Noções de Administração Empresarial em Gerenciamento e Organização da Escola
Visão geral
Apresentação da disciplina
É com grande satisfação que vou trabalhar com você a disciplina “Noções de Administração Empresarial em Gerenciamento e Organização da Escola” que faz parte da disciplina de Estágio Supervisionado I.
É importante deixar claro que o estudo dos fundamentos da administração por meio dos assuntos que vamos tratar é essencial para a compreensão plena dos aspectos que cercam a gerenciamento escolar.
Sabe por quê? Porque os princípios e até mesmo algumas técnicas que foram estabelecidas há muitos anos por estudiosos da área, ainda são válidos e aplicados em qualquer organização, inclusive nas instituições escolares.
Além disso, é fundamental que o gestor escolar conheça as principais abordagens teóricas das organizações e seus princípios básicos, para que ele possa aplicar esses princípios no desenvolvimento de suas atividades e desempenhar bem suas funções.
Objetivos
Nosso objetivo principal é fazer com que você compreenda os fundamentos da administração e do gerenciamento escolar. Vamos abordar vários assuntos interessantes, desde as principais contribuições dos autores clássicos da área até a aplicação dos conceitos na administração escolar.
Ao término da disciplina, pretendemos que você adquira as seguintes habilidades e competências:
- Habilidades:
- Possuir uma visão ampla e integrada das funções de uma organização
- Aplicar os fundamentos da administração no contexto escolar
- Planejar e organizar suas atividades, independente do nível hierárquico ocupado
- Refletir e atuar criticamente sobre os problemas inerentes ao gerenciamento escolar
- Competências:
- Dominar os conceitos e fundamentos da administração
- Conhecer os principais teóricos da administração moderna
- Compreender como os fundamentos da administração são aplicados nas instituições escolares.
GERENCIAMENTO E ORGANIZAÇÃO ESCOLAR
Noções de Gerenciamento e Administração Escolar
Inicialmente gostaria de registrar que a administração é considerada fundamental para solucionar os problemas que atingem o mundo moderno, tornando-se uma das mais importantes atividades a serem desempenhadas.
Você já parou para pensar em como a administração é importante e essencial para a condução das atividades de diversas categorias de organização? Seja nas escolas, indústrias, nas empresas do comércio, em organizações de serviços públicos, hospitais, universidades, instituições militares, religiosas e em organizações sem fins lucrativos? Todas essas organizações precisam ser bem administradas para fazer com elas consigam utilizar corretamente seus recursos (que são limitados!), atingir seus objetivos (sejam eles financeiros ou não) e cumprir com suas funções sociais e econômicas.
Neste sentido, ressalvo que é muito importante estudar a administração, pois ela está presente em nosso cotidiano. Além disso, temos o interesse de melhorar a administração nas organizações que nos cercam.
Após essa breve introdução sobre a importância da administração para as organizações e para a sociedade, é importante apresentar a você as origens da administração enquanto ciência e as principais teorias administrativas (ou também chamadas de escolas da administração) desenvolvidas ao longo do tempo.
Principais escolas da administração
É importante lembrar que nosso foco não é o aprofundamento no conhecimento das teorias, mas sim, apontar os pontos chaves no desenvolvimento das principais teorias administrativas, uma vez que todas elas auxiliaram e ainda auxiliam os administradores a tomar suas decisões e organizar seus negócios da maneira mais produtiva possível.
Para iniciar é interessante voltar ao passado e entender como teve início a utilização da administração e os principais influenciadores da formalização das teorias. Porém, vale ressaltar que desde o início das civilizações percebe-se a utilização da administração, mesmo antes dela se tornar uma ciência!
