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AULA 06 – ENSINO À DISTÂNCIA

O trabalho do tutor na EaD

De acordo com Maggio (2001), o tutor aparece como o guia, protetor de alguém, enquanto o professor é aquele que ensina. Assim relata a professora, nas “perspectivas tradicionais da modalidade a distância, era comum sustentar que o tutor dirigia, orientava, apoiava a aprendizagem dos alunos, mas não ensinava” (MAGGIO,2001,p.95).

Maggio (2001) segue em sua definição asseverando que nas perspectivas pedagógicas mais atuais, alimentadas pelo produto de trabalhos de pesquisa no campo da didática, o docente cria propostas de atividades para reflexão, apoia sua resolução, sugere fontes de informação alternativas, oferece explicações, favorece os processos de compreensão; isto é, guia, orienta, apoia, e nisso consiste seu ensino. O que parece como uma contradição nada mais é do que o reflexo de uma profunda mudança nas concepções pedagógicas que se encontravam na origem da modalidade a distância.

Para a professora, dada a falta da presença sistemática do docente, o lugar de ensino assim definido ficava a cargo dos materiais, pacotes autossuficientes, fortemente sequenciados e pautados, cujo desenvolvimento concluía-se com uma proposta de avaliação semelhante em sua concepção de ensino. A tarefa do tutor consistia em assegurar o cumprimento dos objetivos, oferecendo um apoio que, da perspectiva do programa, incorporava mais uma variável para o controle e para o ajuste dos processos. Onde a modalidade se definia pela mediatização, pela autossuficiência dos materiais e pelo autodidatismo, assumiu-se que eram os materiais que ensinavam, e o lugar do tutor passou a ser o de um “acompanhante” funcional para o sistema.

Pois bem, as mudanças nas concepções pedagógicas conduziram o ato de ensinar pelo apoio à construção de conhecimento, assim como dos processos reflexivos em geral. Maggio elenca as seguintes alterações que levaram o repensar da prática educativa em EAD e do papel do tutor.

Entre elas, destaca-se a necessidade de dar atenção a questões como:

  • Os saberes prévios relativos à cotidianidade, às pautas culturais nas quais estamos imersos e aos conhecimentos adquiridos previamente na escola, com especial referência às concepções errôneas.
  • Os processos cognitivos individuais e os processos de conhecimento compartilhado, como saberes acerca da maneira de conhecer, de como se aprende com os outros e de como se pode ajudar os outros a conhecer.
  • A centralidade e relevância outorgadas aos conteúdos do ensino, substituindo-se o interesse pela estruturação lógica de tais conteúdos.
  • As questões autênticas, centrais nas disciplinas, que dão lugar à construção de novos conhecimentos.
  • As formas narrativas do conhecimento, que nos permitem construir nosso saber acerca da realidade desde a mais remota infância, e as metáforas, que nos ajudam a entender e imaginar.
  • Os problemas ou as situações concretas para resolver, que colocam nossas questões de um modo diferente, essencialmente prático.

Assim, o papel do tutor seria o de promover a realização de atividades e apoiar sua resolução, e não apenas mostrar a resposta correta, oferecer novas fontes de informação e favorecer sua compreensão.

Para esclarecer o papel do tutor, Maggio (2001, p.100) exemplifica:

Um aluno assiste à tutoria presencial em um curso universitário a distância. Ele leu o material bibliográfico e ocorreu-lhe uma série de perguntas que ele anotou para tratar com o tutor. Diante dessa situação, o tutor poderá:

    • Não as responder;
    • Dar respostas pontuais às perguntas formuladas;
    • Explicar os fundamentos das respostas;
    • Remeter aos textos ou às fontes bibliográficas;
    • Sugerir aos alunos que comparem suas perguntas e as categorizem;
    • Analisá-las como interrogações – quais entre os pressupostos que envolvem são centrais para a disciplina em questão, que concepções prévias puserem em jogo, que erros de compreensão;
    • Sugerir estratégias gerais para a abordagem de questões – análise das perguntas, formulação de hipóteses acerca de possíveis respostas, consulta a fontes, comparação de materiais diversos, busca de fontes alternativas de informação, etc.;
    • Reformulá-las, colocando questões mais autênticas no marco da disciplina, mais inclusivas ou mais complexas do ponto de vista cognitivo.

