O papel da Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC ́s)
Neste terceiro tema pretendemos apresentar o papel das tecnologias da informação e comunicação (TIC) na nova agenda educativa, que é a EAD. Exploraremos seus conceitos, sua articulação na mediação do processo ensino-aprendizagem e apresentaremos algumas das plataformas onde se desenvolvem os ambientes virtuais de aprendizagem.
As tecnologias da informação na Educação
Parece-nos interessante, apenas como redação introdutória, entender a etimologia da palavra tecnologia.
As palavras técnica e tecnologia têm sua raiz no verbo grego tictein, que significa criar, produzir. Para os gregos, a téchne era o conhecimento prático que visava a um fim concreto e, combinada com logos (palavra, fala), diferenciava um simples fazer de um fazer com raciocínio. Para Aristóteles, a téchne era superior à experiência: era um fazer que implicava uma linha de raciocínio, que compreendia não apenas as matérias-primas, as ferramentas, como também a ideia originada na mente do produtor até o produto pronto – a téchne sustentava um juízo sobre o como e o porquê da produção. (CORREIA, J.,2005).
Sendo o ato de pensar inerente ao homem e estar igualmente relacionado ao seu projeto histórico, o conhecimento se apresenta numa tentativa de materialização deste projeto.
Com o advento da revolução industrial, a razão ética, reflexiva que existia no conceito aristotélico se materializa, se instrumentaliza no produto que é produzido. Hoje, quando falamos de tecnologia, nós a relacionamos com os instrumentos e não como uma técnica que emprega conhecimentos científicos, os quais sustentam, são subjacentes, ao instrumento.
A tecnologia configura-se como um corpo de conhecimentos que não só usa o método científico, mas também o transforma e cria processos materiais. O conceito foi se ampliando e englobando um conjunto de ideias, meios e processos, além de equipamentos. (CORREIA, J., 2005)
Assim, a tecnologia, como um elemento constituinte do campo social, também passa a ser compreendida no processo educacional de forma dissociada do conhecimento, mantém-se a concepção da mesma como mais um aparato maquínico que vai possibilitar responder às problemáticas existentes na prática educacional. (RAMAL,2002, apud SANTOS, J.Z.,2008). Assim, vivenciamos em nosso cotidiano educacional o uso de tecnologias da comunicação e da informação. Entretanto, somente a experiência e a capacidade de estabelecer conexões, próprias do ser humano, poderão produzir significados, dar sentido à vida, seja com a utilização de uma caneta ou um mouse.( CORREIA,J.,2005)
Quando utilizamos as tecnologias pedagógicas no trabalho, podemos pensar também na possibilidade de construção interativa de conhecimentos, onde, coletivamente, o saber dos sujeitos interage com os saberes de outros sujeitos, concretizando a formação do conhecimento em rede. Nada poderia ser mais exemplar do que a EAD materializando o conceito da construção coletiva do conhecimento através do uso das novas tecnologias de informação e comunicação, em especial através da internet. O papel mediador do professor vai possibilitar, em determinados momentos, a permanência ou ausência dos sujeitos em constante interatividade: nos diálogos dos fóruns e chats, no desenvolvimento de atividades e na integração entre os sujeitos da aprendizagem.
Reflexão – Os processos de transmissão da informação ganham sentido enquanto possuem relação com a realidade vivida, com o contexto cultural, com a existência social e pessoal, ou seja, que possuam significado. Ao contrário, não haverá a conversão da informação em conhecimento!
Nesse momento, a sociedade da informação se caracteriza pelo desenvolvimento do processamento e da velocidade de transmissão da informação. Esses processos ganham sentido enquanto possuem relação com a realidade vivida, com o contexto cultural, com a existência social e pessoal, ou seja, que possuam significado, ao contrário, não haverá a conversão da informação em conhecimento. Daí a importância do processo de ensino e aprendizagem como parte seminal desta conversão.
Conforme Correia, J. (2005, p.31)
Na maioria das vezes, os programas de EaD se apoiam na pedagogia tradicional, num paradigma condutivista, reforçando a fragmentação do conhecimento e da prática pedagógica. A partir dos princípios da instrução programada, tivemos o desenvolvimento das metodologias de auto aprendizado e o surgimento da tecnologia educacional. Com isso, tivemos a definição dos objetivos operacionais, das unidades de aprendizagem, da estruturação sequencial dos conteúdos e atividades e da aprendizagem individualizada, segundo o próprio ritmo do aluno. Podemos observar, ainda hoje, que muitos programas de ensino informatizados seguem a lógica da instrução programada, assim como também é possível identificar uma forte influência desta nos cursos de EaD. (CORREIA, J.,2005).