Vamos ver alguns exemplos da afirmação anterior:
Construção das Pirâmides do Egito
Vamos para os números, a pirâmide de Quéops tem os seguintes dados:
- Localização Planalto de Gizé, Egito
- Nome antigo “Horizonte de Quéops”
- Arquiteto Hemiunu
- Construção c. 2580–2560 a.C. (4ª Dinastia)
- Tipo Pirâmide verdadeira
- Material Calcário, Granito
- Altura 146,7 m (originalmente)
- 138,8 m (contemporâneo)
- Base 230,34 m
- Volume 2 583 283 m3
- Inclinação 51°52’±2′
- Coordenadas 29° 58′ 45″ N 31° 08′ 05″ E
- Blocos de granito ±2,3 milhões.
E este monumento foi construído a mais de quatro mil anos. Seja qual for a metodologia administrativa usada, era, com certeza eficiente. Mesmo que seja em regime de escravidão (alguns historiadores acreditam que foram homens livres que construíram as piramides) não se deve deixar de admirar o grande feito administrativo de organizar todo o esforço necessário, logistica de transporte, alimentação, acomodação, agenda, etc. Tudo em sincronia com o objetivo de terminar a obra.
Construção da Muralha da China
Grande Muralha da China é uma série de fortificações feitas de pedra, tijolo, terra compactada, madeira e outros materiais, geralmente construída ao longo de uma linha leste-oeste através das fronteiras históricas do norte da China para proteger os Estados e impérios chineses contra as invasões dos vários grupos nômades das estepes da Eurásia, principalmente os mongóis e com 21 196 quilômetros.
Outra obra e tanto, um grande feito de engenharia e de administração. Enfim, podemos perceber que a administração é uma ciência antiga e que sempre esteve presente nos feitos da humanidade.
É válido lembrar também que muitos personagens da história, e até mesmo da Bíblia, colocaram em prática, conceitos da administração sem saber que o estavam fazendo. Chiavenato (2003) cita que a criação e a formalização das teorias administrativas sofreu influência de vários antecedentes históricos, como, por exemplo:
- Influência dos filósofos: a elaboração das teorias na área administrativa foi influenciada pelo pensamento de vários filósofos como Sócrates, Platão, Aristóteles, Francis Bacon, René Descartes, Thomas Hobbes, Jean-Jacques Rousseau e Karl Marx.
- Influência da organização da Igreja Católica: a Igreja Católica influenciou através de sua estrutura, da hierarquia de autoridade e da coordenação funcional. A organização da Igreja Católica se concentra no comando de uma única pessoa, que é o papa, e essa estruturação serviu de modelo para muitas organizações e é útil até nos dias atuais.
- Influência da Organização Militar: as organizações militares possuem regras rígidas, escala hierárquica totalmente definida, definição das responsabilidades de cada membro, e até a organização das guerras serviu de inspiração para a administração. Aliás, o campo da estratégia empresarial é fortemente influenciado pelos termos, conceitos e práticas dos antigos generais.
É importante fazer uma observação agora: mesmo sendo colocada em prática desde as primeiras civilizações, a formalização dos postulados científicos da administração somente tiveram início no século XX pelo estudo sistemático do trabalho; e é sobre esses postulados que vamos falar.
São muitos os autores brasileiros e estrangeiros que fizeram uma síntese das teorias administrativas, no entanto, está longe deles entrarem em um acordo quanto à divisão correta destas teorias. Portanto, o que se percebe com frequência é que o estudo da administração foi dividido em abordagens com enfoques diferenciados. Vamos conhecer um pouco da Abordagem Clássica, Abordagem Humanística e Comportamental, e Abordagem Sistêmica. Além delas, iremos falar um pouco sobre as novas abordagens da administração, as quais foram úteis para oferecer respostas às constantes mudanças do ambiente. Essas abordagens tinham como foco a realização de propostas sobre como as organizações deveriam gerenciar suas atividades. Cada uma delas tinha uma visão particular da organização e os autores que faziam parte dessas escolas defendiam suas ideias, no sentido de evidenciar os pontos que acreditam ser importantes na condução das atividades organizacionais.
