, a objetivos e normas estabelecidos conforme interesses da sociedade e seus grupos, e que afetam as decisões didáticas.  Assim, a inter-relação entre professor e alunos não se reduz à sala de aula, implicando relações bem mais abrangentes (instituição, professor, aluno, as teorias da educação, práticas pedagógicas, objetivos educativos da instituição e dos professores, os conteúdos, as modalidades de comunicação docente) inseridas em um contexto econômico, social e cultural mais amplo e que afetam as condições reais em que se realizam o ensino e a aprendizagem.

Desse modo, o processo didático está centrado na relação fundamental entre o ensino e a aprendizagem, orientado para a confrontação ativa do aluno com a matéria sob a mediação do professor.

Esse processo desenvolve-se mediante a ação recíproca dos componentes fundamentais do ensino: os objetivos, os conteúdos, o ensino, a aprendizagem, os métodos, as formas e meios de organização das condições da situação didática, a avaliação.

Ao investir em capacitação, é crucial que as organizações e os profissionais envolvidos nesse processo tenham em mente as particularidades do ensino destinado ao adulto que discutimos na segunda seção deste curso. O planejamento de ensino, nessa circunstância, deve considerar os seguintes aspectos:

  • adultos aprendem quando engajados na solução de problemas do mundo real;
  • conhecimentos prévios ancoram novos conhecimentos;
  • novos conhecimentos devem ser demonstrados e aplicados;
  • novos conhecimentos devem ser integrados ao mundo real no qual se insere o aprendiz.

Para firmarmos nossa compreensão sobre esses aspectos, é importante reiterar o que Knowles (Knowles; Holton; Swanson, 2009, p. 121-122) estabelece como pressupostos distintivos das práticas pedagógicas e andragógicas.

Elemento Abordagem Pedagógica Tradicional Abordagem Andragógica
1. Preparar os aprendizes Mínima Fornecer informações

Preparar para a participação

Ajudar a desenvolver expectativas

realistas

Começar a pensar nos conteúdos

2. Clima Orientado à autoridade Formal Competitivo Tranquilo, confiante

Respeito mútuo

Informal, caloroso

Colaborativo, apoiador

Abertura e autenticidade

Humanidade

3. Planejamento Pelo professor Mecanismo de planejamento mútuo por aprendizes e facilitador
4. Diagnóstico de necessidades Pelo professor Por meio de avaliação conjunta
5. Definição de objetivos Pelo professor Por meio de negociação
6. Desenho dos planos de

aprendizagem

Lógica da matéria

Unidades de conteúdo

Sequenciado de acordo com a prontidão

Unidades de problemas

7. Atividades de aprendizagem Técnicas de transmissão Técnicas experienciais (vivência/indagação)
8. Avaliação Pelo professor Novo diagnóstico conjunto das

necessidades

Mensuração conjunta do programa

Ainda que, atualmente, a pedagogia esteja questionando seus pressupostos e práticas, particularmente no que se refere ao elemento ideológico e cultural, relativo à imagem de autoridade implícita em seus métodos (elementos da prática centrados no professor), esse quadro permite visualizar as diferenças básicas entre a prática pedagógica e o processo da andragogia ou ensino para adultos.

A Aula como Processo: Planejamento de Ensino

Entendemos a aula como sendo um processo voltado para o desenvolvimento de assuntos ou atividades, de maneira que todos venham a aumentar conhecimentos e desenvolver habilidades e atitudes, vinculadas aos temas ministrados. Muitos são os aspectos que envolvem esse processo… Iniciaremos conversando sobre planejamento.

Atualmente, em todos os setores da atividade humana, fala-se muito em planejamento. Mas afinal o que é planejar?

Podemos dizer que planejar é antecipar mentalmente uma ação, ou um conjunto de ações, a ser realizada. É buscar fazer algo incrível, essencialmente humano: o real ser comandado pelo ideal.

Note que a essência do planejamento envolve três dimensões: a ação a ser realizada, não uma ação qualquer, mas uma ação que visa a um resultado, e, por sua vez, tanto o resultado quanto a ação estão referidos a uma realidade a ser transformada.