Para Maggio (2001), o bom tutor deveria ter claro que o sentido didático de cada uma dessas intervenções difere e escolher uma delas implica num alto grau de conscientização de suas consequências. A autora delimita as intervenções do tutor subordinadas a três dimensões de análise: tempo; oportunidade; risco. Para ela, o tutor não pode dizer “Amanhã continuamos”. Não se deve dizer isso. Na modalidade a distância, cujos níveis de retenção estão muito abaixo daqueles da educação presencial, “amanhã” pode ser “nunca”. Mesmo no caso dos alunos que não desertaram, poderia ocorrer de não voltarem a assistir a uma tutoria ou a consultar o tutor através do meio pautado para fazê-lo. A estes, a postergação poderia condenar ao fracasso. E de fato é nesse instante que o tutor pratica a presencialidade do ensino à distância, aliás dimensão, e não raro, razão dos elevados níveis de evasão da modalidade.

Nota: Na modalidade a distância, cujos níveis de retenção estão muito abaixo daqueles da educação presencial, “amanhã” pode ser “nunca”.

Maggio, em sequência, propõe duas possíveis combinações das alternativas apresentadas no caso:

  1. explicar os fundamentos dessas respostas e remeter aos textos ou às fontes bibliográficas;
  2. não as responder e analisá-las como interrogações – quais entre os pressupostos que envolvem são centrais para a disciplina em questão, que concepções prévias puserem em jogo, que erros de compreensão.

Mas a segunda leva tempo e, na EAD, a urgência posterga a opção pela compreensão. Assim a habilidade do tutor está em dedicar o máximo de seu tempo a enriquecer seus estudos e a formação do tutor deve contemplar esse aspecto. Além disso, representa uma excelente oportunidade de incentivar o aluno a, através das pistas que o tutor apresente, buscar aprofundamento do tema.

Então, como, em conhecimento, o tutor se diferencia do professor, do docente responsável pela disciplina? Sem dúvida o tutor deve ter formação básica no curso sobre o qual ele prestará tutoria e, seus conhecimentos, não devem diferir dos que precisa um bom docente.

A fundamentação da prática pedagógica em teorias de base cognitivista faz com que o trabalho de tutoria se revista de uma maior importância, na medida em que traz o entendimento da insuficiência da interação com o material didático para a aprendizagem do aluno. A presença do professor/tutor, sua fala, questionamentos, indagações e desafios são mediações fundamentais para ser estabelecida uma relação educativa verdadeira. (RIBEIRO,NEVES,2007, pág. 55)

Competências / Habilidades e Atitudes desejadas ao tutor

Antes de enfocarmos especificamente as competências mínimas exigidas ao tutor convém conhecer melhor os conceitos de competências e habilidades.

Conforme Konrath et al. (2009, p.6),

Ser competente significa ter condições de julgar, avaliar e ponderar para solucionar problemas ou decidir entre opções. O sujeito precisa ter conhecimentos que o permitam resolver ou enfrentar com sucesso uma determinada situação, desta forma é preciso que o mesmo utilize-se de seus conhecimentos ou saiba como buscá-los para utilizá-los em momentos que estes sejam necessários.

Mapeamento das competências mínimas necessárias para os papéis de professor, tutor e aluno.

Já as habilidades, devem ser desenvolvidas para justamente buscar as competências. Autores como Moretto (2002, apud KONRATH et al. (2009)), exemplificam habilidades como a capacidade de identificar variáveis, compreender fenômenos, relacionar informações, analisar situações-problema, sintetizar, julgar, correlacionar e manipular.

A (Mapeamento das competências mínimas necessárias para os papéis de professor, tutor e aluno.) extraída de Konrath et al. (2009) é bastante elucidativa para discriminar as competências de cada papel desempenhado pelos sujeitos envolvidos na prática pedagógica da EAD.