Abordagem Clássica da Administração
A Abordagem Clássica da Administração é composta pela Administração Científica, Teoria Clássica e Burocracia. O foco principal da Abordagem Clássica era operacional, ou seja, buscava-se aumentar a produtividade e a eficiência por meio da realização das tarefas, da estrutura organizacional ou da padronização do processo de trabalho.
Administração Científica
A Administração Científica foi desenvolvida por Frederick W. Taylor no início do século XX, para ele a única maneira correta de fazer o trabalho era redesenhando as tarefas para alcançar a eficiência máxima. Por isso ele desenvolveu o estudo dos tempos e movimentos como um meio de analisar e padronizar as atividades do trabalho. Este estudo consistia em dividir cada tarefa em seus elementos básicos, cronometrá-las e registrá-las para determinar o tempo padrão para cada tarefa (MAXIMIANO, 2004b). Assim Taylor introduziu o pagamento por peça produzida, que fazia com que o funcionário produzisse mais para garantir um salário maior, conceito que ficou conhecido como Homem Econômico, ou seja, apenas a recompensa financeira é capaz de motivar o funcionário a produzir mais.
Para Silva e Silva (2011, p. 17) a “teoria clássica está assentada nos fundamentos da organização e do controle dos processos de trabalho, expressos pela instituição da gerência científica, sendo também assumida como um dos elementos fundantes da gestão escolar”.
Além disso, observe que é possível encontrar os princípios de Taylor sendo utilizados em numerosas fábricas, organizações de varejo e escritórios. Como por exemplo, em cadeias de refeições rápidas que servem hambúrgueres, pizzas e outros produtos padronizados. O trabalho nessas organizações frequentemente é organizado detalhadamente, procurando os procedimentos mais eficientes, sob forma de tarefas especializadas e pessoas treinadas para desempenhá-las de maneira muito precisa. Taylor foi um dos teóricos mais criticados da administração, mas também foi um dos mais influentes (MORGAN, 2006).
Assista o vídeo abaixo para entender melhor o assunto:
Teoria da Administração Científica – Frederick Taylor
Teoria Clássica
Henry Fayol desenvolveu a Teoria Clássica porque acreditava que a administração era uma ciência comum a todos os empreendimentos, portanto, deveria ser ensinada. Desta forma, Fayol determinou que qualquer empresa deveria possuir seis funções básicas (MAXIMIANO, 2004b):
- Técnica: produção e manufatura;
- Comercial: compra, venda e troca;
- Financeira: administração do capital;
- Segurança: proteção dos bens e das pessoas;
- Contábil: registro de estoque, balanços e inventários;
- Administrativa: planejamento, organização, comando, coordenação e controle.
Veja que em uma instituição de ensino encontramos várias dessas atividades citadas acima, afinal, uma organização deste tipo exerce a função comercial quando compra seus móveis, livros e equipamentos; atua na administração dos seus recursos financeiros; deve pensar nas questões de segurança, tanto de bens quanto dos alunos, professores e funcionários; e, é claro deve gerenciar todo esse processo por meio das funções administrativas: planejar, organizar, dirigir e controlar.
Veja o vídeo abaixo para entender melhor o assunto.
Teoria da Administração Científica – Henry Fayol
Burocracia
Max Weber percebeu que as organizações do início do século passado viviam um caos com relação às normas e os procedimentos de trabalho, os gerentes administravam baseado no que eles achavam que era correto e não em um processo padronizado e científico de trabalho. Por isso, ele idealizou um tipo de organização chamada organização burocrática, que tinha como principais características a formalidade, a impessoalidade e o profissionalismo (MAXIAMIANO, 2004a). Weber buscava tornar as organizações formais, com a introdução de normas para o desenvolvimento do trabalho; com a impessoalidade, a autoridade derivaria do cargo ocupado e não das pessoas; e o profissionalismo permitiria que somente pessoas que possuíssem a qualificação necessária preencheriam os cargos.