Nesse processo, encontramos a integração de dois polos complementares: a ação e a reflexão, compondo uma metodologia dialética, em que, num movimento contínuo, jamais esgotado, a reflexão busca encontrar a teia de relações entre a ação e a realidade.

1. Realidade
2. Reflexão
3. Ação
1. Realidade Transformada
2. Reflexão
3. Ação
1. …

Nota do Professor

Apesar do material sugerir esta técnica para o planejamento de ensino, recomendo consultar outras técnicas de planejamento como PDCA que são ferramentas poderosas de gestão estratégica. Abaixo uma lista de algumas técnicas:

  1.  Diagrama de Pareto
  2. Diagramas de causa-efeito (espinha de peixe ou diagrama de Ishikawa)
  3. Histograma
  4. Folhas de verificação
  5. Gráficos de dispersão
  6. Cartas de controle
  7. Fluxograma
  8. PDCA
  9. FMEA
  10. 6 Sigma
  11. 5W2H 

A alteração da realidade é o grande desafio da humanidade, uma vez que por esta o ser humano se faz, se constitui enquanto tal, se transforma também. Nesse contexto é que se coloca a tarefa de planejar. Num sentido mais geral, podemos dizer que a atividade tipicamente humana consciente está constantemente marcada por um ato de planejamento, em que procuramos responder às perguntas que se seguem.

  • O que pretendo alcançar?
  • Em quanto tempo pretendo alcançar?
  • Como posso alcançar isso que pretendo?
  • O que fazer e como fazer?
  • Quais os recursos necessários?
  • O que e como analisar a situação a fim de verificar se o que pretendo foi alcançado?

Planejamento de Ensino

Observamos que, para uma aula se desenvolver em um ambiente participativo e acolhedor, é necessário que o facilitador de aprendizagem faça uma boa preparação, e isso se dá bem antes de ele entrar em sala de aula. Mas como se dá essa preparação?

De algum modo, com maior ou menor rigor, nós sempre planejamos as nossas aulas, não é verdade? Porém, como superar o planejamento espontâneo em direção ao planejamento consciente? Ou seja, como fazer um plano bem elaborado para que, de fato, as atividades em aula propiciem o máximo aproveitamento? Como tornar clara e precisa a nossa ação, sintonizando as nossas ideias, realidade e recursos para tornar mais eficiente a nossa prática?

Note que, em um processo de capacitação profissional, em que os resultados precisam ser mensuráveis e garantidos em curto prazo, a tomada de decisão sobre o que conseguir (objetivos) e como conseguir (estratégias) deve ser vista como fundamental.

Nesse processo, planejar significa refletir sobre as realidades existentes; estabelecer objetivos; estruturar os assuntos a serem desenvolvidos; prever, sistematicamente, as atividades e experiências que os aprendizes desenvolverão e vivenciarão, para garantir a consecução dos objetivos propostos, e verificar se o que foi feito corresponde ao que se pretendia fazer.

Assim, para iniciar o processo do planejamento de ensino, precisamos examinar:

  • o contexto identificado no mapeamento ou prospecção das necessidades da capacitação;
  • os pré-requisitos – enumerar os conhecimentos prévios necessários para a capacitação;
  • as características do público-alvo – considerando-se os fundamentos e princípios da aprendizagem de adultos, é importante conhecer os futuros aprendizes, ou seja, pesquisar as suas principais características;
  • o número de participantes e o tempo disponível para o evento de aprendizagem.

Em seguida, é necessário:

  • estabelecer ou descrever o objetivo geral da capacitação e os objetivos de aprendizagem de forma clara e precisa;
  • selecionar e sequenciar os conhecimentos, habilidades e atitudes adequados aos desempenhos desejados;
  • planejar as aulas e o material destinado à consecução desses objetivos (procedimentos didáticos);
  • executar a capacitação;
  • determinar se os objetivos foram alcançados;
  • aprimorar o planejamento para obter melhores resultados no futuro.