Dentre todas as mídias disponíveis ao ensino à distância (verbal oral/sonoro: podcast, audiovisual: vídeos, teleconferências ou verbal escrito: chats, fóruns, mensagens e o material virtual ou impresso) a Internet é a tecnologia que dá o status atual da Educação a Distância. É ela que amplia as possibilidades de interação em rede e “encurta” as distâncias.
Dentre todas as mídias disponíveis ao ensino à distância, a Internet é a tecnologia que dá o status atual da EAD. É ela que amplia as possibilidades de interação em rede e “encurta” as distâncias.
O impacto da Internet na construção do conhecimento
No início dos anos 1960, algumas pessoas com pensamento visionário, viram na Internet um sistema que traria um grande potencial aos computadores por permitir a troca irrestrita de informações. Apesar de hoje associarmos a esta troca de informações facilitada pela rede afins tão lúdicos e educacionais, o surgimento da Internet esteve intimamente ligado ao período da guerra fria, que perdurou durante 40 anos (1950-1990), após a segunda guerra mundial. A partir do receio de que um ataque nuclear pudesse provocar a perda de milhares de informações estratégicas guardadas em suas bases militares norte-americanas, foi que se começou a especular sobre os benefícios potenciais de uma rede de comunicações a nível nacional que pudesse descentralizar as informações. Este projeto ficou conhecido como o ARPANET.
É somente a partir do final da década de 80 que o perfil de utilização da Internet transforma-se: deixa de servir afins estritamente militares para adentrar no foco educacional. Graças ao pesquisador Tim Barners-Lee, conhecido como o grande inventor da World Wide Web, a WWW é uma rede universal de informações que, embora inicialmente conhecida apenas por pesquisadores e professores, ganharia uma enorme popularidade a partir de 1990, pelo fato de ser uma plataforma livre, ou seja, oferecida gratuitamente. A partir de então, vários navegadores foram criados e aperfeiçoados para uma linguagem amigável, o que ampliou ainda mais o acesso à rede. O Dr. Genaro Vilanova Miranda de Oliveira, doutor no uso de novas mídias para o ensino de História do Brasil, ressalta que o grande interesse mundial pela Internet também está aliado ao um forte interesse comercial. Hoje, de uma população mundial de cerca de 7,4 bilhões de pessoas, cerca de 45% estão conectadas à rede mundial, representando 3,2 bilhões de pessoas, segundo a ONU.
Sem sombra de dúvida, a enorme ampliação da Internet definiu um campo promissor para o desenvolvimento do ensino à distância via Web, ressaltando pelo menos 3 pontos focais em facilidades:
- Computadores e demais tecnologias de rede estão cada dia mais acessíveis a todos os envolvidos no processo educativo;
- Permite maior acessibilidade e flexibilidade;
- Por ser um meio essencialmente multimidiático, se insere numa maior gama de possibilidades de acesso à informação.
Sobre esta última vantagem, a crescente concorrência entre as instituições que almejam se firmar nesse mercado educacional imprime o desenvolvimento de web cursos cada vez mais sofisticados, tendendo cada vez mais para a integração tecnológica, para a apresentação de mídias textuais, sonoras e imagéticas.
Mas como essa tecnologia em rede (via Internet) impacta na educação? Mais tecnologia representa mais educação?
A ilustração a seguir apresenta, por continente, a situação mundial de usuários da rede. 3,9 bilhões ainda não estão conectados à Internet, contudo ela avança a passos largos.
As velozes transformações tecnológicas impõem um ritmo diferente à práxis de ensinar e também do aprender. Hoje o que se desloca não é mais o aluno, mas a informação. Segundo Kenski (2003, p.30), velocidade é o termo – síntese do status temporal do conhecimento na atualidade: velocidade para aprender e velocidade para esquecer. Velocidade para acessar as informações, interagir com elas, e superá-las com outras inovações.
Assim, a velocidade das alterações ocasiona efêmera duração da mensagem e desobriga o sujeito a retê-las como verdades. Observem que a lógica e estrutura do conhecimento se altera com o advento da Internet, e isto se caracteriza, tal como para a educação, como demanda por novas metodologias e novas perspectivas para a ação docente (KENSKY,2003) Citando Rose (1992, apud KENSKY,2003, p.45) “já deixamos pra trás as nossas vivências lineares para nos tornarmos seres hipertextuais.” Nessa abordagem alteram-se principalmente os procedimentos didáticos; o professor, antes detentor do monopólio do conhecimento, agora é um parceiro, um mediador, um orientador dos alunos diante de tantas possibilidades.