Apesar de hoje o termo organização burocrática ser utilizado de um modo depreciativo, para designar empresas complicadas em seu processo de trabalho e lentas no processo de decisão, a burocracia apresentou-se adequada e muito utilizada em organizações de todos os tipos (FERREIRA; REIS; PEREIRA, 2002). Para ilustrar pense, por exemplo, no funcionamento de do Ministério da Educação ou até mesmo de uma grande rede de escolas sem a existência dos processos padronizados e formalização de atividades rotineiras.
Teoria da Administração Científica – Max Weber
Abordagem Humanística e Comportamental
A Abordagem Humanística e Comportamental surgiu como uma crítica ao enfoque totalmente operacional dado pela Abordagem Clássica, os estudiosos perceberem que havia outros fatores, além das recompensas financeiras, que se relacionavam com a produtividade. Por isso, esta abordagem analisou o aumento da produtividade levando em consideração a maior compreensão de como são as pessoas e como elas se relacionam no seu ambiente de trabalho.
Dentro da Abordagem Comportamental os estudos de maior relevância são a Teoria das Relações Humanas, o Estudo das Necessidades de Maslow, a Teoria dos Dois Fatores e a Teoria X e Y.
Teoria das Relações Humanas
A Teoria das Relações Humanas surgiu de uma pesquisa desenvolvida pelo psicólogo Elton Mayo, que ficou conhecida como “Experimento de Hawthorne”. O objetivo da pesquisa era verificar a correlação entre iluminação no ambiente de trabalho e a produtividade. Será que se fosse aumentada a quantidade de iluminação aumentaria também a produtividade?
Os pesquisadores verificaram que na realidade o que influenciava o aumento da produtividade era o tipo de relacionamento que o funcionário tinha com o grupo e não necessariamente as condições de trabalho que lhe eram concedidas. Assim, surgiram as teorias que se preocupavam em entender o comportamento das pessoas como meio de aumentar a produtividade e a eficiência organizacional.
Teoria da Administração Científica – Experiência de Hawthorne
Pirâmide das Necessidades de Maslow
Maslow afirmava que todo indivíduo é motivado por necessidades organizadas em uma hierarquia, implicando que uma necessidade de ordem superior somente surge quando a necessidade anterior é totalmente satisfeita (Caravantes; Panno; Kloeckner, 2005). Ele criou cinco níveis de necessidades: fisiológicas, de segurança, sociais, de estima e de auto-realização.
Dentro das organizações as necessidades básicas são caracterizadas pelo conforto físico, horário de trabalho razoável e pausas para descanso. As necessidades de segurança são o salário, a estabilidade no emprego e as condições de trabalho seguro. As necessidades sociais são o relacionamento com os colegas, a interação com os clientes, ter um chefe amigável, etc. As necessidades de estima são caracterizadas pelo reconhecimento com promoções e participação nos resultados. E por último, a auto-realização que é a capacidade de desenvolver um trabalho criativo e desafiante, ter autonomia e participar nas decisões da empresa.
É válido ressaltar que o estudo da motivação humana ajudou os administradores a entenderem quais eram as necessidades que os indivíduos tinham, tentando satisfazê-las com o intuito de aumentar a satisfação com o trabalho, aumentando assim a produtividade.
Teoria dos Dois Fatores
A Teoria dos Dois Fatores também buscou analisar o comportamento humano por meio do estudo da motivação humana. O americano Frederick Herzberg tentou explicar como o ambiente de trabalho e o conteúdo do cargo interagiam para produzir a motivação (MAXIMIANO, 2004b), desta forma, ele definiu os fatores higiênicos e os fatores motivacionais. Os fatores higiênicos são todas as variáveis relacionadas ao ambiente de trabalho, por exemplo, o salário, a política de administração, as condições físicas e de segurança e as relações pessoais com os colegas. Já os fatores motivacionais são todas as variáveis relacionadas com o conteúdo do trabalho, como o sentimento da realização de algo importante, o exercício da responsabilidade, a possibilidade de crescimento, o orgulho e o prestígio da profissão.