Lembramos que o planejamento é o processo de reflexão, de tomada de decisão. Plano é o produto, que como tal pode ser explicitado em forma de registro, de documento ou não. O planejamento, enquanto processo, é permanente. O plano, enquanto produto, é provisório. Assim, durante a execução da capacitação, precisamos retroalimentar os nossos planos a partir dos feedback e avaliações relacionados às atividades de aprendizagem, sem quebrar a sua unidade e continuidade.

Plano de um Evento de Aprendizagem

O que é?

O plano de um evento de aprendizagem é o registro da organização de um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes que vão ser desenvolvidos, mantendo-se coerência com a abordagem andragógica.

Componentes Básicos do Plano de um Evento de Aprendizagem

  • Nome do evento de aprendizagem – especificar a sua modalidade: curso, oficina, palestra, etc.
  • Docentes
  • Período
  • Carga horária
  • Público-alvo
  • Número de participantes
  • Justificativa – explicitar a importância em se realizar o evento de aprendizagem.
  • Objetivos – descrever de forma clara e precisa o que se pretende alcançar com o evento de aprendizagem (objetivo geral) e, no contexto concreto da sala de aula, do que o aprendiz será capaz ao final do evento (objetivos de aprendizagem).
  • Conteúdo – relacionar os principais tópicos que serão abordados no evento de aprendizagem.
  • Metodologia (Método de Ensino) – descrever como será desenvolvido o evento de aprendizagem, ou seja, como será a prática de ensino desenvolvida pelo facilitador de aprendizagem. O aspecto metodológico é muito importante, pois é a criação das condições adequadas para o trabalho educativo. No caso específico do ensino dirigido ao adulto, convém considerar os princípios andragógicos e sugerimos também a concepção de aprendizagem experiencial de Kolb, para viabilizar aulas criativas e produtivas a esse público.
  • Avaliação – apresentar como os alunos serão avaliados durante o evento de aprendizagem. Que tipos de avaliação serão feitos? Quantas serão? Como ocorrerá o processo? Importante lembrar que não devemos utilizar somente um instrumento de avaliação e que ela deve ser processual, ou seja, não deve acontecer somente ao final do curso.

Plano de Aula

O que é?

O plano de aula é a sistematização de todas as atividades que se desenvolvem no período de tempo em que o facilitador de aprendizagem e o aprendiz interagem numa dinâmica de ensino-prendizagem.

Componentes Básicos do Plano de Aula

  • Objetivos específicos de aprendizagem – cada aula deve ter os seus objetivos específicos de aprendizagem, estabelecidos para cada uma das atividades propostas. Eles são complementares e devem
    ser alcançados no contexto da sala de aula na medida em que se busca o objetivo geral do evento de aprendizagem, em espaços de tempo mais curtos. Importante: os objetivos específicos de aprendizagem devem ser expressos em termos de ações e atitudes dos aprendizes e não em termos de ações e atitudes do facilitador de aprendizagem.
  • Seleção dos assuntos ou temas – ao planejar a aula, o facilitador de aprendizagem precisa selecionar, convenientemente, os conhecimentos, habilidades e atitudes, estabelecendo com critério a sequência de assuntos a serem desenvolvidos na carga horária disponível.
  • Estratégias de ensino – a importância da escolha das estratégias de ensino é fundamental. A matéria por si é inerte para fins de aprendizagem, é apenas uma força potencial. Quando é trabalhada com uma estratégia coerente com a andragogia torna-se rica, sugestiva e eficaz, dinamizando, inspirando e abrindo novas perspectivas de estudo. Assim, as estratégias de ensino selecionadas pelo facilitador de aprendizagem devem: ser diversificadas; estar coerentes com os objetivos propostos e com o tipo de aprendizagem previsto nos objetivos; adequar-se às necessidades dos aprendizes; servir de estímulo à participação do aprendiz no que se refere a descobertas e apresentar desafios. Exemplos: estudos de caso, simulações de papéis, exercícios em grupo, atividades de resolução de problemas, etc.
  • Recursos didáticos – são os componentes do ambiente de aprendizagem que contribuem para a boa assimilação do assunto ou tema desenvolvido em aula. Ou seja, é todo e qualquer recurso físico
    utilizado no contexto de uma estratégia de ensino, a fim de auxiliar o facilitador de aprendizagem a transmitir a sua mensagem ao aprendiz, e este a realizar a sua aprendizagem mais eficientemente.
  • Avaliação – é o processo pelo qual se determinam o grau e a quantidade de resultados alcançados em relação aos objetivos, considerando o contexto das condições em que o processo ensino-aprendizagem foi desenvolvido. No planejamento da avaliação, é fundamental considerar a necessidade de avaliar continuamente o desenvolvimento do evento de aprendizagem. Além disso, interpretar resultados da avaliação é importante para a retomada de rumos. O feedback deve ter mão dupla e ser visto como informação ao facilitador de aprendizagem sobre a sua atuação, e para o aprendiz sobre o seu desempenho na capacitação.