Kensky (2003) aponta o papel do professor e do aluno em quatro diferentes categorias de ensino:
- “contador de história”- apresentado em vídeo, por exemplo;
- negociador- o ensino se dá por meio da discussão do conteúdo via, fóruns, discussão de um texto postado, apreciação de um filme, chats…
- pesquisador: o aluno assume este papel ao interagir com outros saberes utilizando-se de recursos midiáticos.
- Colaboradores: professores e alunos utilizando-se dos recursos da mídia para construir novos conhecimentos.
A sala de aula transmuta-se na virtualidade em espaço social, lugar onde se desenvolve a “inteligência coletiva” defendida por Levy (1994).
Conforme Santos (2006), ao pensar na possibilidade de utilização dos elementos tecnológicos, o educador necessita rever o processo de aprendizagem compreendendo que: a análise, a reflexão e a ressignificação do conhecimento são fatores importantes para se redesenhar a práxis pedagógica nesta sociedade informacional. No processo de aprendizagem do estudante requer-se uma tomada de consciência sobre o seu papel de que a garantia da aprendizagem está nele próprio e não no educador ou na tecnologia.
As plataformas do Ambiente Virtual de Aprendizagem
A visão tradicional de sala de aula vai sendo modificada com as novas possibilidades de comunicação e interação. Cada vez mais a lógica bancária da educação (professor detentor do conhecimento e aluno expectador) vai sendo substituída por uma construção contínua, coletiva e em rede.
Os ambientes virtuais de aprendizagem são espaços eletrônicos significando, virtualmente, o atual lócus da aprendizagem, onde se viabiliza a comunicação multidirecional entre todos os sujeitos envolvidos no processo ensino-aprendizagem.
Os novos paradigmas epistemológicos apontam para a criação de espaços que privilegiem a co-construção do conhecimento, o alcance da consciência ético-crítica decorrente da dialogicidade, interatividade, intersubjetividade. Isto significa uma nova concepção de ambiente de aprendizagem – comunidade de aprendizagem que se constituam como ambientes virtuais de aprendizagem”. (OKADA; SANTOS,2004,p.54)
A sala de aula virtual, chamemo-la assim, é um ambiente que disponibiliza diversas mídias com linguagens pedagógicas (fóruns, chats, mensagens, bibliotecas virtuais, tarefas para avaliação, etc.) convidativas ao processo de aprendizagem.
No ensino a distância, a interação entre professores e estudantes permite não só a troca de saberes, mas um encontro sócio-afetivo. Quanto mais o professor e os alunos interagirem num ambiente atrativo e amigável, menor é a sensação de solidão e desamparo que tanto aflige os estudantes. As TIC oferecem amplas possibilidades de interação e interatividade, conceitos que merecem esclarecimentos por parte de Belloni (2001, p.58).
É fundamental esclarecer com precisão a diferença entre o conceito sociológico de interação – ação recíproca entre dois ou mais atores onde ocorre a intersubjetividade, isto é, encontro de dois sujeitos – que pode ser direta ou indireta (mediatizada por algum veículo técnico de comunicação, por exemplo, carta ou telefone); e a interatividade, termo que vem sendo usado indistintamente com dois significados diferentes em geral confundidos: de um lado a potencialidade técnica oferecida por determinado meio (por exemplo CD-ROMs de consulta, hipertextos em geral, ou jogos informatizados), e, de outro, a atividade humana, do usuário, de agir sobre a máquina, e de receber em troca uma “retroação” da máquina sobre ele.