Os fatores higiênicos mantêm a satisfação no trabalho ou geram insatisfação, eles não são capazes de motivar as pessoas. O que realmente faz com que os funcionários trabalhem mais e melhor são os fatores motivacionais ou intrínsecos ao cargo desenvolvido, como o desafio, a realização, a responsabilidade e atualmente, o enriquecimento do cargo, que significa tornar o trabalho mais rico em termos de responsabilidade pelo planejamento e implementação do trabalho (LARUCCIA, 2005).
Teoria da Administração Científica – Teoria dos Dois Fatores
Teoria X e Teoria Y
Douglas McGregor, insatisfeito com a realidade empresarial, desenvolveu o conceito de que o comportamento humano dentro das empresas era alterado pelo estilo de administração praticado, e pelas crenças que o líder fazia sobre a natureza humana dos funcionários (FERREIRA; REIS; PEREIRA, 2002). Sendo assim, ele comparou dois estilos de administração, o estilo tradicional que ele chamou de Teoria X e o estilo moderno que ele chamou de Teoria Y.
Teoria da Administração Científica – Teoria X e Teoria Y
Abordagem Sistêmica
Caravantes, Panno e Kloeckner (2005) tratam a Teoria de Sistemas como um divisor de águas, pois as teorias que se seguem se apóiam explicitamente ou implicitamente nesta teoria. O biólogo Ludwig von Bertalanffy foi o idealizador da Teoria de Sistemas, afirmando que nenhuma organização vive sozinha e é autônoma, elas operam e se interagem em um ambiente.
A Teoria de Sistemas trata a organização como um corpo composto de órgãos e sistemas orgânicos, que formam um complexo de partes que se interagem, e a função de cada parte (trabalhador, tarefa e gerência) é determinada pelas outras partes e depende delas. Qualquer mudança em uma das partes acarretará em mudanças nas demais, já que todas são interrelacionadas.
Souza, Francisco e Francisco (2009, p. 37) fazem uma observação interessante entre a abordagem sistêmica e o sistema escolar, “[…] uma vez que a escola é um sistema social (humano) complexo e aberto à influência ambiental […]”.
Os autores lembram que o sistema escolar utiliza como ferramenta a abordagem sistêmica com o objetivo de visualizar a interação de seus componentes, compreender a relação entre causas e variáveis dos problemas que enfrenta, como a evasão, baixo rendimento, desmotivação docente, etc., e criar soluções para resolver estes problemas.
Teoria da Administração Científica – Teoria de Sistemas
Souza, Francisco e Francisco (2009) nos ajudam a compreender como os principais elementos da teoria dos sistemas podem ser aplicados no universo escolar. Assim, as entradas do sistema correspondem a todo recurso material ou humano capaz de gerar insumos pedagógicos e administrativos. O processamento refere-se à utilização dos insumos para que se possa cumprir o papel de transformação do aluno. Por fim, a saída são os alunos preparados para a vida profissional e social.
Abordagem Neoclássica
Com a abordagem comportamental o foco do estudo da administração se centralizou totalmente nas pessoas. Preocupados com esta abordagem, algum teóricos resolveram resgatar os princípios desenvolvidos pela Abordagem Clássica só que de uma forma mais flexível e levando em consideração também o ser humano, criando a Abordagem Neoclássica.
Vários são os autores que deram contribuições para esta abordagem, pode-se citar Peter Drucker como o mais influente, além de Ernest Dale, Harold Koontz, Cyrill O’Donnell, Michael Jucius e Willian Newman (CHIAVENATO, 2003).
As principais características da Abordagem Neoclássica foi a ênfase nas práticas e nos resultados concretos da administração, a reafirmação relativa dos postulados clássicos, e o foco nos princípios gerais da administração desenvolvidos por Fayol. A grande contribuição da Abordagem Neoclássica foi a análise das funções básicas administrativas desenvolvidas por Fayol na Teoria Clássica, resumindo-as em quatro atividades: planejar, organizar, dirigir e controlar que são as funções básicas da administração aceitas até a atualidade.