Ressaltamos que o planejamento das aulas é formado de assuntos inter-relacionados e que cada encontro deve ser replanejado ao final do que o antecede, pois este lhe servirá de base ou apoio.

Resumo

As duas listas abaixo resumem os principais pontos da elaboração de uma oficina. Os facilitadores da oficina devem realizar o levantamento de necessidades com as organizações promotoras e participantes a fim de:

  • confirmar as necessidades mais significativas
  • definir prioridades
  • identificar questões que estão afetando a organização no momento, caso surjam no decorrer da oficina
  • obter acordo quanto a objetivos e resultados esperados que possam atender as necessidades de todos os envolvidos

Os facilitadores vão precisar:

  • desenvolver objetivos
  • determinar a duração de cada atividade da oficina
  • identificar os conhecimentos/habilidades/atitudes que o grupo precisa para atingir o objetivo de cada tópico
  • escolher atividades apropriadas para os facilitadores e para o grupo, através das quais seja possível atingir os objetivos;
  • elaborar as atividades da oficina e definir materiais de apoio para cada tópico
  • planejar uma variedade de atividades participativas, ex.: apresentações, estudos de caso, simulações de papéis, atividades de resolução de problemas, etc.
  • decidir como fazer a avaliação reflexiva das atividades e avaliar o aprendizado

Os facilitadores necessitarão de vários recursos para a realização da oficina. A lista a seguir orienta a organização destes recursos e pode ser ampliada ou alterada sempre que necessário:

  • crachás
  • todos os materiais visuais necessários para apoiar o desenvolvimento e fixação de conceitos
  • cavaletes para flip chart com papel adicional
  • um retroprojetor, transparências e marcadores
  • um laptop e um canhão de projeção
  • pincéis atômicos, fita crepe, tesouras, cola, cola de bastão, grampeadores, grampos e um removedor de grampos
  • um exemplar do Manual do Participante para cada participante
  • canetas/lápis
  • recursos específicos de cada atividade
  • uma mesa para colocar os materiais (livros, apostilas extras, materiais dos participantes, etc.)

Condições que Facilitam o Processo de Ensino-Aprendizagem

Agora que já vimos aspectos básicos de como elaborar o planejamento de ensino, apontaremos algumas condições que facilitarão o seu trabalho e o processo de aprendizagem.

Condição 1

A aprendizagem é bastante facilitada numa atmosfera que encoraja os aprendizes a serem ativos. Sua tendência é progredir, quando houver menor domínio e menos verbosidade por parte do facilitador e mais fé na capacidade dos aprendizes acharem soluções e alternativas que os satisfaçam. Escutar e permitir que os aprendizes utilizem o facilitador e o próprio grupo como recursos e como trampolim facilitam a exploração ativa de ideias e de possíveis soluções para os problemas. Os aprendizes não são receptáculos passivos nos quais simplesmente se despejam valores “corretos”, respostas “corretas” e formas de pensar “corretas”. Os aprendizes são seres ativos e criativos, que necessitam de oportunidades para determinar metas, discutir os temas e os modos de se avaliarem. Realmente aprendem quando se sentem ligados aos acontecimentos ou quando estão pessoalmente envolvidos.