Existem várias plataformas (softwares) destinados à construção de ambientes virtuais de aprendizagem, alguns pagos, mas há também aqueles disponíveis gratuitamente desenvolvidos por universidades ou por terem o seu código aberto como por exemplo o Aulanet, TelEduc, MOODLE, Dokeos. Todos eles (pagos ou gratuitos) dispõem das principais ferramentas para a sua construção, sejam elas relativas ao conteúdo escrito síncrono (chats e/ou salas de bate-papo), ou assíncronos (fóruns de discussão e mensagens individuais). A tabela a seguir resume as principais características e potencialidades dos softwares livres:
Software | Características |
Aulanet |
Iniciado com um projeto do laboratório de engenharia de software da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, objetiva principalmente a criação e assistência de cursos a distância. A ideia do ambiente para uma abordagem cooperativa e querendo estabelecer uma comunidade dinâmica de aprendizagem. |
TelEduc |
O TelEduc é um ambiente para realização de cursos a distância através da Internet. Está sendo desenvolvido no Nied (Núcleo de Informática Aplicada a Educação) sob a orientação da Profa. Dra. Heloísa Vieira da Rocha do Instituto de Computação da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), a partir de uma metodologia de formação de professores construída com base na análise das várias experiências presenciais realizadas pelos profissionais do núcleo. |
Moodle |
MOODLE é o acrônimo de “Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment”, um software livre, de apoio à aprendizagem, executado num ambiente virtual (ver ambiente virtual de aprendizagem). A expressão designa ainda o Learning Management System (Sistema de gestão da aprendizagem) em trabalho colaborativo baseado nesse software ou plataforma, acessível através da Internet ou de rede local. |
Dokeos |
Dokeos é uma suíte de aprendizagem com quatro componentes: AUTOR para construir conteúdo de e-learning, LMS para controlar a interação com os aprendizes, LOJA para vender um catálogo de cursos, e AVALIAÇÃO para avaliação e certificação. |
Limites e Potencialidades da EaD
O último tema de nossa primeira unidade pretende explorar as limitações e os desafios em se praticar esta nova modalidade de ensino. Ao fi nal da unidade teremos condição de postar nosso balanço sobre esta modalidade de ensino.
Quais estratégias e saberes são necessários para essa modalidade de ensino?
Será que é fácil fazer EAd?
Será que de fato a EAD permitirá a inclusão educacional?
Os defensores da EAD, em toda a sua plenitude, deverão estar sempre atentos para alguns desafios postos à sua função educacional. Esta nova modalidade enriquece muitos processos de construção do conhecimento mas traz consigo enormes desafios.
Enumerando as vantagens
Comecemos pelo questionamento que levanta a grande vantagem da Universalização do ensino num país de dimensões continentais. As propostas de EAD vão efetivamente, ou tenderiam, seguir esta direção, contudo, mesmo vencidas as distâncias físicas, ainda existe o risco de se aprofundar a distância entre as classes mais favorecidas e aqueles sem acesso às novas tecnologias em rede – os sem-modem. Uma proposta ao nível de política educacional seria a de ampliar o número de centrais públicas de acesso à Internet (telecentros). Em 2011 existiam mais de 8 mil telecentros no país e 13 mil pontos Gesac (Governo Eletrônico – Serviço de Atendimento ao Cidadão). A conexão de Internet dos telecentros do Ministério das Comunicações é assegurada pelo Programa Gesac via satélite e terrestre. Vencido este empecilho, sem sombra de dúvida, o espraiamento de acesso à educação é a grande vantagem da EAD.
Paralelamente são vantagens das novas TIC a proposta de um currículo sem limites, utilizando-se dos hipertextos, redes, etc., e o respeito ao ritmo e disponibilidade de tempo de cada aluno.
O desconforto típico do estudo – ouvir professores ao longo de quatro horas por dia – é substituído pela comodidade de aprender diante do computador, da TV, em salas de vídeo, podendo acessar livros, jornais e imagens com um clicar do mouse em tempo real. (RAMAL, 2000, p.2).
Assim, transmuta-se o conceito de turma, como se conhece no ensino tradicional, limitada em função da faixa etária dos alunos. São grupos autônomos, que se interconectam através de chats, listas de discussão e comunidades virtuais. A inteligência coletiva é “incessantemente valorizada, coordenada em tempo real, que resulta em uma mobilização efetiva das competências” (LÈVY, 1998). Segundo Ramal (2000, p.2) formam-se “parcerias, pesquisas cooperativas, groupwares que produzem conhecimento e trocam ideias, estas são algumas das múltiplas possibilidades dessa modalidade educacional flexível, aberta e interativa”.
Na EAD, o tempo está a favor do aluno. Ele estuda a qualquer hora em qualquer lugar. A obrigatoriedade da presencialidade na educação tradicional vem significando salas de aulas cada vez mais esvaziadas pois o aluno não dispõe de tempo de seu dia para ficar 4 horas à disposição da instituição de ensino. Individualmente esta tem sido declaradamente a grande vantagem da EAD, pois traz a possibilidade de respeito aos ritmos e necessidades de cada um.