Novas abordagens da Administração
Dentre tantas teorias desenvolvidas, qual é a melhor? Algumas teorias procuraram resolver problemas universais, para todas as situações e problemas, outras teorias se focaram em apenas algumas partes e em alguns problemas da organização. À medida que a administração amadurece, percebe-se que muitas teorias são úteis em determinadas situações, mas não em outras, servem para alguns tipos de líderes e não para outros (MAXIMIANO, 2004b). Por isso constantemente as teorias administrativas sofrem alterações, são reformuladas, e novas abordagens surgem para solucionar problemas que antes não haviam sido pensados.
Segue abaixo algumas considerações sobre formas de gestão que buscaram solucionar problemas específicos ou se adaptar à novas condições do ambiente.
Gestão da Qualidade Total: a gestão da qualidade surgiu para solucionar problemas de uniformidade e padronização dos produtos, esta não é uma abordagem recente, mas continua sendo muito utilizada pelas organizações. A Gestão da Qualidade Total se preocupa com qualidade desde a concepção do produto ou do serviço pela visão do cliente até o final do processo produtivo. A ISO (International Organization for Standartization) é uma organização que publicou manuais de sistema de qualidade, no Brasil o órgão que faz esta regulamentação é a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). A ISO 9000, por exemplo, determina os padrões de qualidade que regulamentam as relações entre fornecedores e compradores, e a ISO 14000, trata dos padrões de qualidade para a questão ambiental.
Reengenharia: a reengenharia é a reestruturação radical dos processos empresariais, que buscam alcançar grandes melhorias em indicadores críticos e contemporâneos de desempenho, como custos, qualidade, atendimento e velocidade (HAMMER; CHAMPY, 1994). Fazer reengenharia significa “reinventar a empresa, desafiando suas doutrinas, práticas e atividades existentes, para, em seguida, redesenhar seus recursos de maneira inovadora, em processos que integram as funções departamentais” (MAXIMIANO, 2004b, p. 486). O processo de reengenharia, muitas vezes resultou em demissões em massa e terceirização de atividades, por isso, antes de decidir por esta prática é necessário fazer uma análise das vantagens e das desvantagens que acarretará para a organização.
Benchmarking: o bechmarking surgiu da reengenharia e busca as melhores práticas de administração, como forma de obter vantagens competitivas (MAXIMIANO, 2004b). A tradução do termo é utilizar um ponto de referência, ou seja, as empresas tentam copiar estratégias de sucesso de outras organizações que podem ser suas concorrentes ou não, para melhorar o seu desempenho.
Gestão do Conhecimento: a gestão do conhecimento busca desenvolver sistemas e processos que visam adquirir e partilhar os ativos intelectuais, aumentando o aprendizado grupal e individual. As organizações que utilizam este tipo de gestão mostram que não são um conjunto de produtos, mas sim um conjunto de conhecimentos de bases distintas. A gestão do conhecimento procura acumular o capital intelectual que criará as competências essenciais e exclusivas que produzirá os melhores resultados para a organização (OLIVEIRA; PRADO; SILVA, 2005). Ele passa a ser um diferencial, no qual as organizações investem constantemente, pois ele se tornou a condição de sobrevivência no mercado altamente competitivo.
Organizações que Aprendem: são as organizações que se preocupam em “criar, adquirir, transferir conhecimentos e alterar comportamentos com base nos novos conhecimentos” (CERTO, 2003, p. 38). Elas estão o tempo todo criando o seu próprio futuro, analisando o seu desempenho e seus resultados, simulando o cenário futuro, imaginando-se em outros mercados, e procurando sempre obter suas metas com sucesso, de uma maneira planejada, concisa e rápida.
