QUE É ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR?
Quando recebi o convite com que fui distinguido para participar deste Simpósio e a solicitação que me foi feita de apoio a esta feliz iniciativa, disse ao membro da Comissão Organizadora que me abordava que não faltaria de modo algum. Vem de longa data o meu grande respeito e admiração ao Prof. José Querino Ribeiro, catedrático de Administração Escolar e Educação Comparada, e creio que sei julgar a dificuldade que tem enfrentado, e que hoje também enfrento, regendo que estou esta mesma cadeira na Universidade do Brasil, dificuldade essa que é a de lançar estudos que estão longe de ter precedentes entre nós.
A função de administrador é função que depende muito da pessoa que a exerce; o administrador depende de quem êle é, do que tenha aprendido e de uma longa experiência. Tudo isto é que faz o administrador. E, é comum, entre nós, pensar que aquilo que não se aprende senão em muitos anos, não se precisa aprender. Daí, não se precisar de preparar o administrador. O Brasil é talvez um país dos mais excepcionais neste assunto. Não me consta que os administradores se preparem no Brasil. Parece que não há administração no Brasil no sentido real de algo que se possa aprender e, muito menos, em educação, onde, ao que parece, nunca houve busca de administradores para as escolas. Qualquer pessoa pode dirigir as escolas. Qualquer pessoa pode administrar o ensino. É evidente que o país acha que para isso não é preciso preparo. E por quê? Por que será que o país acha que realmente não se precisa de preparo para dirigir escolas, nem dirigir a educação? Só percebo dois motivos: um deles é que os professores são tão perfeitos, que realmente não precisem de Administração, e segundo, que as escolas também sejam tão pequenas, que tais professores, perfeitíssimos, podem realizar seu trabalho em perfeito estado, digamos, de anarquia, cada um fazendo o que venha lhe parecer que deve fazer e resultando disso uma admirável Administração. Ou isto, ou então que as nossas atividades no ensino estejam de tal modo estabelecidas em leis, regulamentos, instruções e programas, que não haja trabalho para Administração. Cada um só tem que cumprir o que está escrito, e está administrada a escola, está administrado o ensino, estão administradas as nossas Universidades. A situação é de tal ordem, é tão alarmante, que, peço perdão aqui ao Magnífico Reitor, o papel do Administrador se resume, na maior parte das vezes, em manter bem o serviço de portaria do estabelecimento. A portaria mantém perfeita ordem, porque todos que precisam entrar encontram lugar para entrar, os professores e alunos se dirigem às suas classes, e o ensino se realiza porque essa “ordem” existe. Ora, efetivamente é assim que se faz ensino no Brasil. Apesar disto, entretanto, parece que há administradores no campo do ensino particular. Parece que no campo de ensino particular, se um estabelecimento encontrar um grande administrador, agarrar-se-á a ele com unhas e dentes, e não o afastará da direção do seu estabelecimento. Por que será que, apesar de o Brasil ser como é, existe no ensino particular Administração Escolar?
A explicação está em que tem ele poder um pouco maior do que o do Administrador Público. E, como não posso administrar sem poder, sendo maior na escola particular o poder do administrador, aí pode ele administrar. Administra porque se fez administrador e tem as qualidades pessoais para isto. Não que se prepare. Como é muito difícil administrar, não se crê que possa aprender fazê-lo. O administrador faz-se, não se prepara.
Mas, que é o administrador? O administrador é homem que dispõe dos meios e dos recursos necessários para obter alguns resultados. Resultados certos, e isto é um administrador. Logo, determinados, propositais, estabelecidos pela ação intentada. Não há função mais constante nem mais geral. A vida está completamente saturada dela. Sem administração, a vida não se processaria. Mas há dois tipos de administração: e daí é que parte a dificuldade toda. Há uma administração que seria, digamos, mecânica, em que planejo muito bem o produto que desejo obter, analiso tudo que é necessário para elaborá-lo, divido as parcelas de trabalho envolvidas nessa elaboração e dispondo de boa mão-de-obra e boa organização, entro em produção. É a administração da fábrica. É a administração, por conseguinte, em que a função de planejar é suprema e a função de executar, mínima. E há outra administração – à qual pertence o caso da Administração Escolar – muito mais difícil. Seu melhor exemplo é o da Administração dos hospitais, em que a grande figura é, digamos, a do cirurgião; o administrador é apenas o homem que dispõe o hospital nas condições mais favoráveis possíveis para que o cirurgião exerça com a maior perfeição possível a sua função. Este é também o caso da educação. Administração da escola é também aquela na qual o elemento mais importante não é o administrador, mas o professor. Enquanto na fábrica o elemento mais importante é o planejador, o gerente, o staff, na educação, o elemento mais importante é o professor. Se este professor é homem de ciência, de alta competência, e a sua escola é pequena, pode realizar a função de ensinar e a de administrar. Organiza a sua classe, administra a sua classe, faz os trabalhos necessários para que o ensino se faça bem. Além disto, ensina aos alunos, e, mais, guia e dirige os estudos dos alunos. Estão reunidas nas atividades desse professor as três grandes funções que vão passar para a Administração. A função de administrar propriamente a classe; a função de planejar os trabalhos e a função de orientar o ensino. Se o professor for sumamente competente, a Administração fica sumamente insignificante. Daí, à medida que passamos do ensino primário para o secundário, e deste para o superior, reduzir-se, teoricamente, a função da Administração, tanto mais importante quanto mais tenha a escola professores de nível, digamos, mais modesto. No ensino superior a Administração é quase mínima, no secundário, é média, e no primário, é máxima.