Para sistematizar a leitura do modelo ilustrado na figura (Mapeamento das competências mínimas necessárias para os papéis de professor, tutor e aluno.), observemos que as competências de cada um dos atores envolvidos com a EAD foram aglutinadas em categorias: cognitivas, técnica, gestão, pedagógicas, comunicativas e suporte social. Especificamente com relação ao tutor, a categoria pedagógica espelha a competência de acompanhar o trabalho pedagógico, orientando e incentivando os alunos, o que significa estar cotidianamente interagindo com os estudantes dirimindo dúvidas de ordem conceitual, técnica (funcionamento do curso no AVA) e de ordem administrativa. Já para o professor este domínio refere-se ao uso de atos pedagógicos, técnicas para facilitar a aprendizagem, acompanhamento do trabalho do tutor e do processo do aluno, suporte em tarefas cognitivas, promoção de autorreflexão, responsabilidade por instruir e guiar o aluno (KONRATH et al.,2009).

Uma das competências mais importantes exigidas ao tutor é a comunicativa. É da competência do tutor impedir que se desvele a sensação de “abandono” não raramente verbalizada pelos alunos. Para tanto o papel do feedback constante, nem que seja para dar um “ok, vou olhar seu questionamento e te responderei assim que for possível” (se comprometendo com o aluno) desperta no estudante a sensação de pertencimento, de acolhimento e de conforto.

O suporte social diz respeito aos indícios/efeitos de como ocorre a comunicação social, principalmente não verbal, na sala de aula virtual. (LITO e FORMIGA, 2009 apud KONRATH et al.,2009). Esta categoria envolve competências que visam promover a solidariedade do grupo e também acolhimento emocional do estudante.

A importância da presencialidade

Na EAD a distância é apenas física, mas a proposta pedagógica desvela uma dimensão que independe da distância física, que é a presencialidade. É o estar presente nos contatos auditivos (podcast), visuais (videoaula) e principalmente textuais (mensagens, chats,fóruns), que o tutor valida a presencialidade do modelo de Educação a Distância. E, para tanto, o papel do tutor é fundamental, pois é ele que cotidianamente está em contato com o aluno, fazendo-o sentir-se parte do curso e da instituição que representa. A este respeito, as professoras Antônia Maria Coelho Ribeiro e Maria Cristina Baeta Neves (2007) são enfáticas quando discorrem sobre a afetividade, categoria fundante da presencialidade em EAD.

Um dos aspectos impulsionadores da aprendizagem é a afetividade, que, mais do que despertar, mantém o interesse de uma pessoa em algo, pois a força afetiva é muito mais importante do que se pode perceber numa observação rápida e deve ser mais bem compreendida e utilizada pelos professores em geral. A um tutor, são necessárias a sensibilidade, a afetividade e a receptividade, pois uma educação que se realiza a distância não significa que deva estar distanciada do relacionamento humano. A empatia com seus interlocutores é necessária, porque, ao captar as incertezas dos alunos, suas ansiedades e inseguranças, a tutoria se aproxima deles e aumenta a possibilidade de uma interação mais eficaz. Se a interação facilita a manifestação das carências e das vontades, facilita, portanto, também o conhecimento dos aspectos cognitivos e emocionais da aprendizagem, contribuindo para aperfeiçoar as habilidades na resolução de problemas em qualquer área do conhecimento. (RIBEIRO, NEVES,2007, p.54)

A forma construtivista de conhecimento à qual estamos nos alinhando, prevê a importância do material didático, mas reconhece como insuficiente à aprendizagem de cada aluno. Por isso o processo de aprendizagem precisa ser complementado pela mediação da tutoria. É dado ao estudante mais do que os procedimentos administrativos e cognitivos: ele recebe, também, orientações que o incentivam a superar suas dificuldades, com o objetivo de permanecer no processo e continuar avançando na construção do seu conhecimento, de acordo com o seu ritmo de aprendizagem e o seu estilo cognitivo. (RIBEIRO, NEVES,2007)