Administração Virtual: Davidow e Malone (1993) propõem uma empresa chamada corporação virtual, que se baseia em informações em tempo real, ela é resultado da revolução que se tornou possível pela fusão de tecnologias, principalmente da indústria de informática com a indústria de telecomunicações. Este novo tipo de organização permite que se façam compras pelo telefone e pela Internet, assista um teatro pela televisão, ou estude um idioma por uma fita de vídeo (MAXIMIANO, 2004b). Estas empresas não possuem limites físicos de tempo e espaço, elas alteraram a realidade dos trabalhadores, hoje não é mais necessário ficar nas organizações o tempo todo, mesmo à distância os trabalhadores conseguem desenvolver o seu trabalho por meio da tecnologia da informação. Para isso é importante que esses trabalhadores virtuais sejam autodisciplinados, independentes, experientes, tenham senso de responsabilidade e habilidades interpessoais.
É claro que essas abordagens não representam todas as possibilidades disponíveis para as organizações trabalharem no atual ambiente competitivo. Algumas dessas propostas são muito bem aceitas e eficazes em alguns tipos de organização, e outras são completamente desajustadas a alguns modelos empresariais.
O fato é que as organizações constantemente estão buscando se adaptar a um mundo cada vez mais dinâmico e conhecer e compreender o mercado como um todo, tendo uma visão abrangente dos movimentos que estão ocorrendo em diversas dimensões (sociais, culturais, econômicas, legais, políticas e ambientais), é um enorme desafio, pois as mudanças ocorrem rapidamente e simultaneamente.
Além disso, encontrar soluções que atendam às necessidades originadas dessas mudanças (e que sejam melhor que a dos concorrentes) é outro grande desafio vivenciado pelas organizações.
Continuando nossa discussão sobre as mudanças no ambiente, você já deve ter percebido que acontecimentos importantes no ambiente empresarial, na economia mundial e na própria sociedade acabam por influenciar radicalmente as organizações, sua capacidade de sobrevivência e também o próprio trabalho e o comportamento do trabalhador. Autores como Peter Drucker, Michael Porter, Don Tapscott, dentre outros assinalam as mudanças fundamentais na situação econômica mundial e na natureza das organizações, bem como a necessidade de um novo referencial na administração.
Um dos principais fatores de mudança diz respeito à globalização da economia. Para Robbins (2003) há cerca de 30 anos as fronteiras nacionais podiam isolar as empresas das pressões competitivas estrangeiras, fato que não ocorre nos dias de hoje. Nesse sentido, as fronteiras perderam quase que totalmente o sentido de definição dos limites de operação de uma organização.
O autor lembra também que os avanços na tecnologia da comunicação e as reduções às barreiras comerciais entre as nações contribuíram para a criação de uma aldeia global. Para Tachizawa, Ferreira e Fortuna (2006) as forças econômicas estão ultrapassando as fronteiras nacionais, resultando em mais comunicação, mais comércio e mais oportunidades e a nova economia global deve ser vista como um processo de formação de uma economia integrada entre países, bem como entre os estados de um mesmo país.
Podemos também identificar algumas mudanças nas expectativas da sociedade. Um dos principais fatores em relação a isso refere-se ao termo responsabilidade social, que tornou-se parte consolidada na vida das organizações. Para Robbins (2003) a sociedade espera que as organizações, por exemplo, contribuam com instituições beneficentes, apoiem programas comunitários, adotem uma postura ética em relação ao meio ambiente e ao próprio quadro de funcionários. O autor lembra que responsabilidade social inclui um amplo leque de questões como as relações com a comunidade, o desenvolvimento e responsabilidade pelos produtos, políticas de apoio às mulheres e às minorias, preservação do meio ambiente, dentre outros
Robbins (2003) também cita o fenômeno “espírito empreendedor”, que está ligado a um número cada vez maior de pessoas que estão partindo para abertura de seus próprios negócios, organizando os recursos necessários para este fim e assumindo os riscos e recompensas. Para o autor, a redução do quadro de pessoas de grandes organizações, foi um dos motivos que fizeram com que mais pessoas buscassem ser empreendedoras. Um outro fator apontado por Robbins (2003) é a crescente oferta de franquias, possibilitando muitas pessoas a terem seu próprio negócio, que, de certa forma, já possui um formato definido, minimizando os riscos do empreendedor.