Máxima, por quê?
Porque, se podíamos antigamente ter o grande professor primário que sozinho dirigia a sua classe, hoje, tendo que dar educação à população inteira, sou forçado a buscar um magistério em camadas intelectuais mais modestas. Quanto mais imperfeito for o magistério, mais preciso de melhorar as condições de Administração. Quer dizer: entre os dois grandes tipos de Administração – a fabril ou material e a do tipo humano em que o Administrador é apenas um auxiliar de pessoas supremamente competentes – a Administração Escolar se situa como caso intermediário, sendo a função administrativa tanto mais importante, quanto menos preparado for o professor. Por que insinuo a tendência de que o professor está a ficar cada vez menos preparado? Porque somente quando o ensino é reduzido em quantidade posso eu fazer uma alta seleção dos educadores. Como tenho de educar toda a população, terei de escolher os professores em todas as camadas sociais e intelectuais e, a despeito de todo o esfôrço de prepará-los, trazê-los para a escola ainda sem o preparo necessário para que dispensem eles administração. Esta se terá de fazer altamente desenvolvida, a fim de ajudá-los a realizar aquilo que faziam se fossem excepcionalmente competentes. A ingratidão de nossa cadeira, Professor Querino, é que temos de criar tais conceitos todos novos. Por que somos hoje tão necessários, e antigamente não o éramos? Por que antes não se cogitava de preparar o Administrador Escolar, e hoje precisamos fazê-lo? Porque o problema se fez agora extremamente complexo, sobretudo nesta civilização paulista, que está celeremente atingindo níveis avançados, sem passar gradual e lentamente pelas fases por que deveria passar, o que a obriga a esfôrço maior e especial. São sobretudo aqui especialmente importantes os estudos de Administração Escolar. Tais estudos e o preparo do administrador é que irão permitir organizar o ensino em rápido desenvolvimento e criar a consciência profissional necessária, pela qual aquele antigo pequeno sistema escolar, com o professor onicompetente, precisando apenas de um guardião para sua escola, hoje transformado no grande sistema moderno, no qual não se encontra mais aquele tipo de professor e as escolas complexas e fluidas não dispõem sequer de estabilidade do magistério, possa conservar as condições equivalentes àquelas anteriores e produzir ensino com a mesma eficácia. O novo administrador terá pois de substituir algumas funções daquele antigo professor, ou melhor fazer o necessário para que o novo professor, tanto quanto possível, tenha a mesma eficiência daquele antigo professor. Quando no começo dizia que o grande professor administra a sua classe, ensina e guia o aluno, estava a indicar as três grandes funções que agora deverão ser selecionadas, para constituir as grandes funções da administração da escola. Aquele professor que revele maior capacidade administrativa deverá orientar-se naturalmente para a especialização de administrador da escola. Aquele que tem grandes qualidades de magistério, isto é, as de sobretudo saber ensinar, transmitir a matéria, deve especializar-se para ser o supervisor, ou seja o professor de professores, que, no staff da administração da escola, trabalha para que métodos e processos de ensino melhorem cada vez mais. E aquele outro professor, que revele singular aptidão para guiar alunos, para compreender alunos, para entender os problemas de alunos, vai transformar-se no futuro orientador.