Renasce a prática de leitura e escrita (Ciberescrita), forma básica de comunicação via web. Conforme Ramal (2000, p.4) “A leitura monológica dá lugar, na navegação hipertextual, à polifonia – são muitas vozes, olhares diversos, espaço para todas as leituras e interpretações possíveis.
Mas toda a escolha tem seu preço e os desafi os são enormes nesta nova modalidade de ensino. Vamos a eles!
Resumo
Enumerando as vantagens da EAD:
- Respeito ao ritmo e disponibilidade de tempo de cada aluno.
- Universalização do ensino.
- Modalidade educacional flexível, aberta e interativa.
- Renasce a prática de leitura e escrita (Ciberescrita), forma básica de comunicação via web.
Superando os desafios
Por ser uma modalidade que só apresenta viabilidade econômica se trabalhada com larga escala (muitos alunos), é possível que a relação entre professores e estudante comprometa a interatividade, elemento de sustentação da qualidade do processo ensino-aprendizagem da EAD. Este é um desafio que terá que ser enfrentado se não quisermos cair na armadilha da massificação do ensino de baixa qualidade. Como corolário deste desafio surge a afetividade. A distância física não deverá isolar o aluno do professor. A interatividade, sempre presente, resgata a relação afetiva entre os sujeitos da educação, dificultando o sentimento de isolamento e de solidão tão declarados em pesquisas sobre evasão. A afetividade ajuda a constituir a identidade do sujeito, tomando como base o pensamento do educador Piaget, o conceito de turma aberta pode inibir esta relação tão cara à educação de uma maneira geral. Há de se preocupar com este aspecto que ajuda enormemente na integração e no conceito de coletividade. Portanto, quanto maiores as turmas, mais difícil será cultivar as relações de afetividade.
Um outro desafio também inquieta aqueles que apostam no sucesso desta nova modalidade de ensino: a avalanche de informações que se capta através da rede, pode assumir um papel estéril, ou seja, desprovido do conteúdo necessário para a construção do conhecimento e, portanto, da aprendizagem. Como sistematizar as informações, como separar o joio do trigo? Mais uma vez recorremos ao precioso papel do planejamento pedagógico, amarrando as pontas, fornecendo critérios e definições. Apropriar-se desta nova avalanche de linguagens e símbolos é crucial para nortear o ensino propiciando “uma nova forma de pensar o mundo”. Nos dizeres das professoras Lynn Alves e Cristiane Nova (2003), “…um novo tipo de linguagem acaba gerando uma nova forma de pensar o mundo, de estruturar relações, dado que a mensagem é também o meio” (ALVES, Lynn e NOVA, Cristiane, 2003).
E o papel do professor? Ele terá que se reorientar para assumir um novo papel? De fato, ao romper com a postura de controle do saber, o professor deverá se orientar para abertura ao diálogo e à troca de informações. Na acepção da professora Ramal (2000,p.3) “está nas mãos dos professores a criação do espaço para o diálogo amigo, a discussão coletiva, a partilha dos sentidos”. A construção do saber numa perspectiva on-line requer do professor um olhar multirreferencial, que envolva a reflexão e a crítica do âmbito político, porque intervém na prática social, técnica e humana.
De fato, pode-se estruturar em três movimentos a presença do professor no processo de mediação em EAD: na intervenção, no encaminhamento e na devolução. São elementos constitutivos da ação de aprender e ensinar. Para uma concepção pedagógica democrática e construtivista, a ação de intervir é a de instigar, provocar a reflexão, o que requer do professor um planejamento prévio de suas intervenções no grupo (na turma virtual). Problematizando o tema, o professor estará preparando a turma para a construção do conhecimento. A ação de encaminhar são as propostas de atividades, as tarefas relacionadas à problematização elaborada na primeira ação (a de intervenção). Através dos encaminhamentos, o educador organiza o caminho do pensamento. Ou seja, é quando promove a interação do sujeito da aprendizagem (o educando) com o objeto da aprendizagem (o conteúdo da disciplina). A devolução é o retorno da atividade, é a resposta às dúvidas dos educandos com o objeto da aprendizagem. A devolução oferece esclarecimento teórico para a compreensão do que vinha sendo trabalhado desde as primeiras intervenções. Identificar os pontos críticos das discussões, apaziguando e fazendo comentários seja criticando, ou mesmo, sugerindo um novo posicionamento de cada um, valorizando o trabalho apresentado pelos participantes do curso. O feedback é um elemento de extrema importância para nortear a aprendizagem e elevar a auto – estima do educando. Ao mediar e estimular o debate e a reflexão o professor estará contribuindo para a motivação do aluno, para a sua sensação de pertencimento e de socialização.(RAMAL, 2000)
Discutem-se, ademais, as dificuldades de avaliação. É sabido que na educação tradicional, a avaliação normalmente ocorre ao final do processo, caracterizando-se por ser um instrumento de pressão e controle para o professor. Mas na EAD é possível, a depender do tamanho das turmas, que se insira um tipo de avaliação processual que avalie o desenvolvimento do aluno através de uma visão também multirreferencial, verificando suas contribuições nos fóruns de discussão, sua participação nos trabalhos coletivos e porque não na auto – avaliação, uma vez que o perfil do aluno que busca a educação continuada deveria ser aquele que valoriza a autonomia e a responsabilidade.