Condição 2

A aprendizagem é facilitada numa atmosfera que promove e facilita ao indivíduo descobrir um significado pessoal das ideias. Isso significa que o facilitador ao invés de dirigir e manipular os aprendizes deve ajudá-los a descobrir qual o significado das ideias ou fenômenos por eles próprios (motivar uma conduta autônoma). Precisa criar situações nas quais os aprendizes, livremente, possam externar as suas necessidades, em lugar de simplesmente lhes serem ditadas. As necessidades do indivíduo e do grupo são consideradas ao se decidir qual a matéria ou assunto será explorado. Não importa quão permissiva se apresente a estrutura de uma aprendizagem, sempre estará implícita uma finalidade: um facilitador nunca deixa de ter uma meta. Dá-se a aprendizagem quando os propósitos do ensino facilitam e encorajam o indivíduo a descobrir seus próprios objetivos, suficientemente amplos para permitir que as pessoas explorem e internalizem o comportamento de maneira a proporcionar satisfação e desenvolvimento.

Condição 3

A aprendizagem é facilitada numa atmosfera que dê ênfase ao caráter pessoal e objetivo do aprendizado. Ao se criar tal situação, cada indivíduo tem a impressão de que suas ideias, seus sentimentos e suas perspectivas têm valor e importância. Os aprendizes precisam perceber que o conteúdo da aprendizagem não é algo externo, estranho a eles. Chegam a tal percepção ao sentirem que as suas contribuições e o seu valor como pessoa são realmente apreciados.

Condição 4

A aprendizagem é facilitada numa atmosfera em que a diferenciação é boa e desejável. Situações que dão ênfase à “única resposta certa”, à solução mágica, ou à única “maneira certa” de agir e pensar, estreitam e limitam a pesquisa e inibem o descobrimento. Os aprendizes precisam ter a oportunidade de expressar as suas ideias, sejam quão diferentes forem, caso queiramos que encarem a si, aos outros e às ideias sem qualquer preconceito. Isto requer uma atmosfera em que ideias divergentes podem ser aceitas, sem necessidade de concordar. É preciso aceitar as diferenças existentes entre ideias e pessoas.

Condição 5

A aprendizagem é facilitada numa atmosfera em que, sistematicamente, o direito de errar é reconhecido. A liberdade e a disponibilidade para tomar decisões são severamente limitadas onde não se permitem erros. Facilita-se o crescimento e desenvolvimento quando o erro é aceito como sendo uma consequência natural do processo de aprendizagem. O processo de aprendizagem requer um constante desafio de novas e diferentes experiências e da exploração de circunstâncias desconhecidas, fatos que logicamente podem conduzir a erros. Para que possam aprender, as pessoas necessitam da oportunidade de explorar novas situações e ideias, sem que sejam penalizadas ou castigadas pelos erros que cometerem. O facilitador, que sente e age levado pela necessidade de sempre estar com a razão, cria situações de aprendizagem limitadas e perigosas.

Condição 6

A aprendizagem é facilitada numa atmosfera que tolera a ambiguidade. Numa atmosfera rígida e defensiva, os aprendizes não têm o tempo necessário para encontrar soluções adequadas e não se sentem à vontade caso não tenham respostas. Sentem que se dá maior valor à resposta “certa” que a uma boa resposta. A procura de soluções adequadas requer trabalho de pesquisa franco e corajoso, tempo para o estudo das várias alternativas, sem que haja pressões que forcem uma resposta imediata.

Condição 7

A aprendizagem é facilitada numa atmosfera na qual a avaliação é um processo cooperativo, com ênfase na autoavaliação. Aprendizagem é um processo pessoal. As pessoas precisam de oportunidades para formular os critérios de avaliação desse processo. Critérios estabelecidos pelo facilitador são artificiais e irrelevantes para os componentes do grupo. Mudanças de comportamento e crescimento, geralmente, podem ser avaliadas pela maneira como as pessoas reproduzem o que outros tentaram lhes administrar. É óbvio que qualquer um pode fazer de conta de que está atendendo aos desejos do facilitador. Uma avaliação mais significativa e mais valiosa é obtida quando as pessoas têm plena liberdade para examinar a si mesmas, bem como a posição que ocupam em relação às outras. A autoavaliação e a avaliação dos colegas permitem às pessoas julgarem o que aprenderam e o quanto se desenvolveram. Novos insights se abrem às pessoas que
podem observar como realmente são. Cada membro do grupo precisa ver-se acurada e nitidamente para que ocorra a aprendizagem. Isto pode ser mais bem alcançado pela avaliação pessoal e do grupo.