Não existem muitos estudos e pesquisas, no Brasil, pelo menos publicados, acerca da evasão em programas de EAD. Sabe-se, no entanto, que dentre as possíveis razões que podem levar o aluno a evadir de um curso está, sem dúvida, a falta de um acompanhamento sistemático e mais próximo ao aluno por parte da tutoria. (RIBEIRO, NEVES,2007)

Muitas das causas da evasão escolar na EAD podem ser evitadas, especialmente se estiverem relacionadas à organização do curso e/ou se forem decorrentes de falta de interesse e de motivação dos alunos. Cabe ao tutor, então, uma parcela significativa de responsabilidade quanto à permanência dos alunos, o que implica a realização de um trabalho de reestruturação do curso, baseado em sua avaliação, e/ou um trabalho permanente de facilitação e de orientação da aprendizagem de cada aluno, por meio de apoio pedagógico; de acompanha¬mento sistemático do seu desempenho e de criação de espaços para troca de experiências entre os participantes. Tudo isso exige, portanto, uma atuação permanente e dinâmica, alerta às dificuldades ou limites impostos aos alunos ao longo do seu processo de aprendizagem. (RIBEIRO, NEVES,2007, 63-64)

Dentre as estratégias mais efetivas que visam desenvolver a autonomia pedagógica por parte de quem aprende, cabe destacar a inserção de momentos presenciais individuais ou grupais para a elaboração de trabalhos. Trabalhos em grupo para que os alunos tenham a oportunidade de desenvolver suas habilidades comunicativas, de liderança, de negociação e de resolução de problemas em equipe. É no trabalho grupal (presencial ou virtual) que se integram e articulam conteúdos.

Uma aprendizagem que se pretende participativa não pode prescindir de dispor de um espaço para o desenvolvimento da argumentação entre os sujeitos, já que é no desenvolvimento da capacidade de argumentar do aluno que está uma das principais manifestações formais da dimensão política da aprendizagem. Colocando-se, ele faz valer a sua opinião. Escutando o outro, ele aprende a respeitar e a valorizar outras opiniões, pontos de vista que, se não o fazem aprender com o outro, fazem-no, no mínimo, reafirmar seu próprio posicionamento. Assim, a comunicação tutor-aluno e aluno-aluno é uma condição básica para que a aprendizagem ocorra. Cabe ao tutor o desempenho da função de mediação e provocação de aprendizagens capazes de suscitar no sujeito a realização de interações que o façam se desenvolver como cidadão e profissional.

Seja por exigências legais, seja pela demanda dos próprios alunos ou pelas próprias características dos cursos, o fato é que a maior parte dos programas de EaD planejam a ação da tutoria em momentos de interação, que se concretizam por ocasião de encontros e seminários, quando o aluno se comunica ao vivo com o (s) tutor(es) e outros alunos. Esses momentos devem ser vistos como oportunidades para troca de experiências, trabalhos em grupo, aprofundamento de conteúdos, esclarecimento de dúvidas, apresentação de trabalhos e, até mesmo, de avaliação. Como os momentos presenciais se assemelham a atividades de sala de aula, eles merecem um tratamento igual a uma aula presencial, isto é, devem seguir um plano de aula elaborado para atender a seus propósitos.

Qualquer que seja o caminho escolhido para desenvolver o trabalho tutorial, o importante é que a instituição se abra para a realização de atividades presenciais, não apenas aquelas exigidas por lei para a realização de avaliação, mas objetivando esclarecer dúvidas, discutir coletivamente os pontos de maior interesse do grupo ou mesmo desenvolver sua integração. É preciso, contudo, lembrar que, apesar da conveniência pedagógica, em muitas situações a inclusão obrigatória de momentos presenciais inviabiliza a participação no curso de estudantes que residam longe da localidade do encontro, reduzindo, desta forma, o público-alvo potencial da respectiva programação. Esta variável deve ser levada em conta no momento de planejar a inclusão de atividades presenciais.

Síntese: “A tutoria em EaD”. Este item pretendeu ressaltar a importância da mediação do tutor, como competência imprescindível para auxiliar no desenvolvimento cognoscitivo do aluno, mas também para atuar psicologicamente contra a sua sensação de abandono.

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