Contudo, a maior liberdade nos processos de avaliação conduz aos desafios relacionados à credibilidade . Ramal (2000,p.5) nos lembra que:
Na época do ensino por correspondência, era difícil a credibilidade pública de cursos nos quais as provas eram realizadas em casa, sem a vigilância do professor. Agora o problema da credibilidade, queiramos ou não, ainda se faz presente. A legitimidade da EaD deverá ser conquistada através de estratégias inteligentes, que envolverão testes on-line, acompanhamento personalizado e novos conceitos de avaliação, na qual passem a ser medidas, mais do que a memória e a assimilação de conteúdos, as competências desenvolvidas ao longo do processo.
Avaliar o desenvolvimento das competências do alunado requer antes de tudo um professor melhor capacitado, capaz de perceber, através da linguagem escrita, eivada de signos e símbolos, se houve de fato construção de conhecimento. Na docência on-line, esta percepção se desenvolve eminentemente a partir das interações, da capacidade argumentativa dos alunos e de sua contribuição para o saber coletivo. É um exercício que requer uma dedicação do professor, acreditamos, muito maior e mais sensível que na educação tradicional.
Para refletir à guisa de conclusão
A EaD insere-se, portanto, num novo cenário, com novos sujeitos, processos, linguagens e relacionamentos. Neste sentido, como ressalta Ramal (2000, p.6)
Dominar as linguagens, compreender o entorno e atuar nele, ser um receptor crítico dos meios de comunicação, localizar a informação, utilizá-la criativamente e locomover-se bem em grupos de trabalho e produção de saber são saberes estratégicos para a vida cidadã no contexto democrático.
Aprender hoje significa romper com o passado, significa relacionar-se com algo imaterial, flexível, fluido. Construir um conhecimento na base da intangibilidade requer rupturas, uma nova aculturação. “Os suportes digitais e os hipertextos são, a partir de agora, as tecnologias intelectuais de que a humanidade passará a se valer para aprender, interpretar a realidade e transformá-la” (RAMAL, 2000,p.6).
Por tudo até aqui exposto nos parece ser muito complexo desenvolver e fazer um curso a distância, tanto para a instituição, para os professores, quanto para os educandos. Não basta transpor um modelo tradicional e postá-lo num ambiente virtual sem rever a prática pedagógica. Por isso a EAD é conceituada como uma nova modalidade de ensino, o que implica em quebra de paradigmas educacionais.
Nesse sentido, surge a figura de um novo profissional: o instrucional designer que, segundo Ramal (2000,p.6) “é responsável por analisar as necessidades, projetar os caminhos possíveis de navegação [em rede]. Trata-se de um estrategista do conhecimento”. Contudo, ele sozinho não é a solução, há de se construir um eficaz planejamento pedagógico voltado para a uma concepção democrática e construtivista que garanta o sucesso do processo ensino-aprendizagem e desfazendo os mitos que esta nova modalidade de educação pretende ilusoriamente revelar.
Síntese: O tema “Limites e Potencialidades da EAD” enumerou algumas vantagens e desvantagens da modalidade EAD, ressaltando que a superação dos desafios está em conscientizarmos que de trata-se de uma quebra de paradigma na educação, onde o fomento à interatividade é o conceito-chave.
Atividade: Ler as aulas ministradas até aqui para, na próxima aula discutirmos e tentarmos responder a pergunta “É fácil estudar em EaD?”. A discussão será a seguinte: um aluno é sorteado e este tem até 5 minutos para responder e justificar a pergunta.
Fim da aula 03