Mudanças de diversos tipos também são observadas nas organizações, que estão se tornando cada vez mais ágeis, flexíveis e capazes de se adaptarem às mudanças constantes que ocorrem no ambiente. Robbins (2003) cita como exemplo o aparecimento do trabalho flexível e temporário, com jornadas de trabalho adaptáveis às necessidades da empresa e do trabalhador. O trabalho a distância também é outro fenômeno que vem acontecendo, aproveitando os benefícios das novas tecnologias de informação e comunicação.
Tachizawa, Ferreira e Fortuna (2006) também contribuem para o entendimento das transformações que ocorrerão no âmbito das organizações empresariais. Para os autores tais mudanças estão relacionadas a:
- Mercados: evolui-se do tradicional padrão de estabilidade para a internacionalização dos mercados e o comércio inter e intrablocos econômicos, com a contínua fragmentação e transformação dos mercados existentes e a criação de mercados com base em novos produtos e serviços.
- Técnicas de mercado: nesse caso, observa-se a tendência para a criação e exploração de nichos de mercado, substituindo os estudos de mercado exclusivamente voltados para o consumo de massa. Essa personalização exigirá as empresas mudanças na forma de comunicação com o cliente e também internamente, que ocorrerá de forma virtual e de forma horizontal. Isso para encurtar o tempo da execução das atividades e o ciclo produtivo da organização.
- Produção: Nesse fator é possível observar a obsolescência de conceitos como manutenção de ritmo de produção a todo custo, economia de escala e elevado volume como único princípio, cortes de pessoal nas quedas de demanda, automação e capital mais importantes do que recursos humanos, custos e produtividade mais importantes do que qualidade e capacidade de resposta. Esses “velhos” conceitos serão substituídos por uma nova abordagem, que considera: sistemas flexíveis de manufatura, a natural adaptação do ritmo de produção às variações de demanda, tornando a manufatura um instrumento de técnica de mercado e estímulo à inovação. Considera também o uso de quedas de demanda para a manutenção e capacitação de recursos humanos e a capacidade de resposta e a solução conjunta de problemas com clientes e fornecedores.
- Modelo de gestão: que tenderá a pautar-se em valores e não por regras e papéis, enfatizando o aprendizado e o aperfeiçoamento contínuos. Nessa situação, a organização assimilará conceitos como sistemas flexíveis e procedimentos adaptativos, ampla delegação nas tomadas de decisão, fluxos de comunicação em todas as direções, recursos humanos de múltiplas habilidades, cumprindo tarefas variáveis, autodefinidas e quase sempre autocontroladas. A gestão de pessoas deve ser feita de forma a criar um clima organizacional propício, promovendo a educação continuada e programas de incentivo para retenção do acervo intelectual.
- Estrutura e crescimento: para os autores, profundas mudanças ocorrerão na atual hierarquia piramidal estável. A tendência e reduzir-se a hierarquia através de novas tecnologias da informação, adotando-se uma configuração organizacional dinâmica e ao redor, sob forma de rede plana, ágil e flexível de unidades organizacionais.
- Pessoas e talentos: no que se refere a este fator, é necessário levar em conta algumas novidades como autocontrole, auto-avaliação e constante capacitação interna, onde postos de trabalho estão em constante redefinição com pessoas generalistas. Novos valores centrais serão adotados, como competência, motivação, criatividade, trabalho em grupo, adaptabilidade e alto grau de compromisso.
- Liderança: A figura do líder centralizador, com autoridade suprema distante do seu pessoal será substituída por colaboradores agregadores de valor e como elementos centrais para o avanço da organização. O novo líder deverá estimular a participação e a criatividade dos funcionários, ser integrador, motivador, facilitador, comunicador.
Referências
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