De maneira que, da célula da classe, onde está o professor realizando a obra completa de educação, saem as três grandes especialidades da Administração Escolar: o administrador da escola, o superviso do ensino e o orientador dos alunos. E à medida então que a nossa tarefa aumenta e passamos a ter que educar toda a gente, será este pugilo de homens, a presidir a escola, que irá dar aos professores das classes aquele saber que eles antigamente tinham por si mesmos, as condições necessárias para que possam fazer nas classes o mesmo que faziam antigamente os professores onicompetentes e de longa e contínua experiência. Por conseguinte, se antigamente era o professor a figura principal da escola, hoje num grande sistema escolar, com a complexidade moderna, complexidade que agora chega a atingir a própria Universidade – a escola terá que depender do administrador e de seus staffs altamente especializados, que elaborem especificamente todo o conjunto de ensinamentos e de experiências, que antigamente constituía o saber do próprio professor da antiga instituição pequena e reduzida, a que servia com sua longa experiência e sua consumada perícia. Ao participar desta cerimônia inicial do I Simpósio Brasileiro de Administração Escolar, julguei dever fazer estas observações para marcar quanto tais estudos são novos, quanto não têm eles precedentes.
Está acabando de sair agora, em língua portuguesa, a tradução do “Educação Comparada” de Nicholas Hans. A Cadeira de Administração Escolar e Educação Comparada existe no Brasil já há mais de vinte anos. Entretanto, os seus próprios livros de texto estão apenas começando a existir, e os livros de Administração Escolar não existem aqui na abundância com que florescem na América do Norte. E por quê? Porque a América do Norte empreendeu um trabalho como este que o Brasil está empreendendo agora: o de generalizar o sistema educacional a uma população enorme sem ter gente devidamente preparada para isto. Também eles atravessaram fases de desenvolvimento econômico rápido. Também eles sofreram singular mobilidade de magistério. O professor primário americano conservava-se no magistério em média quatro anos, até 1920. Hoje, é um pouco mais prolongado o período em que a moça se conserva professora primária. Ora, podemos imaginar o que seria organizar uma escola primária em que nenhum professor chega a ter quatro anos de experiência. Todas as atividades de administração aumentaram enormemente para permitir que este trabalho se fizesse sem inevitável prejuízo para a escola. A escola americana ganhou um pouco o jeito, o feitio de fábrica, de organização muito bem planejada no centro e deflagrada para ser executada. Tal situação não ocorreu na Europa, onde a escola se fez o resultado de longa sedimentação histórica, produto do saber adquirido por longa experiência. Não devemos repetir aqui o caso dos Estados Unidos. Temos que aproveitar a experiência americana, que foi a experiência de intensa organização administrativa e certa pobreza de magistério, sem negligenciarmos a experiência européia, caracterizada pela alta qualidade do magistério e certa pobreza administrativa.
Temos que fazer as duas coisas. Já começa a não haver os grandes professores que podem dispensar Administração. Estamos atravessando fase algo parecida com a dos Estados Unidos. Ou nos organizamos a ponto de criar uma espécie de cérebro coletivo das organizações, ou as iremos mecanizar num grau que talvez nem a América do Norte as tenha mecanizado.
As influências europeias ainda presentes entre nós é que nos irão defender desse perigo, desenvolvendo o tipo de administração brasileira que o nosso gênio há de saber criar.
Diretor do I.N.E.P.
http://www.bvanisioteixeira.ufba.br/fran/artigos/quee.html (20/10/2020)
Melhores Práticas para uma Administração Escolar de Qualidade
Uma instituição de ensino deve priorizar as melhores práticas de administração escolar da atualidade. Não basta oferecer um conteúdo de alta qualidade para os alunos, porque o colégio necessita apresentar uma boa infraestrutura para os estudantes atingirem um bom desempenho.
Além da conservação do patrimônio, uma escola deve utilizar recursos tecnológicos que chamem a atenção do público-alvo e tornem as aulas mais interessantes. Não considerar as mudanças sociais provocadas pelo avanço tecnológico é um dos maiores erros que um gestor de uma escola pode cometer.
1. Elabore o planejamento estratégico
Para uma escola avançar, é fundamental definir os objetivos e as metas a curto, médio e longo prazo. Por isso, o planejamento estratégico é uma ferramenta cada vez mais utilizada pelas empresas atualmente. Nele devem estar alguns aspectos essenciais para o bom funcionamento de uma organização, como:
- missão (razão de existência da instituição);
- visão (de que maneira a colégio pretende ser visto no futuro);
- valores (práticas que devem ser adotadas por todos os colaboradores).
Também é indicado a montagem da matriz SWOT, que aponta as forças (pontos positivos) e as fraquezas (aspectos negativos) no âmbito interno, além das oportunidades e ameaças que estão relacionadas com o segmento externo.
Com essas informações coletadas, é mais fácil traçar as metas a serem atingidas. Elas devem ser acompanhadas por meio de indicadores de desempenho, parâmetros que ajudarão a escola a verificar se está apresentando um bom rendimento. O monitoramento da performance é indispensável para constatar eventuais dificuldades e encontrar alternativas para superá-las.