Condição 8

A aprendizagem é facilitada numa atmosfera que encoraja o indivíduo a se revelar francamente. Para que possam ocorrer soluções de problemas e aprendizagem é necessário que sentimentos, atitudes, ideias, perguntas e preocupações pessoais sejam francamente discutidos e examinados. A intensidade da aprendizagem e os resultados são bastante inibidos quando ideias, pensamentos, sentimentos ou atitudes relacionados aos tópicos em discussão são sonegados e não postos abertamente no processo cooperativo e interativo da aprendizagem. Por outro lado, a aprendizagem é enriquecida quando os aprendizes percebem que, não obstante o que disserem ou opinarem, não sofrerão punição psicológica nem penalidades.

Condição 9

A aprendizagem é facilitada numa atmosfera em que as pessoas são encorajadas a confiar em si e em outras fontes externas. Os aprendizes tornam-se menos dependentes da autoridade ao encararem as situações que enfrentam com o espírito aberto, e quando sentem que possuem as qualificações para a aprendizagem. É importante que eles sintam que têm algo a contribuir no processo de aprendizagem, em vez de achar que a aprendizagem significa a aquisição de conhecimentos e fatos oriundos apenas de fatores externos para um eventual uso futuro. As pessoas aprenderão ao verem a si próprias como uma fonte de ideias e de alternativas aos problemas que surgem. O processo de aprendizagem é facilitado à proporção que os aprendizes começam a extrair ideias de si e de outros, em vez de depender inteiramente do facilitador.

Condição 10

A aprendizagem é facilitada numa atmosfera em que os aprendizes sentem que são respeitados. Num grupo em que se dá grande valor para a individualidade dos membros e ao seu relacionamento dentro do grupo, as pessoas aprendem que alguém se interessa por elas. Uma genuína expressão de interesse por parte do facilitador e o clima emocional agradável geram uma atmosfera de segurança em que as pessoas podem explorar ideias e verdadeiramente aproximar-se uma das outras, sem que haja ameaças. Confrontos e diferentes opiniões tornam-se forças construtivas num grupo em que as pessoas sentem que são respeitadas. Uma atmosfera segura não precisa excluir o confronto pessoal, que muitas vezes é ótimo catalisador para o  aprendizado.

Condição 11

A aprendizagem é facilitada numa atmosfera em que as pessoas sentem que são aceitas. As pessoas tem mais liberdade de mudar, sempre que sentem que as mudanças não lhes são impostas. É paradoxal, mas quanto mais tentamos modificar as pessoas, tanto mais resistentes se mostram a qualquer mudança. Aceitar uma pessoa significa que não nos opomos a que ela não modifique os seus valores e sua forma de ser, assim ela terá muito mais liberdade de efetuar uma autoanálise e proceder a um balanço de seus valores e mudar. Se houver insistência é possível que haja rejeição, porque estaremos informando a pessoa de que não podemos aceitá-la como é, e que deve mudar. É necessário que as pessoas sintam que a opção de mudar é inteiramente sua. Elas adquirem esta concepção quando se sentem aceitas assim como são. Naturalmente tendem a se defender quando veem seus valores atacados. Pessoas preocupadas em se defender não aprenderão.

Condição 12

A aprendizagem é facilitada numa atmosfera que permite confrontações. O aprendiz expressará sua própria personalidade quando houver comunicação franca e aberta, sem clima de ameaça psicológica. É perfeitamente natural que, em tais situações, pessoas enfrentem pessoas e ideias desafiem ideias. Confrontações facilitam a aprendizagem. Proporcionam às pessoas uma oportunidade de ter suas ideias e a si próprios testados por outras pessoas ou pelo grupo. Ninguém aprende com os outros se viver isolado. As atitudes mudam e as ideias se modificam, ou se tornam mais refinadas, dependendo do feedback que uma pessoa recebe de outras. Confrontação é um campo de provas que permite a sintetização de ideias, o surgimento de novas ideias e a mudança do próprio indivíduo.

 

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