A administração escolar deve participar ativamente do planejamento estratégico e também atuar na revisão dessa ferramenta de gestão. Se não houver o engajamento dos gestores e dos funcionários, esse recurso não será relevante para o crescimento da instituição de ensino.
2.Tenha foco na tecnologia
Por mais que os professores sejam capacitados e criativos, ignorar a tecnologia no ambiente escolar é pedir para ser superado pela concorrência. Muitas escolas têm utilizado, com frequência, tablets e smartphones para os alunos conseguirem um melhor rendimento em sala de aula.
Um colégio pode, por exemplo, usar um aplicativo para os estudantes assimilarem melhor o conteúdo da língua inglesa por meio de exercícios que os ajudariam a ter um maior domínio do idioma.
Também é possível uma instituição de ensino adotar uma plataforma, onde os pais podem acompanhar a frequência e a nota dos filhos em cada disciplina. Essa iniciativa contribui para aproximar os responsáveis dos gestores e dos professores, melhorando o relacionamento entre eles.
As escolas ainda podem investir em softwares para aperfeiçoar a administração escolar. Esses sistemas podem fornecer dados sobre o patrimônio, o que ajuda a verificar em que setores o colégio deve investir para não comprometer a qualidade dos serviços.
3. Priorize o controle financeiro
Em um cenário de instabilidade econômica, uma escola precisa se preocupar com o controle dos gastos e a entrada de receita. Manter o pagamento de funcionários e fornecedores em dia é uma forma de manter o ambiente organizacional mais tranquilo e aberto a novos investimentos.
É importante contar com um sistema que permita verificar uma série de itens relacionados com a saúde financeira da escola, como:
- valores das contas de água e de luz;
- folha salarial;
- taxa de inadimplência;
- descontos concedidos para bolsistas;
- custos com fornecedores;
- empréstimos;
- receita proveniente do pagamento das mensalidades.
A análise das finanças é crucial para fazer uma estimativa de gastos para o futuro. Um colégio não pode se dar ao luxo de atingir um elevado grau de endividamento, porque poderá tomar medidas drásticas para contornar a situação, o que pode prejudicar o nível do ensino e afastar os alunos.
A administração escolar deve ter um olhar atento para a montagem do orçamento e o controle dos gastos. Do contrário, terá mais dificuldades de reter estudantes e de adotar medidas para melhorar o desempenho dos alunos e dos professores.
4. Tenha cuidado com o patrimônio
É muito bom contar com os softwares modernos de gestão escolar e com aplicativos que estimulem a participação dos alunos em sala de aula. Contudo, essa ação deve estar acompanhada de um gerenciamento adequado do patrimônio.
Ficar com o bebedouro defeituoso durante muito tempo e não cuidar devidamente da biblioteca, por exemplo, são ações que desestimulam os alunos e prejudicam a imagem da instituição de ensino. Com uma administração escolar ativa, é simples evitar que essas situações ocorram e prejudiquem o ambiente.
Um cronograma de atividades para a limpeza dos ambientes e vistoria de como estão conservados itens importantes do patrimônio (mesas, cadeiras, lâmpadas etc.) contribui bastante para a escola estar mais bem arrumada e agradável para receber os alunos.
5. Valorize o bom relacionamento
É importante manter o respeito pelos alunos como forma de cativá-los. Uma boa maneira de fazer isso é incentivando o diálogo em sala de aula. O ideal é que o professor ofereça oportunidade para todos se manifestarem sobre como está o andamento das atividades. Se essa ação for realizada de forma planejada, não vai atrapalhar a qualidade do ensino.
Pelo contrário, vai fazer com que os estudantes se sintam mais valorizados, o que vai aumentar o estímulo em participar das tarefas. A escola pode abrir um canal de contato para os pais se manifestarem pelo site ou redes sociais. À medida que a administração escolar se mostra receptiva para interagir, maiores são as chances de engajamento e fidelização.
6. Invista na qualificação dos funcionários
Os professores merecem um cuidado especial, porque precisam estar atentos às novas tendências de cada disciplina. Para eles estarem sempre preparados, é recomendado que a escola tenha um programa de treinamento que priorize a melhoria contínua dos docentes.
Com a facilidade de adquirir as informações pela internet, os alunos exigem dos professores mais capacidade de articulação de ideias e foco na atualização constante. Também é crucial investir na capacitação dos demais colaboradores para que eles prestem um atendimento cortês e de boa qualidade para o público-alvo.
A administração escolar deve estar atenta à infraestrutura da instituição, ao relacionamento com os stakeholders e à qualidade do ensino. Com essa postura, terá mais condições de reter os alunos e de conquistar a confiança dos pais.
6 melhores práticas para uma administração escolar de qualidade
(20/10/2020)